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Crime ao vivo – por Pylla Kroth

Tempos atrás, achava que a melhor maneira de melhorar as coisas era “escancarar” o problema, principalmente em se tratando de público, político, social. Sempre tive a oportunidade que todo artista tem de ter a platéia atenta na escuta e, lidando com o Rock que sempre foi um movimento de manifestação de várias gerações na luta pela liberdade, ora na batalha contra a exploração das minorias oprimidas, operários ou contra eventos de racismo ou o desprendimento da ideias dos pais, etc, assim o fiz, em cima do palco ou em entrevistas. E algumas vezes sutilmente, em outras não, também nas letras de minhas próprias canções.

E confesso que foram vários os momentos em que consegui, junto de meus companheiros, alcançar alguns objetivos positivos significativos na sociedade. Não cabe aqui citá-los, pois não seriam facilmente em poucas linhas.

Mas hoje estamos vivendo em outro mundo e me parece que à medida em que envelhecemos (os últimos dez anos aparentam ter passado mais rápido do que décadas anteriores as quais parecem ter durado mais!) já não ouço mais o “tic-tac” das horas e mais rápido que o rodar do planeta é o desenvolvimento tecnológico e seus avanços à velocidade da luz.

Isso tudo me assusta, mas tenho que me curvar e como não é do meu feitio “fugir da raia”. Em 2010 ingressei nas rede sociais e no Facebook em especial. Sempre usei essa ferramenta pra divulgar meus trabalhos em fotos e textos, outras vezes em publicações de momentos de encontros e reencontros com a amigos e familiares e de sofrimento conjunto social. Sempre tive cuidado no que escrevo e em que conversas e opiniões interajo. Já não gosto mais de polêmicas e às vezes dou uma coçada dos dedos para não responder tantas bobagens publicadas. Política e futebol é melhor passar batido nas conversas, por exemplo. Muito raramente e dependendo de quem é o post vale a pena dar uma brincada a título de descontração, mas mesmo assim ultimamente até disso me resguardo! Os sem noção andam a solta e se deliciam com isso. Fazem até lembrar as velhas fofoqueiras da minha pacata cidade no interior, que quando não tinham um blá-blá-blá ficavam desoladas e tristes.

No dia 3 de março Santa Maria amanheceu com notícias tristes e pesadas de violência, onde uma família e mais uma pessoa na rua foram vítimas de um psicopata ou sei lá eu como definir aquele assassino.

A verdade é que minhas pernas tremeram e a última vez que tive essa sensação de impotência e fragilidade foi no fatídico 27 de janeiro de 2013, quando ocorreu a tragédia na Kiss. Esperei um pouco para tentar assimilar tamanhas atrocidades e automaticamente entrei nas redes sociais para ver se encontrava alguma notícia atualizada que pudesse me acalmar um pouco. Mas as coisas só pioraram. “Eita, noite infernal”! Todas vítimas eram meus conhecidos e queridos por mim.

Preso a essa terrível sensação, comecei escrever um post e a primeira palavra que me veio foi “Socorro!”, logo lembrei-me de uma letra da Banda FUGA chamada “Crime ao Vivo” que originou o segundo disco da saudosa banda. “Pra que eu grito? Quem é que vai nos proteger?” Simulei uma ligação para a Segurança Pública do Estado. Este post talvez seria o único que eu não gostaria de ter publicado, mas o desespero tomou conta, afinal estamos todos reféns da violência e da cumplicidade das autoridades políticas do nosso imenso Brasil e agora a violência de tudo o que falo esta batendo à nossa porta.

Medo….isso mesmo…MEDO! Pois houve uma reação de mais de 1.500 pessoas. E comentários e compartilhamentos às centenas!

Então me coloquei a pensar e refletir. Não quero em nenhum momento desmerecer a consternação das pessoas e suas demonstrações de solidariedade aos atingidos pelo terrível e chocante ocorrido. Jamais! Porém realizei o que venho observando há tempos nas redes sociais, que as notícias e posts que mais “viralizam” e recebem reações astronômicas são aquelas relacionadas às tragédias.

Entristece-me profundamente quando recebo a impressão de que o povo “gosta” de uma notícia ruim para ter o que comentar e sobre o que se manifestar e alguns o fazem com maestria, infelizmente. E é aqui que volto no texto quando me refiro ao blá-blá-blá das velhas fofoqueiras das quais o teor das conversas mais longas quase sempre começava com algo do tipo “mas vizinha… estás sabendo? Fulano morreu!” e lá vinha uma enxurrada de informações e era passada em resenha toda vida do finado e até de seus antepassados às vezes, e quanto mais detalhes “sórdidos”, mais longa e “interessante” era a conversa. Lamentável.

Ás vezes me parece que o mundo mudou tanto, que a tecnologia avançou tanto, que obtivemos tantos aparatos, mídias, aplicativos e possibilidades infinitas de comunicação instantânea, mas o velho “brucutú” paleolítico continua o mesmo, com sua natureza pérfida, dada à fofoca e à maledicência, que não vive bem sem uma intriga, ou pior, sem uma tragédia, já que foi de tragédia em tragédia ao longo de seus milhares de anos de existência que veio a evoluir.

Não vivemos num mundo perfeito e sabemos disso. Não é perfeito desde que o mundo é mundo, desde que, segundo contam as histórias de um certo livro sagrado, Caim, cheio de inveja e inclinação para o mal-fazer, assassinou à pedradas “no más” seu irmão Abel. Desde muito antes até, quando seus pais teriam quebrado as regras do que seria o mundo perfeito e foram dele expulsos. E depois disso então, se ergueram os filhos de Enoch e aprenderam a fazer fogo, encheram a Terra e espalharam suas muralhas guarnecidas, ascenderam cidades fortificadas, forjaram espadas e armaduras de bronze, se prepararam para a guerra, e mataram-se uns aos outros em fratricídios e carnificinas intermináveis que duram até o dia de hoje! Quando do topo das altas torres de Babel Nimrod lançou suas flechas para atacar e arrancar sangue da própria Divindade, a Terra era uma ferida aberta, supurada, e o fedor dela chegou até o céu e além das estrelas. Então sabemos o que aconteceu, não é?

O dilúvio, o aguaceiro, a inundação…às vezes penso se não é disso que a humanidade precisaria novamente. Uma boa chuva de quarenta dias e quarenta noites e todas as fontes secretas no interior da terra se abrindo e jorrando sua fúria nos ares, fúria divina e purificadora, enchendo a terra, lavando, lavando tudo embora, retornando ao Oceano Primordial. E então haveria paz. E silêncio. O aterrorizante silêncio universal, ele mesmo grandioso e magnífico, jamais tão assustador quanto o grito, o lamento das multidões de inocentes massacrados e daqueles deixados para trás inconsoláveis em suas perdas, este que deve fazer com que o Criador volta e meia queira cobrir as orelhas, e eu acho que cobre mesmo, de tão terríveis que se tornaram suas crianças humanas!

E agora me calo, pois não compreendo, e nem sei se quero compreender, pois toda vez que penso num mal tão grande quanto este me assombro com a efemeridade infinitamente pequena e a preciosidade incalculável do dom da vida. Num momento estamos aqui. E daí não estamos mais. Tudo o que temos é este segundo, este exato segundo e ele deve ser vivido com toda intensidade, pois nunca sabemos quando ele irá terminar, por força do destino ou – Deus nos livre de todo mal! – de forma terrível e injusta, não merecida, como foi o triste caso que relatei pouco antes.

Paz… grito e desejo neste instante. Desculpem o desabafo.

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