Claudemir Pereira

ENCONTROS. Pylla Kroth e os saudosos e emocionantes momentos de uma noite em Sta Maria

“Como de costume, saio caminhar com meu cachorro todas as noites após a refeição – ele está velhinho e gordinho e precisa fazer um exercício, e esta é uma boa desculpa pra mim acompanhá-lo e tentar sair um pouco do meu sedentarismo – quase não passo mais por magro “fisicamente” falando.

Nos primeiros cinqüenta metros de caminhada, a primeira parada. Um senhor grisalho me interrompe e pergunta:“tu não és o Pylla?”, “sim, sou o Pylla” e ele começa me contar uma história marcante na sua vida de quando tinha seus 15 anos e eu havia lhe recrutado na escola Pão dos Pobres para me auxiliar em minha oficina de serigrafia a fim de confeccionar sacolinhas de supermercados, quando esse tipo de impressão em série quase não existia por aqui e a impressão era manual. Minha cabeça voltou no tempo, olhei bem nos olhos daquele senhor e visualizei aquele menino, as rugas estavam apenas em seu rosto, mas não em sua alma, hoje velho caminhando com sua esposa e filhos, vivendo bem sucedido e dos dias difíceis que passamos juntos em busca de uma vida melhor. Nos abraçamos e nos emocionamos, eu um cantor, e ele agora um enfermeiro. Na verdade, eu sempre cantor, como ele fez questão de frisar. Trabalhávamos cantando. Lembramos até de algumas que cantávamos juntos. Um momento gostoso de lembranças.

Nos despedimos, dou uma respirada saborosa, sigo mais uns dez passos, e sou interpelado novamente, desta vez por um velho amigo também irreconhecível na aparência, tamanha foram as tragédias na vida dele, pois ele foi um dos soldados chamados na noite trágica do incêndio da boate Kiss. Relatos íntimos de tirar meu fôlego, ele foi um dos primeiros a adentrar na boate. Eu nunca tinha tido a oportunidade de conversar com alguém que entrou lá naquela noite, frouxou minhas pernas ao ouvi-lo. Por último, ele já em lágrimas me falou “fiz o que pude, Pylla, mas não estávamos preparados pra socorrer um acontecimento terrível daqueles, e gostaria que ao menos você me perdoasse, esse perdão catalizador que cria a ambiência necessária para uma nova parida, para um reinicio. Trabalhas na noite e teu perdão é muito importante pra mim”. Caracas! Juro que nessa hora senti coisas estranhas ao meu redor e em meu corpo, vozes de compaixão e de perdão. Quem sou eu para julgar ou condenar quem quer que seja? Os detalhes do meu sentimento naquela hora não cabe aqui escrever. Mas abracei ele e lhe dei o meu perdão, era isso que eu tinha pedido aos deuses na virada do ano, perdão e compaixão; foram segundos que duraram horas, talvez vidas, fato que em todo caso não cabe a mim julgar, quem sou eu pra tal perdão? Coisas que nunca tinha me passado desde aqueles dias fatídicos. Aos choros e sorrisos me despeço, sinto meu corpo pesado, minhas pernas travaram…”

CLIQUE AQUI para ler a íntegra da crônica “Uma Vida Em Cem Metros”, de Pylla Kroth. O autor é considerado dinossauro do Rock de Santa Maria e um ícone local do gênero no qual está há mais de 34 anos, desde a Banda Thanos, que foi a primeira do gênero heavy metal na cidade, no início dos anos 80. O grande marco da carreira de Pylla foi sua atuação como vocalista da Banda Fuga, de 1987 a 1996. Atualmente, sua banda é a Pylla C14. Pylla Kroth escreve semanalmente neste espaço.

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