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FEMINISMO. Juventude Negra Feminina também faz discussões teóricas que enriquecem seu movimento

Alice, estudante de psicologia na UFN, e Andressa, mestranda em Ciências Sociais na UFSM, ativas integrantes da JUNF

Por AMANDA SOUZA (com foto de Divulgação), Especial para o Site

Com a escravidão e retirada de direitos em massa do povo negro, as consequências da colonização se fazem presentes ainda hoje. Na academia, poucos teóricos negros conseguiram ocupar esse espaço e contar sua própria história. Hoje o movimento também caminha para estar nas universidades, representando sua identidade, para que mais negras e negros estudem e tenham acesso à um meio ainda muito embranquecido. Mais mulheres conseguiram alcançar posições e estarem na academia, porém, apenas 10% das mulheres negras conseguem completar o ensino superior, segundo a pesquisa Estatísticas de Gênero, do  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O recorte racial demonstra a desigualdade social do país, que carrega o racismo estrutural na cultura.

No coletivo Juventude Negra Feminina (JUNF), que já foi objeto de duas matérias anteriores no site (AQUI e AQUI), as mulheres discutem obras de autoras negras, conhecem teóricos que contam a história da ancestralidade e enriquecem o movimento.

– As discussões teóricas são importantes porque também queremos ocupar a academia, não colocamos a questão do ‘academicismo’ (que o movimento feminista branco se preocupa) porque a faculdade sempre foi um espaço de exclusão das pessoas negras – afirma Alice Carvalho, acadêmica de psicologia na UFN (Universidade Franciscana).

Então, elas querem falar sobre si mesmas, que suas posições sejam reconhecidas, assim, reconhecem a posição de outras pessoas negras, que embasaram a questão da estrutura racista e como esse sistema as afeta, e como podem elaborar formas de vencer um preconceito estrutural.

Alice conta que durante as discussões, em sua maioria teórica, também boa parte das conversas parte da vivência de cada uma, todas estão sempre a vontade para falar e tirar suas dúvidas. – Não tem essa coisa dos movimentos brancos, a teoria no nosso espaço amplia os horizontes, nos faz conhecer nossa própria história e ter mais força – acrescenta.

– Passamos por um epistemicídio teórico absurdo, nossos teóricos não são reconhecidos, nas ciências sociais pouco se lê e quando colocamos esses autores, os próprios professores não conhecem, é uma maneira de romper com esse paradigma de que os teóricos negros não são necessários na construção do saber científico – conta Andressa Teixeira, mestranda em Ciências Sociais,.

A necessidade de implementação de uma disciplina para discutir as relações étnicas raciais é uma realidade nas universidades, e se não usarem de autores e autoras negros para discutir raça, continuarem com uma cultura excludente com autores europeus, não vai alterar a situação.

– Não me lembro de ter lido autores negros recomendados na faculdade de psicologia, e já estou me formando, – conta Alice – é importante que tenhamos embasamento técnico teórico para lidar quando o paciente vem até a gente, entre nós e no coletivo também, consigamos fazer essas interlocuções e poder cobrar nesses espaços acadêmicos.

Ao contrário do movimento feminista branco, que nasceu a partir de teóricas no sufrágio feminino da França, o movimento feminista negro precisa se autoafirmar e resistir todo o momento, e as leituras são libertadoras para as militantes, já que mais da metade da população negra não tem acesso igualitário à educação. E as mulheres negras sempre tiveram de trabalhar para sustentar seus filhos, sem tempo e condições de estudos.

Atualmente, a JUNF está sem atividades presenciais, mas elas estão presentes em outros espaços, para manter o coletivo ativo, representativo. As militantes ocupam as universidades e o mercado de trabalho, para se colocarem em prática enquanto profissionais e acadêmicos nas suas respectivas áreas.

A página do Facebook do coletivo tem fotos de vários encontros e manifestações promovidas pela JUNF, além de ser um espaço de compartilhamento das novidades e de discussões atuais. Para conhecer mais um pouco da Juventude, acesse: https://www.facebook.com/JuventudeNegraFemininaDeSantaMariaRs/ .

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