Artigos

O dom do trabalho – por Pylla Kroth

Existem muitas coisas na vida que somente você pode fazer por você mesmo. Tocar e cantar é uma delas. Lamentavelmente aqui no Brasil isso não é profissão oficial, pois músicos não foram mencionados no discurso do Presidente da Nação no Dia do Trabalho, entre outras tantas profissões que também não foram citadas, mas posso lhes afirmar que músicos trabalham, e muito. Aliás, ontem para mim não foi o Dia do Trabalho e sim o dia do trabalhador.

Logo que aterrissei aqui por essas plagas, conheci vários tocadores de violas em encontros e festas de estudantes em apartamentos e chatôs aqui na terrinha “Santa”. Isso foi muito importante em minha formação, pois sempre gostei de cantar, mas ‘’não tocava um ovo”, como dizia meu companheiro de pensão. Até hoje sei todas notas e suas expressões, porém executá-las não é comigo, sempre precisei dos comparsas. Sendo assim, sempre tive que sair de minha zona de conforto para poder botar pra fora meu canto.

Eu sempre senti meu “dom” de cantar desde cedo e acho que não só na música, mas em todas as áreas, para se ter uma desenvoltura perfeita, para desempenhar determinada atividade é preciso ter o dom e uma pitada de talento para ganharmos a vida e nos realizarmos.

E dom pode ser encontrado em qualquer pessoa, se considerarmos “dom” significando uma profunda afinidade que propicia intimidade e conseqüentemente facilidade em executar determinada tarefa de cunho criativo, diferentes e inúmeros em sua subjetividade. Por talento me refiro à habilidade que temos que desenvolver e aperfeiçoar nosso dom com disciplina e muito treino, dia após dia, resultado de trabalho e estudo, e por isso diz-se que talento é um por cento inspiração e noventa e nove por cento transpiração.

Além de paixão é necessário comprometimento para adquiri-lo. Transpiro e rezo todos dias, rsrs. Isso pra mim é uma dádiva também, lembrando que em sua origem a palavra “dom” significa um presente, geralmente divino, e por isso agradeço todos dias pela vida que Deus me deu de viver da arte de cantar entre os músicos que a vida me presenteou. Saber quais são nosso dom e talento é determinante para nossa sobrevivência, ambos são como uma missão na vida, uma verdadeira vocação, a ser complementada com trabalho a fim de desenvolvê-la e poder vivê-la e dela viver.

O dom do trabalho, de gerar, criar, inventar e promover é em minha opinião o grande diferencial do ser humano e isto deve ser celebrado, e mais ainda devem ser celebrados aqueles que fazem uso dele, ou seja, o trabalhador em geral de todas as áreas, inclusive a artística, que quase sempre é esquecida como uma área do trabalho e trabalho digno.

Entre as dezenas de músicos com dom e talento que conheci existem alguns fora de série. Lá no inicio dos anos 80 andava eu e meu amigo de pensão pelas ruas da cidade sedentos para cantar umas cantigas, foi quando chegamos na praça Saturnino de Brito e encontramos um carinha com uma viola na mão e dois ou três outros a sua volta cantando algumas composições do cancioneiro brasileiro. Nos aproximamos e larguei a voz junto com ele em uma música de Belchior. Foi aquele agrado imediato e assim tocamos várias noite adentro.

Mais tarde, voltei encontrar o dito cujo, ele agora com outro instrumento, um contrabaixo, e mandando ver com muito talento. A essa altura, eu já tinha formado meu primeiro grupo de Rock, ao qual ele me parabenizou. Estava oficializada nossa amizade sincera na música. Inúmeras vezes na estrada da vida voltei e ainda volto a encontrá-lo. Não foram poucas as vezes em que tocamos e cantamos juntos até para nossa sobrevivência como artistas, e até CD coletâneo dividimos.

Agora, passados anos de nosso último encontro, irei assisti-lo em grande estilo no Theatro Treze de Maio na noite de hoje, com o espetáculo  de seu álbum “Pequeno Grande Mundo”, acompanhado de Diego Wainer e Fabian Miodownik , com participações especiais de Elias Resende, Sandro Cartier, Guilherme Barros e Dadá Alves seu velho companheiro do tempo do “Trem Pagador”, banda que marcou época na vida de muitos santa-marienses aqui na terrinha – quem lembra do Panacéia?

Será uma noite de muita emoção. Aceitei com  prazer fazer as honras de anfitrião deste grande Artista na abertura do espetáculo.  Chama-se Broder Bastos. Ou apenas Broder para os amigos mais chegados. Pois o nome artístico completo ele ganhou quando tocou com Zeca Baleiro, a produtora assim o chamou e ficou. Está radicado em Buenos Aires faz 25 anos. Já tocou com grandes feras aqui no Brasil e há sete anos toca com a banda argentina “Ciro y los persas” pelo mundo a fora.

BRODER BASTOS resume o que quis dizer em minha crônica de hoje, estão nele todos ingredientes: dom, talento, capacidade e disciplina como músico e artista. “O bom filho a casa torna” e merece o nosso prestigio e os nossos aplausos.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo