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ANÁLISE. Para Antônio Britto (sim, ele), a “Esquerda quer radicalizar, Direita não se organiza”. E o centro…

No portal especializado PODER360, por ANTÔNIO BRITTO (*), com foto de Divulgação/STF

O PT, na obrigação de não abandonar Lula, atrasa o inevitável –a definição de outra candidatura– e à medida que radicaliza seu discurso escolhe voltar a circular apenas no apertado espaço onde já estão PSOL e PC do B. Marina e Joaquim Barbosa são produtos com mercado mas sem rede de distribuição. E uma enorme dificuldade, por razões diferentes (algumas são qualidades), para articular apoios.

A vitrine de Ciro é um pouco mais ampla, mas ele terá de escolher entre a improvável sedução ao PT ou a tentativa de voltar-se para o centro e passar a dizer o que não pensa.

No centro tudo é racional, mais organizado, aparentemente mais calmo. Perfeito, se houvesse votos.

E por último, um candidato cuja melhor estratégia seria não falar, não escrever, não aparecer – Bolsonaro.

O pior, porém, não é o que está confuso. As notícias ruins sobre a eleição de 2018 vêm das poucas certezas que já é possível se ter.

A primeira vem da esquerda. A estratégia de radicalizar traz uma péssima consequência para o País. O PT abandona, temporariamente, o único caminho que foi ou será capaz de garantir-lhe futuro, dar passos em direção a um socialismo democrático, ético, moderno, sensato. Sem isso, garante-se ao próximo governo uma oposição que, ao menos de início e até que as forças se alterem dentro do PT (vale dizer na cabeça do Lula), não estará disposta a diálogo nenhum em meio a uma grave crise do País.

O chamado centro ainda não entendeu uma questão simples: o que falta a seus candidatos não é carisma (Alckmin) ou habilidade política (Meirelles). Falta ter o que dizer à população pobre e marginalizada do Brasil. Em 30 anos de democracia, só houve um discurso que a população entendeu originado do centro: o Plano Real. Antes e depois dele, a ideia social-democrata perdeu-se no Brasil com o fracasso do PSDB a ponto de a única voz jovem no partido, com ideias sintonizadas com o dia de hoje, vir de um político com 86 anos de idade, Fernando Henrique.

A direita igualmente não se organiza. Os partidos que teoricamente defenderiam posições mais conservadoras transformaram-se em empreendimentos comerciais, mais atentos à Polícia Federal que à escolha do novo presidente. Afinal, qualquer que venha a ser, eles estarão lá, residentes permanentes do Palácio do Planalto.

Ou seja: essa confusão deixa muito claro o fracasso entre nós da concretização de três ideias que, simplificadamente, organizam a disputa política em qualquer lugar do mundo: a esquerda; a social democracia mais ou menos liberal; e o pensamento conservador.

Daí decorrerá outra certeza. Vamos assistir acima de tudo a uma disputa entre temperamentos – e que temperamentos. Ao ganhador oferecem-se imagens das sombras de Jânio e Collor. Mais uma vitória construída sem maquete, sem fundações e sem estrutura. E dependente do conhecido apoio dos sempre-no-poder. Personalidades fortes, vitaminadas pela vitória e que se descobrirão minoritárias diante de um Congresso – outra certeza – que nem vai melhorar nem vai voltar sintonizado com o País real.

Basta olhar. Barbosa, aposta nova, vestirá roupas de centro-esquerda mas grande parte de sua presumível força eleitoral virá de um segmento absolutamente conservador que o adota pela lembrança do ministro justiceiro no Supremo. Ciro, para crescer, precisa localizar no Nordeste a herança, deixada por Lula, de uma população que, condenada pela desigualdade brasileira, espera e precisa de milagres.

Marina, já identificada no passado com o eterno sonho brasileiro de eleger um igual (pobre, negro, operário, vindo “de baixo”) perdeu sua identidade (na forma como é percebida). Alckmin dependerá do milagre de, em seis meses, convencer esta mesma população desencantada de ser garantia de esperança no que interessa: o bolso, o estômago, a saúde, a segurança. Bolsonaro, já no limite da obtenção do voto-raiva, terá igualmente um caminho muito difícil, dificuldades que começam por ser ele o candidato.

Em síntese: o que há de estruturado, nem importa se bem ou mal estruturado, está sendo vítima (merecida) dessa busca sofrida pelo novo. E o novo, raramente novo de verdade, chega acompanhado pelo que há de mais velho no Brasil: personalismo, instabilidade, apoio de partidos comerciais.

Não sejamos pessimistas. Existe, sim, uma possibilidade. Única. O fato que, este sim, seria novo para valer, inédito: a sociedade brasileira transformar as dores de todos esses últimos anos em razão para uma participação histórica na eleição.

Isto estará claro ou confuso para a sociedade?

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(*) Antônio Britto Filho, 65 anos, é jornalista, executivo e político brasileiro. Foi deputado federal, ministro da Previdência Social e governador do Estado do Rio Grande do Sul. Atualmente é presidente-executivo da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa).

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2 Comentários

  1. Análise é algo pessoal e como tal é subjetiva. O sumo da história é a falta de lideranças que assola o país. Gente sem as mínimas condições querendo assumir cargos para os quais não estão preparados. Ninguém empolga, logo nada se define.
    Esquerda tenta a “refundação”, Molusco tenta deixar sua marca. Parte dela virou uma seita dentro de uma religião.
    Além disto existem as contradições teóricas. “Liberais” no Brasil gostam de dinheiro do BNDES a juros baixos, gostam de REFIS e quando estão perto de falir por incompetência e falta de gestão gostam de socorro porque “o desemprego resultante é um problema social”. “Conservadores” também não é uma categoria única. Há os que não gostam de heterodoxias na economia e há os que defendem a permanência do atraso, só para citar alguns exemplos.
    As regras eleitorais ainda por cima foram feitas para manter o que esta aí, ou seja, instabilidade política que leva a instabilidade econômica. Brasil, como dizia Jobim, não é para principiantes.

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