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O “chato” não vai parar: o Regional tem que funcionar 100% – por Valdeci Oliveira

Nesta semana, na volta dos trabalhos da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, nós retomamos e fortalecemos uma luta que travamos ininterruptamente desde 2015: a cobrança pela abertura de todos serviços do Hospital Regional de Santa Maria. Incrivelmente, passados quase seis anos da inauguração desse imponente complexo de saúde, o local segue na mesma situação de inércia, ou seja, segue com a maioria dos seus leitos fechados à comunidade, o que é um deboche em uma cidade e em um estado tão carente de acesso na rede pública de saúde. Basta um exemplo para evidenciar o quão grave é essa situação: a poucos quilômetros de distância do Regional, no Hospital Universitário (HUSM), no Bairro Camobi, a realidade frequente é de superlotação de pacientes, de equipes extenuadas e de muita dificuldade em dar conta da demanda de usuários do Sistema Único de Saúde que vem de toda a Região Central do RS.

Em virtude desse contexto e da completa inexistência de avanços concretos que indiquem que o Regional funcionará a pleno em um curto ou médio espaço de tempo, nós decidimos deflagrar um movimento em favor da troca da gestão da unidade. Isso mesmo: a nossa defesa é para que o Instituto de Cardiologia, que gerencia o local desde que o espaço abriu, seja substituído na função, tão logo existir condição para isso, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), instituição que já administra o HUSM e diversos outros hospitais país afora.

E ao encampar essa defesa, nós não nos baseamos apenas na dificuldade do Cardiologia apresentar evolução no quesito “abertura de leitos e serviços” no Regional. Nos baseamos também no fato de que esse Instituto, que tem sede em Porto Alegre, enfrenta uma grave crise financeira e já aderiu a um processo de recuperação judicial. Reportagens feitas por veículos de comunicação do estado informaram que, há poucos meses, quase 300 funcionários do grupo foram demitidos.

Em condição contrária está a Ebserh, que é vinculada ao Ministério da Educação e que dá mostras de competência e expertise na gestão hospitalar. Além disso, precisamos lembrar que a parceria Hospital Regional-Ebserh estava bem alinhavada em um passado recente, quando, em 2014, chegou a ser assinado um termo de cooperação envolvendo essa empresa pública, o governo do Estado (na época, o governador era Tarso Genro) e a UFSM (na gestão do então reitor Paulo Burmann). Lamentavelmente, por decisão do governo Sartori, que assumiu logo na sequência, tudo o que foi assinado em 2014 foi desmontado no ano seguinte, e a gestão da unidade parou nas mãos do Cardiologia. De lá para cá, muitos recursos públicos foram destinados à administração do hospital, mas, mesmo assim, o funcionamento pleno desse “gigante adormecido” segue sem previsão.

Na condição de cidadão santa-mariense e de membro titular da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, afirmamos: não iremos nos calar diante de um evidente desperdício de recursos e esforços públicos. E fazemos isso com autoridade moral, pois assim como cobramos incansavelmente a abertura integral dos leitos, nós nunca deixamos de apoiar concretamente essa causa: em 2004, como prefeito de Santa Maria, realizamos a mudança da legislação do município (alteração do Plano Diretor) que permitiu a construção do Regional na Região Oeste de Santa Maria, como fora indicado na época. Em 2020, como deputado estadual, nós destinamos todo o nosso recurso anual de emenda parlamentar, R$ 1 milhão, para fortalecer o complexo. Esse apoio, como reconheceu a própria direção do complexo, foi decisivo para estruturar as equipes – que são qualificadas – no atendimento aos pacientes que contraíram a covid-19. Entre um fato e outro, muitas articulações, debates, incontáveis reuniões, formação de comitês, atos públicos e solas de sapato gastas pelos corredores de Porto Alegre e de Brasília.

E ainda neste mês, estaremos novamente “em campo” na capital federal para uma série de audiências junto aos ministérios da Saúde e da Educação. Lá reforçaremos a defesa para que a Ebserh coloque-se formalmente à disposição para assumir a gestão do Regional e assim viabilizar o funcionamento integral do mesmo. Dá tempo ainda de corrigir o estrondoso erro cometido em 2015, quando não foi levado adiante a cooperação com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.

E reiteramos: não seremos nós que vamos nos abster da busca por uma solução que acredito seja a mais acertada e factível. A omissão, sob alegação de que este é um ano eleitoral, não combina com a importância da pauta, com a importância de se proteger vidas. Com esse movimento, tenho certeza, vou facilitar a vida de quem me chama, por conta da minha postura na Assembleia, de “o chato do Regional”. É na base da pressão e até de uma necessária “incomodação” que avanços importantes acontecem. O “chato” aqui não vai parar.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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5 Comentários

  1. Ebserh foi criada em 2011. HU tinha que instalar um aparelho de ressonancia magnetica recebido em 2011. A obra civil foi de 2013 a 2016 para ficar pronta. Caso foi parar na justiça. Em 2018 um juiz federal determinou sob multa diaria o remanejamento de 15 profissionais para operar o aparelho. Prejuizo estimado na epoca era de 7,5 milhões de reais (corrigindo pela inflação para os dias de hoje passa de 12 milhões). Alas, nunca faltaram remedios no HU? Quimioterapia por exemplo? Outros mais comuns? Diario Vermelho de SM, dezembro de 2022, falta de insumos (uma das causas apontadas era financeira).

  2. ‘[…] enfrenta uma grave crise financeira e já aderiu a um processo de recuperação judicial.’ A parte na qual a responsabilidade é do Programa Assistir do incomPeTente Dudu Milk que os vermelhos ajudaram a eleger fica de fora?

  3. ‘[…] Hospital Universitário (HUSM), no Bairro Camobi, a realidade frequente é de superlotação de pacientes, de equipes extenuadas e de muita dificuldade em dar conta da demanda de usuários do Sistema Único de Saúde que vem de toda a Região Central do RS.’ Ué, mas o SUS não é uma ‘maravilha’? Não vem outros paises ‘copiar’ o SUS?

  4. Aideti, o Biden, tem memoria ruim. Hospital Regional era para ser uma sucursal da Rede Sarah. Não rolou, apesar da rede ter expandido para outras regiões do pais. PT sempre foi contra a construção do HR, queriam expandir a Casa de Saude. A tentativa de entregar para o HU foi politicagem, Burmann, um dos piores reitores da historia da UFSM, queria inclusive expandir o curso de medicina da universidade e inviabilizar o curso da UFN. Iria faturar eleitoralmente, obvio. O problema do HU que tentaram evitar no Regional é obvio também, o fluxo de atendimentos em hospitais escola é mais lento.

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