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Vacinação – por Orlando Fonseca

Neste final do mês de abril, duas campanhas de vacinação tiveram início em nossa cidade. Uma direcionada à prevenção das maléficas influências dos vírus da gripe (H1N1, H3N2 e influenza) – a propósito da proximidade com o inverno; a outra, contra as maléficas influências do vírus da ignorância – a propósito dos tempos sombrios da síndrome da pós-verdade, em que proliferam fake news, manifestações de ódio e intolerância. Começou a Feira do Livro, o mais importante evento cultural de Santa Maria. Portanto, nesta semana e na próxima, apresenta-se uma excelente oportunidade para que os santa-marienses ampliem a imunização contra as doenças decorrentes do déficit de leitura, o qual cria as terríveis convicções sem fundamento.

Nossa Feira do Livro é de dar orgulho, pelas suas dimensões, região de abrangência no centro do Estado e por sua resistência. Trata-se de uma das mais antigas do país, realizadas em espaço público. Falamos em 45 anos, para dar um significado de continuidade, mas este tipo de evento passou a existira há mais tempo em Santa Maria. Em 1973, nasceu sob o signo da resistência, conduzida pela ousadia de estudantes de Comunicação Social de nossa UFSM. Eram tempos bicudos, como diria o poeta, e tais eventos não eram bem-vistos pelas autoridades que governavam o país com mão de ferro. Eram tempos de censura, repressão, perseguições políticas, no auge da ditadura militar que vigia naquele Brasil claudicante. Ora, já se viu, querer facilitar o acesso aos livros, aos debates culturais e políticos? O que estavam pensando aqueles estudantes?

Na verdade, os jovens estavam resgatando um projeto interrompido em 1964, quando se deu o golpe civil-militar, que aboliu iniciativas populares com finalidade cultural. A primeira Feira do Livro ocorreu em 1962, cujo patrono foi o escritor santa-mariense de maior projeção nacional, Felippe D’Oliveira (razão pela qual não se fez tal referência na organização dos eventos posteriores, portanto não se trata de uma “lapso” o poeta não ter sido mais homenageado). Em 1963, quando se promulgou a lei que cria uma Feira no Município, realizou-se a segunda, e, pelas razões já apontadas, não tivemos a continuidade, até a retomada já no início dos anos 70.

Nossa cidade comemora este ano os 50 anos da referência – um tanto cabotina – de Cidade Cultura. Mas é coisa para nos orgulharmos com o desafio. Temos uma realidade educacional superior de dar inveja a municípios de porte médio do país. Temos uma iniciativa peculiar e única, uma Cooperativa Estudantil para difusão dos livros. Temos uma rede de livrarias que se expande.

Portanto, a nossa vocação é a de formarmos uma cultura letrada. Na Feira deste ano, mais de uma centena de autores locais estarão autografando seus livros. Para uma cidade que ainda carece de editoras – as iniciativas no setor são tímidas, é uma façanha a quantidade de gente que se atreve a escrever e publicar. Para que o sistema literário ganhe expressão, é preciso que o número de leitores se mantenha elevado.

Segundo dados da Câmara Brasileira do Livro, nossos índices nacionais são raquíticos. Isso gera um déficit de conhecimento preocupante, inclusive já detectado por pesquisas sérias, como a realizada pelo Instituto britânico Ipsos: o Brasil é um dos países em que a tomada de posição carece de fundamento, ou seja, falta de uma boa olhada em livros, jornais e revistas.

Tão preocupante quanto a proliferação da toxoplasmose, deve ser a disseminação da falta de noção, o analfabetismo funcional e a ignorância soberba. Procure a sua dose de imunidade na Feira do Livro, as ofertas são múltiplas e generosas, e não deixe de usar, especialmente, sem moderação.

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Um Comentário

  1. Bom dia Claudemir.
    Embora eu goste muito de ler, em respeito as centenas de pessoas que também gostam, não concordo que pessoas preocupadas com a saúde pública possam ser consideradas ignorantes. Pois dessa forma os inteligentes são os que acreditam nas informações oficiais da Prefeitura sobre a quantidade de enfermos com toxoplasmose? Em uma só manhã na Farmácia da Prefeitura a Farmacêutica afirmou ter “dado medicações para 10 pessoas”. Qual o interesse em protelar tanto dar informações corretas sobre a quantidade de pessoas doentes?

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