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TECNOLOGIA. Aplicativo criado na UFSM vai auxiliar agentes de saúde no combate à leishmaniose canina

Por Lucas Casali / UFSM

Uma doença que afeta tanto o homem quanto o seu melhor amigo tem sido motivo de preocupação em Santa Maria, principalmente na região norte da cidade. Desde abril do ano passado, já foram identificados no município 17 casos de cães infectados por leishmaniose visceral, doença que é transmitida pelo flebotomíneo (Lutzomyia spp.), inseto que popularmente é conhecido por nomes como birigui ou mosquito-palha – embora não pertençam à mesma família dos mosquitos. Através da picada, os flebotomíneos transmitem protozoários parasitas do gênero Leishmania, causadores da doença. A forma visceral é a mais grave da leishmaniose, podendo causar a morte tanto de pessoas como de cachorros. Nos seres humanos, ela também se manifesta na forma tegumentar (cutânea ou mucocutânea).

Embora os sintomas variem, os sinais mais visíveis nos cães infectados por leishmaniose são o crescimento anormal das unhas, queda de pelo ao redor dos olhos, inchaço nas articulações, emagrecimento e aumento dos linfonodos – pequenos órgãos que atuam na produção de anticorpos, também conhecidos como gânglios linfáticos.

Vinculada à Secretaria Municipal de Saúde, a Vigilância Ambiental é o órgão responsável pela identificação de focos da doença em Santa Maria. Para isso, conta com o apoio do Laboratório de Doenças Parasitárias (Ladopar) da UFSM. Atuante no Ladopar, uma das acadêmicas envolvidas no trabalho é Jaíne Soares de Paula Vasconcellos, doutoranda em Medicina Veterinária. Sob a orientação do professor Luís Antônio Sangioni, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, ela está desenvolvendo, em conjunto com o Laboratório de Geomática, um aplicativo para telefone celular que vai auxiliar o trabalho da equipe de saúde envolvida no combate à doença.

Atualmente os fiscais da Secretaria da Saúde precisam preencher fichas de papel relativas aos cães monitorados e às armadilhas para capturar os flebotomíneos. O aplicativo, previsto para ser usado ainda neste semestre, eliminará a necessidade de papéis para o preenchimento das informações e vai enviá-las diretamente para uma central de dados na UFSM.

No aplicativo, os profissionais da Vigilância Ambiental poderão registrar fotos dos cães examinados e do ambiente onde vivem, assim como as suas características gerais: endereço, nome do animal e dos proprietários, sexo, idade, raça, tipo e cor da pelagem. Mesmo que se trate de um cão de rua, os fiscais poderão registrar no aplicativo, por meio de GPS, o local onde foi encontrado, incluindo as coordenadas geográficas e referência no Google Maps.

Quanto ao quadro clínico, além dos sintomas mencionados acima, os profissionais de saúde vão informar no aplicativo se os cachorros apresentam descamação, ulceração, inflamação nos olhos, coriza, apatia, diarreia, hemorragia intestinal e vômito. No banco de dados, serão registrados ainda se foi coletado sangue (ou outros tipos de amostra do animal) para exames e o resultado dos mesmos.

Como a leishmaniose é uma doença que pode se espalhar para municípios vizinhos, o aplicativo poderá ser usado gratuitamente pelas equipes de saúde de outras cidades, que assim têm a possibilidade de compartilhar entre si as informações coletadas. Para obter o aplicativo, as prefeituras interessadas deverão entrar em contato com o Laboratório de Geomática da UFSM.

Características e tratamento – Doença endêmica em diversas regiões do mundo, ocorrendo principalmente em países tropicais e subtropicais, a leishmaniose pode apresentar características diferentes dependendo de cada país ou região, principalmente no que se refere aos hospedeiros do protozoário, aos insetos transmissores e aos subgêneros mais comuns do parasita Leishmania.

No Brasil, o inseto transmissor é a fêmea do flebotomíneo – os machos não se alimentam de sangue. Os cães são os principais “reservatórios” dos protozoários nas áreas urbanas, embora eles também possam hospedar-se em raposas, roedores e outros mamíferos silvestres.

Após a contaminação do cão pelo parasita, a leishmaniose pode demorar meses ou mesmo alguns anos para se manifestar. No entanto, quando isso acontece, a doença é quase sempre letal se não for tratada. Jaíne explica que não é obrigatória a eutanásia dos cães infectados por leishmaniose. A morte induzida do animal justifica-se apenas em alguns casos, quando a doença atinge um estágio avançado.

Porém, muitas vezes esses animais infelizmente acabam sendo sacrificados, já que a medicação para o tratamento é cara e com frequência os proprietários não têm como pagar. O aparecimento da doença não causa constrangimento apenas para os donos dos cães. Jaíne conta que, quando diagnosticam um cão com leishmaniose, alguns médicos veterinários não notificam a Secretaria da Saúde – o que é obrigatório – com medo de que tenham de proceder a eutanásia.

Em anos anteriores, a prática comum da eutanásia nesses casos também se explicava pela ausência de medicamentos para uso veterinário. Com relação à leishmaniose, os ministérios da Saúde e Agricultura proibiam a aplicação de medicamentos humanos em cães, com a justificativa de que os parasitas poderiam adquirir resistência ao remédio. Somente em 2016, foi liberada a comercialização do antiparasitário Milteforan para uso exclusivo em cães.

Junto com a aplicação oral do remédio, recomenda-se o uso de coleira antiparasitária no cão contaminado. O tratamento durará até que os testes sanguíneos acusem uma carga parasitária insignificante. Já que o tratamento não tem o poder de eliminar totalmente a Leishmania, a quantidade de parasitas no organismo do cachorro terá de ser monitorada pelo resto de sua vida.

Nas pessoas com leishmaniose visceral, os órgãos mais afetados são o fígado e o baço, o que provoca o inchaço do abdômen. O diagnóstico pode ser difícil, pois sintomas variantes (como febre alta, perda de peso, fraqueza, cansaço, anemia, palidez, infecções frequentes e sangramento nas mucosas) podem ser confundidos com os de outras doenças. Na forma tegumentar, menos grave e mais comum, a doença provoca feridas espalhadas na pele e, ocasionalmente, o inchaço dos linfonodos. O tratamento varia, dependendo do tipo de leishmaniose.

Prevenção – Como os flebotomínoes vivem em ambientes úmidos ricos em matéria orgânica (incluindo lixo orgânico), é de fundamental importância a limpeza do local onde o cachorro vive. Para prevenir o aparecimento da doença, recomenda-se o uso da coleira antiparasitária, que protege ainda contra pulgas e carrapatos. Também estão disponíveis no mercado vacinas contra a leishmaniose visceral canina.

Os flebotomíneos não voam grandes distâncias. Um dos seus habitats preferidos são áreas próximas a matas. Para quem vive nesses locais, recomenda-se o uso de repelente e a instalação de redes – que precisam ser bastante finas – nas janelas. Esses insetos são ativos principalmente à noite, e também ao escurecer e no clarear do dia. Embora tenha hábitos noturnos, eles são atraídos pela claridade. Para capturá-los, está prevista para a próxima semana a instalação de armadilhas, compostas por luz elétrica e rede coletora, em pontos estratégicos da cidade.

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