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ESPAÇO ALVIRRUBRO. Leonardo da Rocha Botega celebra a primeira vitória e os muitos dribles do jogo

O drible e a primeira vitória

Driblar! Para os estudiosos da língua portuguesa é um verbo, para os românticos resistentes é um sentimento. Driblar é dar um jeito e resolver as mazelas que a vida nos coloca. O drible é a essência do povo brasileiro. A maioria de nós dribla para sobreviver a uma estrutura social que, como dizia Cazuza, “já vem armada antes de eu nascer”.

Driblar a fome, a falta de moradia, a falta de educação, a passagem cara e o ônibus lotado. Driblar a falta de respeito dos Homens de Neandertal em relação as mulheres no futebol. Driblar até mesmo a falta de bom senso dos pseudo-intelectualizados de redes sociais que sempre tentam justificar o injustificável, acreditando em coisas que nem o Bilac Biruta (personagem da antiga Chico City) seria capaz de inventar. Na modernidade tardia, driblar a estupidez é o mais novo ato de resistência.

Domingo, 11 horas da manhã, com sol brilhando, eu vi muitos dribles. Vi alguns meninos da Fanáticos da Baixada mostrarem a alegria de quem driblou a perda do eterno maquinista. Vi pessoas humildes que driblam o baixo salário para pagar um ingresso. Vi amigos bem-humorados driblarem a tarefa de serem os churrasqueiros de domingo. Outros conseguiram driblar o horário e atrasaram um pouco o assado. Vi os nossos jogadores com o sangue nos olhos de quem queria driblar a falta de vitórias. O mesmo drible que muitos destes jovens meninos dão na saudade de casa e dos seus amores.

Contra o Santa Cruz o time driblou. O goleiro João Paulo driblou com as mãos o nervosismo do início do jogo e o sufoco do final com duas defesas fabulosas. Driblou a perda do lateral direito Padel que foi expulso aos 33 minutos em um lance que demonstrou a necessidade de driblar a péssima arbitragem do senhor Vinicius Bordin e os seus critérios indefinidos. Um desses critérios foi corrigido pelo auxiliar, que aos 35 minutos marcou pênalti no atacante Paulo Henrique, um menino nascido em Nilópolis – RJ, que usa a palavra fé como fortaleza para driblar os desafios da vida. Chiquinho (o ídolo de 10 entre 10 torcedores alvirrubros), que tem dado muitos dribles na idade e nas lesões, cobrou e abriu o placar. 1×0 e seguem os dribles!

O drible mais bonito do jogo (e o mais bonito que até hoje pude presenciar na Baixada Melancólica) aconteceu aos 43 minutos. Pablo na ponta esquerda segura a bola rolando levemente, chamando o marcador para dançar. E ele veio! Rapidamente, “El Mago Alvirrubro” (nome que credito ao Lucas Pires) faz a bola passar por trás de seu corpo e a projeta por entre as pernas do volante do galo Arthur Santos.

Um espetáculo típico de seu homônimo Pablo Picasso. Senti que um quadro foi pintado naquele momento. Pouco importa o resultado da jogada, como dizia o grande Dener, um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, “um drible é mais bonito que um gol”. O drible tem criatividade, audácia, ousadia e o nosso camisa 11 nos premiou com tudo isso. Que o vídeo deste lance se espalhe pelas redes sociais como um grito de “o futebol bonito ainda vive!”.

“El mago” Pablo ainda faria o segundo gol alvirrubro logo aos 3 minutos do segundo tempo. Por entre os gigantes zagueiros de Santa Cruz, o pequeno bailarino cabeceou para as redes um lindo cruzamento feito por Chiquinho. Saiu saltitando como alguns meninos de 4 ou 5 anos que nas arquibancadas festejavam mais uma história para contar para os amigos na escola. Ver uma família no estádio é mostrar que podemos driblar a violência.

Aos 15 minutos o Santa Cruz diminuiu, Paulão de pênalti. Mas isso pouco importa! Aos 30 minutos, Jardisson, o herdeiro da camisa 7 imortalizada por Guinga, driblou um, dois, três, o goleiro, chutou e viu a bola alcançar por capricho a cabeça do zagueiro André Bahia que impediu a realização de outra pintura. Nos últimos minutos, com o time cansado e com um jogador a menos, nossos zagueiros passaram a driblar as investidas do adversário a chutões comemorados como se fossem gols.

Em meio a esta resistência ainda deu tempo para Jackson, os 50 minutos, disparar driblar um, dois e chutar para fora no último lance de um jogo marcado pelos dribles. Entre eles o drible de torcedores que, como eu, driblavam o calor escaldante de uma sensação térmica de quase 40 graus. Torcedores que voltaram para casa com o suor alegre de quem viu o romântico bailado das pernas com a bola voltar a ser destaque na Baixada Melancólica.

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