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MEMÓRIA PERDIDA. O incêndio do Museu Nacional e irresponsabilidades dos gestores e da sociedade civil

Nota do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Santa Maria

“Estamos cercados de irresponsabilidades, tanto da sociedade civil quanto da administração pública”, diz nota do Conselho de Políticas Culturais

Fogo Simbólico

Em meio às celebrações cívicas da Semana da Pátria, uma verdadeira tragédia se abateu sobre a memória do país. Um incêndio destruiu o acervo do Museu Nacional, antiga residência oficial da família real portuguesa, com a vinda de D. João VI para o Brasil, e da família imperial brasileira, com D. Pedro I e D. Pedro II. O prédio, que neste ano completava 200 anos, abrigou o primeiro instituto científico brasileiro, e, atualmente, constituía um dos mais prestigiados repositórios da nossa história e um dos maiores museus de história natural e antropologia da América do Sul.

Um fogo simbólico sem glória, sem honra, sem alento, mas emblemático quanto ao modo como tratamos os bens patrimoniais de nossa identidade. Simbólico quanto ao descuido, ao desamor, à ignorância e à indiferença. Antes mesmo que as investigações policiais cheguem a uma conclusão, trata-se de um incêndio criminoso, pois constitui-se em um crime contra a humanidade. Independentemente de ter sido uma fatalidade, um ato inconsequente ou falta de atenção ao patrimônio público, viraram cinzas muitos documentos, registros, objetos do nosso passado histórico. As chamas destruíram em minutos mais de 20 milhões de itens, não apenas com valores nacionais, mas índices preciosos da marcha da civilização através dos séculos. Esta é uma semana em que a Pátria perde um pouco do seu brilho.

Estamos cercados de irresponsabilidades, tanto da sociedade civil quanto da administração pública, em todas as esferas, manifesta em desvalorização do patrimônio, da história e da própria vida. Prédios históricos desfigurados por incêndios, edificações não recuperadas e até demolidas como no caso Colégio Centenário. Não foi outro o motivo que, em Santa Maria, também levou 242 vidas na tragédia da boate Kiss, há cinco anos e até hoje sem os desfechos judiciais. Ainda, em nossa cidade temos prédios e instituições que merecem especial atenção, pelos riscos e pela vulnerabilidade própria de suas estruturas. Temos 16 instituições museológicas, o segundo maior acervo arquitetônico em art déco em via contínua do mundo – recentemente ameaçado por mudanças no plano diretor. Manter e preservar são fundamentais para que não se apague a história da nossa formação identitária.

Cuidar da cultura também é cuidar de preservar a vida. Resta-nos a esperança de que nosso pranto e nosso grito sejam ouvidos pelas gerações futuras, que cobrarão de nós cada vida, cada item perdido em incêndios que poderiam ter sido evitados. Que sejam ouvidos para que as autoridades, as comunidades, o povo brasileiro tome consciência, no presente, dos valores que se podem perder quando não se tem o devido cuidado com o que é de todos. Que a Pátria Mãe Gentil seja tratada com o devido respeito, em sua memória, em sua existência cotidiana nos projetos de vida de cada brasileiro.

NOTA DO EDITOR: a foto que ilustra esta nota é uma reprodução obtida na internet, publicada na primeira página da edição original do jornal norte-americano New York Times.

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