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Aniversário da cidade – por Orlando Fonseca

Nesta semana, comemora-se mais uma aniversário de Santa Maria. Nossa cidade está completando 160 anos desde a sua emancipação, fato que se deu em 1858. Entretanto esta efeméride tão comum na vida e na história das comunidades, já teve como referência outra data. Em 1914, alguns cidadãos santa-marienses celebraram o que, então, chamaram de Centenário, sem que para isso houvesse um registro de que, em 1814, tivesse ocorrido a fundação de um povoado ou vila nesta localidade. Pelo que se pode perceber, o próprio 17 de maio também está com os dias contados, tal como aconteceu com o hoje denominado “Falso Centenário de 1914”. E isso porque não há convicções dos historiadores, pesquisadores e interessados no assunto quanto ao ponto de partida para tal comemoração.

Importante ressaltar que falta mesmo é se fixar o que seria o motivo definitivo para celebrar um aniversário: o nascimento. De certeza mesmo, sabe-se que a cidade nasceu de um acampamento militar, da comissão demarcadora do Tratado de Santo Ildefonso de 1777. A própria rua do Acampamento deve a sua denominação a este fato historicamente registrado. Vinte anos depois, já havia um pequeno povoado, em torno da capela dedicada a Santa Maria, origem do nome da cidade.

Ainda que exista documentação destes eventos, enquanto se tratavam das disputas de terras entre Espanha e Portugal e o Brasil Império pouca influência detinha em relação a este território meridional, não se descobriu – ainda – uma data definitiva quanto à fundação de nossa cidade. Quando alguém confirmar o dia certo, então se passará a comemorar o aniversário de Santa Maria, para mais de duzentos e vinte anos.

Para os que se interessam nesse assunto, ou melhor, amam esta cidade porque procuram conhecer a sua história, a Feira do Livro deste ano trouxe algumas publicações que acrescentam interesse sobre o tema. O patrono, Valter Noal Filho, está entre os que se dedicam a garimpar preciosidades de nosso passado, tendo já publicado algumas obras importantes, e neste ano colaborou com a professora da UFSM, Silvia Paraense, na organização da obra “Santa Maria – o passado pitoresco, em prosa fluida”, de Romeu Beltrão.

Este autor, médico formado, professor, cronista, historiador, dedicou-se a buscar dados para a publicação de um dos livros fundamentais sobre nossa cidade: “Cronologia histórica de Santa Maria e do Extinto Município de São Martinho”. Ao lado das obras “História do Município de Santa Maria”, de João Belém e de “Memórias” de João Daudt Filho, creio que dá consistência às fontes mais fidedignas para uma arqueologia desta cidade.

Por enquanto, fiquemos com a data atual. Nossa porção humana carece de rituais, de elementos concretos para afirmar a imaterialidade de nossos sentimentos. Por isso criamos os dias especiais, os cultos, as festas, os presentes. Por ter-se constituído, ao longo de sua formação, como um lugar de passagem, a começar com um acampamento militar, uma comissão que veio e se foi, de chegadas e partidas na gare da Estação Ferroviária, de período de estudos em suas Universidades, ou de tempo de serviço em suas unidades militares, Santa Maria se ressente de uma baixa autoestima cidadã.

Não é difícil encontrar por aqui quem só lembre da cidade para reclamar dos buracos, ou considerar que só somos notícia nacional quando acontece uma tragédia, tal como agora com o surto de toxoplasmose. Se olharmos para a nossa história com cuidado, vamos ver que somos mais do que isso, e que por estarmos no centro geográfico do Estado, temos um motivo especial para nos sentirmos o Coração do Rio Grande, e fazer disso um motivo para espalhar o afeto entre os que nasceram aqui ou os que escolheram residir aqui.

Uma cidade é mais do que o concreto e o asfalto, seus prédios e ruas – ainda que tenha nascido de uma capelinha e de uma pequena estrada. A cidade, acima de tudo, são as pessoas e a história de amor por ela deve ser cultivada, como um plano diretor pessoal, dentro de cada um, para que se irradie em sua extensão geográfica.

OBSERVAÇÃO DO SITE: a foto que ilustra esta crônica – da Rua do Acampamento, em 1911 – foi capturada pelo editor, da internet, mas ela está disponível em vários endereços na grande rede.

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