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IGREJA E… Arcebispo católico da capital sem travas: critica Temer e a “dilapidação do patrimônio nacional”

Dom Jaime Spengler, ao jornal eletrônico SUL21: “o que mais precisamos hoje, diante da situação nacional – e eu diria também eclesial – é o caminho que o discernimento propõe”. E ainda: “há sinais de uma crise muito forte que marca a vida das instituições e do nosso povo”

No jornal eletrônico SUL21, por MARCO WEISSHEIMER, com foto de Guilherme Santos

Em 2013, o catarinense Jaime Spengler tornou-se o arcebispo mais jovem do país ao assumir, aos 53 anos, a Arquidiocese de Porto Alegre. Nos últimos quatro anos, Dom Jaime Spengler vem exercendo suas atividades religiosas como arcebispo sem deixar de se manifestar sobre a situação pela qual passa o Brasil. No último dia 25 de dezembro, Dom Jaime criticou as declarações feitas na noite anterior, na mensagem de Natal de Michel Temer, falando que a vida do povo estava mais barata. “Quem diz que a vida está mais barata não vive a realidade do nosso povo”, afirmou o arcebispo em entrevista à rádio Gaúcha.

No dia 12 de dezembro, Dom Jaime Spengler enviou uma mensagem ao Ato Em Defesa da Soberania e do Patrimônio Nacional, realizado na Assembleia Legislativa, criticando a “dilapidação do patrimônio nacional” e a “entrega das riquezas naturais à exploração desenfreada de empresas multinacionais, que olham para nossos bens naturais apenas com o olhar da ganância e da avareza”. E, no dia 26 de abril deste ano, divulgou nota apoiando as paralisações da greve geral convocada por centrais sindicais e movimentos sociais contras as reformas da Previdência e Trabalhista.

Em entrevista ao Sul21, o arcebispo de Porto Alegre fala sobre a conjuntura nacional e sobre os desafios colocados para a Igreja Católica no atual cenário. Para ele, há duas coisas centrais faltando no país: discernimento e um projeto de nação. “Há décadas ouvimos que o bolo precisa crescer para depois ser repartido. No entanto, há anos, acompanhamos a realidade da pobreza e da miséria que só crescem. A repartição do bolo sempre fica pra depois. Hoje, no Brasil, temos uma porcentagem muito pequena da população concentrando a maior parte da riqueza em suas mãos. Quando esse bolo será repartido? – questiona Dom Jaime Spengler.

Sul21: Nos últimos meses, o senhor fez várias declarações sobre questões relacionadas à conjuntura política e social do país. Na mais recente delas, o senhor criticou a mensagem de Natal de Michel Temer, onde este afirma que está mais barato viver no Brasil. Qual sua avaliação sobre a situação que o país está vivendo?

Dom Jaime Spengler: Creio que estamos vivendo um momento muito complexo da história do Brasil. Há sinais de uma crise muito forte que marca a vida das instituições e do nosso povo. O que vemos e testemunhamos no nosso cotidiano é a realidade dura e difícil do nosso povo, a realidade do desemprego, da violência e de serviços básicos que não satisfazem as reais necessidades da maioria da população.

Na tradição cristã existe um princípio que eu creio deva ser aplicado ao momento que estamos vivendo. É aquilo que normalmente se chama de discernimento. Segundo a tradição cristã, o discernimento pressupõe três coisas. Em primeiro lugar, a compreensão e o estudo das questões que estão em jogo. A segunda é rezar essa realidade. Essa dimensão para nós, cristãos, é fundamental. E a terceira é a disposição para o diálogo. Por meio do estudo pormenorizado do que está diante de nós, do saber rezar essa realidade e do diálogo podemos desenvolver a capacidade de discernimento. Talvez o que mais precisamos hoje, diante da situação nacional – e eu diria também eclesial – é esse caminho que o discernimento nos propõe.

Sul21: O senhor usou a expressão “rezar essa realidade”. A ideia da oração é normalmente associada a uma atividade voltada para o interior de cada pessoa. O que significa exatamente “rezar a realidade”?

Dom Jaime Spengler: A oração sempre expressa aquilo que vivemos, seja interiormente ou exteriormente. A fé não é algo simplesmente privativo. Ela toca, sim, a vida privada, mas ela também deve repercutir a realidade vivida na sociedade. Eu sou membro de uma sociedade e é nela que, cada um de nós, é chamado a testemunhar aquilo que acredita. É neste contexto social e histórico que vivemos, que cada batizado é chamado a ser sal da terra, luz do mundo, fermento na massa, isto é, agentes de transformação dessa realidade para melhor. A oração é um meio privilegiado para encontrarmos indicações para a superação de realidades que precisam ser superadas. Hoje nós vivemos uma crise grande também de vida espiritual. Nos tornamos pragmáticos demais, o que tem lá sua necessidade, mas não podemos jamais a dimensão contemplativa da vida.

Sul21: Nós últimos anos temos assistido no Brasil, e no mundo de forma geral, ao crescimento de uma cultura do ódio, da intolerância e da violência, que se manifesta muito hoje nas redes sociais e também na vida cotidiana. Como o senhor analisa esse fenômeno?

Dom Jaime Spengler: Essa polarização vem sendo construída há décadas. O discurso do nós e eles, nós e os outros. Isso foi fomentando aos poucos, no interior da sociedade, essa polarização que vemos diante de nós hoje e que dificulta qualquer possibilidade de diálogo entre os diversos setores que compõem essa sociedade. Somente a construção de espaços de diálogo entre pessoas verdadeiramente interessadas em cooperar para deixar a nossa realidade um pouco melhor para os que virão depois de nós pode trazer mais vida para a nossa gente. A polarização não ajuda e hoje isso está muito acirrado entre nós. Não é “culpa” do momento atual que estamos vivendo, mas a expressão de uma situação vem sendo alimentada há anos.

Como fazer para superar essa situação? Somente pessoas dispostas a se reunirem ao redor da mesa e dialogar a respeito de temas comuns, dispostas verdadeiramente a colaborar de alguma forma para construir a possibilidade de dias melhores para o nosso povo…”

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