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Damas e vagabundos – por Bianca Zasso

O título acima deve ter feito muitos leitores pensarem que o assunto da coluna de hoje seria o clássico A dama e o vagabundo, criado por Walt Disney na década de 50. Nada contra a beleza da animação sobre o affair canino entre uma cadelinha de raça e um vira-lata, mas hoje vamos tratar de amores mais sérios, mais complicados e mais inesperados.

Uma pesquisa realizada por alunos do Albion College, nos Estados Unidos concluiu que quanto maior o interesse de um casal por filmes protagonizados por casais perfeitos e felizes, bem ao estilo comercial de margarina, maiores são as chances do relacionamento não dar certo. Não quero desmerecer o empenho dos pesquisadores, mas essa descoberta pode ser notada no cotidiano. Basta ativar os sentidos para perceber que quanto mais uma mulher é encantada com comédias românticas, mais infeliz no amor ela é. Até os homens entraram na história. Poucos, mas entraram.

Porém, nem tudo é um mar de lágrimas no chamado mundo real. Assim como milhares de filmes vendem a ideia de que há um amor supremo, inabalável e que vai nos deixar com os olhos brilhando pelo resto da vida, há também produções que buscam inspiração em relacionamentos mais verossímeis e, por isso mesmo, mais frágeis e inconstantes. Não estou fazendo apologia ao sofrimento, cinema foi criado antes de tudo para ser um modo de entretenimento, de fuga da realidade. É ótimo esquecer os problemas diante de um amor à lá conto de fadas, mas casais de carne, osso, alma e sentimento também podem emocionar.

Toda vez que sou repreendida por não gostar de filmes muito românticos, utilizo o mesmo argumento. Uma historinha que parece boba, mas que é bem significativa. Eu devia ter uns15 anos quando li o livro de Erich Segal que depois virou roteiro de cinema e filme de sucesso. Love Story, lançado em 1970, segue a linha pessimista da década e narra a trajetória de um casal de estudantes vividos por Ali McGraw e Ryan O’Neil. No final, depois de muitas brigas, crises e desafios, a mocinha morre vítima de leucemia.

Mesmo com o sucesso de público, o filme causa revolta por acabar de uma maneira triste, com o mocinho sozinho em um parque coberto de neve. Ora, é mais fácil encontrar alguém desiludido em um parque do que patinando feliz ao som de alguma canção clássica. Aliás, nós passaremos muito mais tempo desiludidos do que cantando por aí. É a vida. O cinema vai lá, capta o que ela tem para oferecer e transforma em arte.

Antes de tudo, amores reais no cinema servem para nos mostrar que há beleza no rompimento, nas diferenças e até no erro. Amores acabam e amores começam. Essa ciranda é que dá graça aos nossos dias. Viver feliz para sempre deve ser chato demais. A lista abaixo mostra uma seleção de filmes para ver com o coração aberto e livre da síndrome de princesa, que até mesmo Disney, o mago delas, fez questão de contestar. Nós somos muito mais parecidas com a cadelinha Lady do que com a Cinderela.

 

– Namorados para sempre (Blue Valentine) – Dir. Derek Cianfrance

– Encontros e desencontros (Lost in translation) – Dir. Sofia Coppola

– Sabrina – Dir. Billy Wilder

– A princesa e o plebeu – Dir. William Wyler

– A noite – Dir. Michelangelo Antonioni

– A flor do meu segredo – Dir. Pedro Almodóvar

– Tudo começou no sábado – Dir. Karel Reisz

– Noivo neurótico, noiva nervosa – Dir. Woody Allen

– Amor à flor da pele – Dir. Wong Kar-Wai

– Um dia – Dir. Lone Scherfig

– Closer – Dir. Mike Nichols

– Duelo ao sol – Dir. David Selznick

– Desejo e reparação – Dir. Joe Wright

 

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