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Trollada – por Pylla Kroth

Fui criado num mundo sem informática. Numa égide de pouca informação e muita cobrança com os afazeres e deveres.  E guardo com carinho os contos e histórias dos mais velhos nos finais do dia, em volta do fogão à lenha ou em botecos de campanha. Quando menino, trabalhei de balconista de um “bolicho” onde se vendia de tudo: querosene, fumo em corda, cachaças, e vários tipos de alimentos a granel, embutidos em tulhas. Então, sempre gostei de causos.

À noite, antes de dormir, nossos pais permitiam contar uma anedota, uma narrativa breve de um fato cômico, engraçado ou curioso, só não podia ser picante. Geralmente o mais mentiroso é que contava as melhores. Afinal, não eram mentiras que prejudicassem alguém, e assim quem estava ouvindo ficava quietinho escutando.

Hoje me deu vontade de contar uma “anedota” que ocorreu aqui na Santa Aldeia num passado não muito distante, no início dos anos 80. Uma narrativa breve engraçada e picante, porém não é mentira. Os mais antigos irão lembrar.

Havia um casal exemplar na sociedade local, já com seus dez anos de casados e com vários filhos. Os dois muito bem sucedidos na vida profissional. Ele um jornalista famoso, ela uma empresária bem sucedida. Fato é que o sujeito era chefe de um veículo de comunicação e ela proprietária de várias lojas de roupas finas de madames. Contam os mais chegados que quando se passavam na bebida em festas sociais, gostavam de esnobar suas belezas naturais. Um mais que o outro. Mas ela sempre contida em sociedade, coisas de mulheres da época. Resguardada como diziam. Ou melhor, “recatada” como se ouviu dizer da Primeira Dama da República.

O chefe, esse era um tremendo “formigão” dizem os bons vivants. De posse de sua colocação do cargo que lhe era atribuído, jogava pedra pra todo lado, inclusive nas meninas novas. Eu prefiro dizer que ele não passava de um doente tarado e aproveitador, mas na época quem se atreveria meter com o grandão dito cujo? Naquele ambiente de trabalho, as meninas em busca de um sucesso profissional passavam horrores, inclusive recordo que um dia desses encontrei uma senhora daquela época que me confirmou as dificuldades que todas mulheres passaram nas mãos do danado.

Mas nunca se teve notícias de alguma ter caído nas malhas do vivente em troca de sucesso profissional. No fundo, no fundo esse tipo de homem só pagou mico. Porém, este comportamento incomodava muito os outros profissionais do sexo masculino, colegas das moças.

Certa ocasião, um dos empregados deste cidadão de bem, aproveitando que era final de mês e estava com uma graninha no bolso, resolveu convidar sua namorada para irem a um motel da cidade. A namorada topou conhecer a tal maravilha e novidade para ambos, o “motel”.

No tempo em que isto que estou relatando ocorreu, os motéis eram diferentes dos que hoje existem: havia somente um muro na frente e a placa indicando o estabelecimento. Passando o portão principal tinha os quartos de um lado e uma cobertura das garagens no outro, sem privacidade alguma neste sentido. O casal passou o portão principal e ao manobrar em uma das vagas do estacionamento perceberam de chegada o carro de quem? Pasmem: do chefe formigão.

“Bingo!” falou o jornalista novato pra sua namorada: “olha só quem eu pego aqui colocando um par de chifre na mulher? Segunda-feira ele vai baixar a crista comigo e agora acho que minha moral na empresa vai subir, meu amor!”. Só lhe faltava saber quem seria a vitima do danado taradão formiga. “Bueno,” a namorada questionou “afinal, o que viemos fazer aqui? Deixa isso pra depois!” e entraram no quarto que o porteiro havia indicado. O preço seria pra uma hora de prazer. Aquela hora voou.

Tomaram ambos uma ducha e se dirigiram ao estacionamento, quando de repente ele percebeu que a janela do lado do motorista do carro do patrão estava aberta. Naquele tempo não havia carros com travas automáticas e nem alarmes. Foi só enfiar a mão pra dentro e puxar o toca-fitas de gavetas do carro pra fora e dar o pinote, assegurando assim sua prova maior contra seu chefe. “Só vou devolver o toca-fitas depois que ele me confessar com quem estava no motel e ou me dar uma promoção ou aumento em meu miserável salário!”.

Chegou a segunda-feira e os dois, patrão e empregado, se encontram na sala da redação, cumprimentos cordiais e em seguida o jornalista bate na porta do chefe pra um papinho particular levando uma sacola com seu toca-fitas dentro. Sem titubear saca a prova e pergunta ao chefe já em tom de acusação: “não sentiste falta de nada no teu carro final de semana? Hahaha, chegou a hora do meu aumento e da minha promoção, seu danado, mas antes me diga: quem era a garota que estava contigo no motel no final de semana? E não adianta tentar  mentir, pois peguei o teu toca fitas do teu carro no estacionamento e ainda tive o cuidado de anotar tua placa, formigão!”

Pasmo o chefe senta na cadeira, branco, pega o telefone trêmulo e faz a seguinte ligação: “Alô!!! Mulher, saia da tua empresa agora e venha correndo até aqui, pois acabei de encontrar o ladrão que te roubou o toca-fitas do nosso carro no estacionamento do supermercado, como tu me falaste que aconteceu neste final de semana!”

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