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Espeto corrido – por Orlando Fonseca

Ao longo dos anos de observação política no Rio Grande do Sul, firmei a convicção de que a depreciação econômica do Estado é fruto da falta de um ciclo virtuoso de gestão. Explico: a cada quatro anos, após a redemocratização, nos anos 80, muda o governo através das eleições. Não se repete um projeto eleito, não se reelege um governador. E, como se sabe, a cada troca, muda-se tudo, não apenas em termos de equipe gestora, mas também quanto ao modelo, aos métodos, às práticas.

Mesmo tendo dado certo, o eleitor não considera avanço – pois não o reelege. Tendo dado tudo errado, escolhe um novo para que se tente uma nova fórmula. E assim é que, desde a eleição de Jair Soares, em 1982, o nosso Estado vem decaindo em importância e condições socioeconômicas. Agora, estamos mais uma vez na iminência de uma nova eleição. Só que esta traz uma novidade que é mais motivo de espanto do que de alvíssaras.

A julgar pelo resultado da pesquisa Ibope, pela primeira vez, em 35 anos, poderemos ter uma reeleição. Não porque o governante obteve sucesso administrativo, mas porque o desastre é tamanho que ninguém mais enxerga a saída. E, quando não se vê saída, fica-se onde está.

Sim, porque se tem uma coisa para ser considerada evidência, não é olhando para os números da atual administração que os eleitores estão confiando a sua decisão, ao menos de momento. O atual governo teve quase quatro anos para colocar em prática um modelo de recuperação, e não acredito que tenha uma mágica para encantar os eleitores durante a campanha eleitoral.

Firmei a minha convicção contrária ao senso comum nacional, pelo qual os gaúchos formam a parcela mais politizada no país. Por aqui carregamos um atavismo farroupilha, que nos recobre de uma aura republicana e democrática, de um independentismo triunfante, de um separatismo militante e burro.

Porque até revolução existiu por estas plagas, na defesa do pacto federativo. Mas à maneira de uns – e apenas de uns -, ou seja, excludente. Não formamos um povo politizado por termos usado e abusado da alternância no poder. Por aqui empregamos um rodízio na política – à maneira do nosso conhecido e propagado espeto corrido – que não nos ajudou em nada. Muito pelo contrário.

De celeiro do Brasil, na primeira metade do século passado, hoje amargamos uma posição que não nos favorece. Somos uma esquecida região mediterrânea, uma espécie de galpão, no fundão do país, onde podem ser encontradas algumas coisas úteis, e outras que estão depositadas ali, esquecidas, ou por anacronismo e defasagem ou desuso mesmo.

Como essa tal de alternância no poder. Que agora pode acontecer não porque o governante atual tenha demonstrado uma capacidade excepcional de recuperação das finanças, de pujança industrial e de produção recorde, mas porque a coisa está tão mal que não há mais ânimo de se pensar em recuperação.

Durante os governos militares, os rio-grandenses ficaram marcados pela pecha de legar ao país uma pletora de ditadores. No momento atual, em que o futebol está mais em evidência que a economia e a política, são os treinadores gaúchos os que estão dando as cartas no campo. Já nas esferas superiores, onde rola a grana graúda, são os paulistas que têm legado cartolas com expertise para as maracutaias – as quais o FBI se tem encarregado de investigar.

Dentre os últimos treinadores da seleção brasileira, quatro são gaúchos, incluindo o último, que perdeu mais uma Copa. Não estou dando ideia, nem me venham com a possibilidade de inaugurarmos uma “era Dunga” no Estado, e continuarmos com o “espeto corrido” político, trazendo o Felipão, o Mano e o Tite.  Só que, olhando os debates eleitorais, só se pode dizer, repetindo os amantes do clichê: “show de bola”!

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