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História sem fim – por Orlando Fonseca

Voltando à vaca fria, ou melhor, à guerra fria: Trump talvez não consiga destruir o mundo na forma convencional. Mas que pode abalar as estruturas, lá isso pode. Com as medidas que está pondo em curso, ameaça a concepção de um capitalismo global. O seu slogan de campanha, “América first”, nada mais era do que a antiga visão imperialista, que a ideia de blocos econômicos internacionais havia minimizado ao longo das últimas décadas, apesar dos pesares.

O histriônico presidente republicano, que também dizia em campanha querer fazer a “América grande outra vez”, está colocando em ação o projeto de inverter a lógica da globalização: para ser um país rico, não dá para pensar em todo mundo. Como se pode ver, como diria o velho Marx, o buraco do fim da história é mais embaixo. Esta anda em círculos, e acontece a primeira vez em tragédia, e a segunda em paródia. E nada melhor do que uma figura midiática como Trump para significar tudo o que há de paródico no que estamos a ponto de ver.

Na primeira metade do século passado, o Socialismo, como projeto de um regime hegemônico, perdeu força com a disputa entre stalinistas e trotskistas para firmar uma das teses: consolidar o regime do proletariado na URSS – o socialismo em um só país; ou internacionalizar a organização dos trabalhadores – a revolução permanente. Já no final do século XX, a globalização, com a hegemonia dos mercados internacionais, fez do Capitalismo um sistema ideal – ou idealizado. Com a queda do muro de Berlim, criou-se uma visão triunfalista do capitalismo, no alvorecer do novo milênio.

Impulsionadas pela facilidade de comunicação e transporte, com a formação de blocos econômicos, as transações comerciais ganharam a dimensão do Planeta, o capital financeiro passou a se movimentar e alastrar seu domínio, feito bactéria monetária. A globalização teve a sua “queda do muro” em 2008, com a grande crise financeira que derrubou potências econômicas nos EUA e Europa, criando metástases por todo mundo.

Suas fissuras ainda se podem sentir nas economias ao redor do Planeta. Já havia sido sacudida em 2001 pelo ataque ao World Trade Center, quando a ideia de prosperidade – que era para uns poucos, como sempre – indicava o caminho de um mundo de paz e felicidade geral. Os muitos não atingidos por esta visão não demoraram a reagir, e o ataque terrorista a um de seus símbolos triunfais não foi suficiente para interromper o curso da farra.

Na década de 90, o fim da história, com a supremacia do neoliberalismo, passou a ser uma tese recorrente. No entanto, é preciso recuperar que o Liberalismo do século XVIII foi revolucionário, pois lutava contra o pensamento feudal, contra a aristocracia esclerosada, ainda que esclarecida. Tornou-se hegemônico por ser fruto do século das luzes, do pensamento racional acima do mágico. O Neoliberalismo é conservador, pois resgata ao mercado o poder de feudo, o poder de discriminar a maioria em favor de uma minoria privilegiada; dispor sobre a vida da sociedade que se esforça para tornar maior a riqueza da minoria – 1% acumula a riqueza equivalente à da metade da população mundial, algo em torno de 3,8 bilhões de seres humanos.

A carne é fraca, como diria o engraçadinho setor da polícia federal encarregada de dar nomes aos bois, ou no mínimo, às operações contra a corrupção. No plano internacional, a quebra de um paradigma, por uma delirante autoridade da maior potência mundial, só acirra os ânimos de outros delirantes. Depois de Kim Jong-un e seu botão-vermelho de estimação, agora foi a vez de Putin, o Ras-putin da vez no neo-tzarismo russo, anunciar que tem um míssil poderoso: o mais poderoso entre os poderosos.

O que certamente vai provocar que os chineses, que, por enquanto estão bem quietinhos em seu comunismo de mercado, anunciar que têm dois mísseis grandões, para lançar um para o norte e o outro para oeste. Vem aí a guerra fria comercial. E assim será até o fim dos tempos, ou do dinheiro, o que terminar primeiro.  A história não tem fim ou, ao menos, não tem final feliz, ao que tudo indica.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem dos presidentes norte-americano e chinês é uma reprodução da internet.

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