Mulheres cansadas – por Bianca Zasso
Andamos cansadas. Pergunte para qualquer mulher. Até a que parece ser privilegiada, sem louça para lavar e com dinheiro suficiente no bolso, vai se considerar cansada. Isso porque mulheres reais carregam mundos nas costas: os delas e os de todos que a cercam e que, por criação ou pura preguiça, acreditam que esta é a sua função. Quando encontramos um pouco de paz, como aquele tempinho para ir ao cinema, nos deparamos com mais mulheres cansadas. Ou pelo menos esse deveria ser o panorama.
As mulheres do cinema, em especial o cinema mais comercial, aquele feito para vender pipoca cara e salgada, que por sua vez vende refrigerantes gelados, fazem de conta que estão cansadas. Ela se atiram em camas enormes e soltam um suspiro longo. Nem um sinal de olheira. Pele radiante. Um leve rosado nos lábios. Cílios gigantes. Estão exaustas, as pobrezinhas. E são elas que nos fazem questionar diante do espelho como podemos ser tão preguiçosas e porque não podemos ser como a nossa colega de trabalho que bate meta, é ótima mãe e ainda corre uma hora na esteira todos os dias? Hollywood, no seu grosso, pelo menos, nos apresenta as mulheres cansadas que gostaríamos de ser.
Hoje é mais um 8 de março, dia em que ganharemos rosas no trabalho, elogios do chefe, um cartão com dizeres que exaltam nossa força e determinação, quem sabe até um desconto no ingresso. Muitas de nós vão sorrir e agradecer. Mas continuarão cansadas, pois sabem que bastam as doze badaladas para voltarmos aos velhos hábitos e sermos tratadas como sempre fomos: seres extremamente competentes, mas que precisam se esforçar o dobro para chegar em lugares onde os homens chegam com bem menos gasto energético.
A cerimônia do Oscar, ocorrida no último domingo, foi como muitos dos que dão flores no dia da mulher: capricham no presente mas não o perpetuam. Saímos da premiação com poucos prêmios e muitos discursos em nosso favor. Todos escritos por assessores que pesquisaram muito para não causarem mal-entendidos. Estávamos no palco, apresentando e recebendo troféus, mas ainda sendo tratadas como exceção. Não queremos ser a primeira mulher a conseguir algo. Queremos ser mais uma na lista imensa.
Troquem os buquês por uma nova vida. Assumam as tarefas da casa. Afinal, você também mora nela e não é porque tem um pênis ou ganha mais que sua mão é alérgica a detergente. Escute com atenção. Descubra quem está ao seu lado, mesmo que ela já esteja lá há 15, 30, 50 anos. Conversem. Não só sobre as contas atrasadas ou a escola nova do caçula. Não elogiem nossas roupas e sapatos. Não apenas nossas roupas e sapatos. Aprendam palavras como poderosa, sensível, fantástica, carismática, inteligente e divertida. Diminuam nosso cansaço. Chorem. Demonstrem o que sentem. O mundo também cobra coisas demais de vocês. Não nos dividam em grupos. Encarem um não como um não e nada mais. Respeitem nossas escolhas e limites. Nossos corpos, nossas mentes.
No momento em que escrevo este texto, que talvez você esteja lendo no celular ou no computador, já é madrugada e me restam poucas horas antes do despertador tocar. Irei iniciar mais um dia de trabalho e, privilegiada que sou, terei a pia limpa graças ao marido e o jantar garantido por culpa do delivery. Ainda assim estarei cansada. Milhões de outras mulheres também, muito mais do que eu.
Mesmo exausta, comemore o 8 de março. O mundo precisa nos ouvir. Nem que seja com voz ofegante depois de um dia cheio.
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