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Quando o carnaval chegar – por Bianca Zasso

Fora os que já iniciaram as comemorações no final de semana passado, amanhã é dia de, como diria aquela canção, botar o bloco na rua. Esta que vos escreve não consegue lembrar da última vez que fez das marchinhas e confetes a sua diversão. Até porque, isso deve ter sido lá na primeira infância. Minha escola preferida sempre foi o sofá e meu carro abre-alas o videocassete e, mais atualmente, o DVD e as plataformas de streaming. Não estou só nesta escolha. Os leitores deste site acompanharam as ótimas dicas do meu colega jornalista Maiquel Rosauro para quem também quer desfilar entre os Unidos da Sétima Arte. A preparação para os quatro dias de folia cinematográfica fez com que esta colunista relembrasse um ritual que não existe mais: a ida às locadoras antes de feriados prolongados.

A geração que está crescendo agora, acostumada a ter seus filmes há um botão de distância, talvez considere ficção científica algo que eu e muitos que compartilham da minha idade viviam a cada folga. De bicicleta ou à pé (ah, as vantagens da cidade pequena!) chegava-se até um lugar com prateleiras lotadas de filmes, onde o corredor mais disputados era o dos lançamentos. Isso porque não tinha YouTube para ver teaser nem trailer e nenhuma cena vazava. Se um filme não chegava às salas de exibição mais próximas, o jeito era esperar a tão aguardada fita chegar nas locadoras. E era um tal de reserva ali, espera daqui, que os mais doentes (como eu!) chegavam a fazer plantão e chegar quase junto com o VHS no local. Sim, eu descobri o horário das distribuidoras. Me julguem. E quando os lançamentos acabavam sempre haviam os clássicos, aqueles que o atendente já olhava pra você com cara de “outra vez esse?”.

Clássicos. Palavrinha que não classifica apenas os filmes, mas tudo que os cercava nos idos dos anos 90. Isto porque a locadora não era apenas um lugar para alugar filmes. Você fazia amigos, inimigos, descobria atores, diretores, debatia e ia além do cinema. Esta troca, que para mim é a base da cinefilia, não acontece mais. Os mais modernos dirão que o Facebook é o lugar para as trocas atuais, mas eu discordo. Sem olho no olho, escondidos atrás de suas telas, não há como haver uma troca. Não estou duvidando de amizades nascidas na internet, conheço vários casos. Mas o ambiente da locadora, com seu cheiro, suas cores e sons, foi trocado por uma lista na Netflix ou uma sessão solitária diante de um torrent que levou dias para ser baixado. Um filme solitário na madrugada tem o seu valor, mas confesso que tenho saudades de dividir sessões com meus amigos, com direito a comentários que duravam o dobro do filme.

Talvez eu esteja ficando velha e ranzinza antes da hora ou tenha guardado na lembrança apenas a parte boa da história. Logo eu, que sempre odiei que usa frases como “no meu tempo é que era bom”. Agradeço a tecnologia todos os dias, pois foi graças à ela que tive acesso a maioria dos filmes que mudaram o meu olhar. Mas não posso fugir da saudade de perder um bom tempo olhando filmes pelo puro prazer de ler sinopses ou de admirar as capas dos meus preferidos como se fossem fotos de um momento bom. Amanhã, quando os primeiros tamborins tocarem, pode ser que eu demore mais do que o necessário para escolher o que vou assistir. Vou brincar de locadora. Não me leve a mal, é carnaval.

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