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Boleiros & Guitarreiros – por Pylla Kroth

Quem nunca sonhou ser um jogador de futebol, ou ter uma banda de rock, ou saber tocar um instrumento, ou pilotar um avião e voar? Atire a primeira pedra. Quando moleque, lá no interior, confesso que sonhei com todas essas profissões aqui citadas. Como jogador de futebol, corria feito um africano, mas não tinha visão de jogo e ainda tinha uma maneira de pegar a bola e dar cotoveladas em quem se aproximava, e isso todos sabem que não é permitido no futebol e assim o professor sempre me deixava de fora da equipe principal do colégio onde estudei. Até final da década de noventa “joguei” bola duas vezes por semana como uma forma de “desenferrujar os cambitos” e manter os pulmões em dia. Era ótimo para manter minha forma física.

Futebol e Rock ‘n’ Roll são sem dúvida minhas maiores paixões. Coincidentemente, a Copa do Mundo está acontecendo agora nos meses de junho e julho e logo em seguida é comemorado o Dia Mundial do Rock, em 13 de julho. Imaginem, então, minha felicidade nesses dois meses. Não vou aqui fazer comentários dos jogos e do que anda acontecendo em Moscou, pois alguns acontecimentos por lá estão me entristecendo. E não é de tristezas que quero falar. Ou até é.

Vou lhes contar uma história de um menino mulato muito amigo meu e que jogava muita bola e além disso aprendeu tocar guitarra como poucos. Mas tinha um medo de avião terrível, e isso foi decisivo em sua carreira como atleta.

Estava ele na época como titular da equipe principal do Juventude de Caxias e tudo corria bem, o salário era muito bom e inclusive o Grêmio já estava de olho nele. Sua família, que morava em uma casa pequeninha  às margens dos trilhos de trem da RFFSA, agora construíra uma casa aconchegante e grande com a ajuda do atleta! Eu sempre fui chegado do sujeito e a mim ele confidenciava várias coisas, entre elas o seu medo de avião e de voar. Isso lhe preocupava muito, pois logo, logo, os compromissos como atleta iriam lhe fazer se deparar com seu medo maior. Chegou me dizer que isso seria seu fim como atleta. “Não entro em um avião nem morto! Vou virar guitarreiro, mas voar eu não vôo!”

Foi titular de clubes importantes do futebol gaúcho, São Luiz de Ijuí, Inter SM, mas nunca precisou viajar de avião até chegar no Juventude. Foi então que o clube da serra gaúcha fechou sua participação em um torneio na Arábia Saudita. Foi com muita tristeza que ele ouviu aquele anúncio em um dia após o treino.

Estava ele vivendo seu melhor momento como jogador de Futebol e agora essa?! Fazer o quê? Seus dias e os treinos passaram a ser tristes. Depois de noites sem dormir pensando em seu futuro, fez as contas de quanto já havia lucrado como jogador. Pensou na família e até o dia da concentração para a viagem estava disposto a entrar naquele gigante voador desse no que desse.

Mas foi aí que naquela noite o medo começou tomar conta do meu amigo atleta. Pensou uma, duas vezes e na terceira não se aguentou e foi para o fundo da porta da sala de concentração e “vazou” até a mureta, pulou e correu para o bar mais próximo, onde chegou trêmulo e pediu uma garrafa de vodka, para o espanto do bolicheiro de plantão. Depois de beber mais de meia garrafa, pediu a guitarra que estava ali ao lado do palco, sobrando, ligou-a e cantarolou seus versos em uma milonga pacholenta. Não preciso dizer aqui o final da história.

Nesses dias de Copa do Mundo fui visitar o ex-atleta e hoje guitarreiro de bailes, ofício este que ele tem muito orgulho, e ainda vi em seus olhos a bola, e em suas pálpebras a rede balançando de seu último gol.

Como dizia uma música antiga dedicada ao gênio Garrincha, as jogadas da vida são bolas de sonhos que o craque do tempo chutou e que impedido pela vida parou.

O velho atleta recorda as jogadas felizes entre uns goles de pinga e mata a saudade no peito, como outrora fazia com a pelota, agora driblando com o violão as suas emoções de um tempo que não voltará jamais. Sendo assim, me restou convidá-lo para no mês de julho comemorarmos o dia do Rock juntos! Mas antes haveremos de fazer que seja nossa última “pelada”.

Tudo que é bom se termina e a gente até sabe, aprendemos direitinho dar adeus as coisas, mas não a tirá-las de nossos corações. A vida é um jogo. E fomos todos escalados. Ninguém ficará no banco.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução do Google.

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