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Ponta de faca – por Orlando Fonseca

Definitivamente, facadas e democracia não combinam, assim como relho e democracia, assim como tiros, bombas de efeito moral ou mesmo bate-boca em rede social. Democracia é espaço de vivência e promoção do bem comum.  Sempre do bem. Se dependemos de uma faca para eleger um presidente, estamos literalmente ferrados. Se entendemos como solução resolver pendências ideológicas na ponta da faca, idem.

Acontece que nesses tempos de atmosfera carregada de ódios, andamos no fio da navalha. A democracia é um subproduto da civilização, com a qual nos afastamos da barbárie. Portanto, é preciso serenidade para que o processo eleitoral percorra um caminho de equilíbrio. Democracia só se realiza na paz.

O ambiente tóxico da discussão política nos trouxe a este estado caótico no país. Trata-se da disputa de modelos muito divergentes, cuja essência tem sido insistentemente escamoteada pelas partes interessadas e pela grande mídia, que também tem seu lado.

De uma parte, os que defendem desenvolvimento com avanços sociais, e de outra, os que defendem o crescimento econômico como gerador de riquezas. Por um lado, os que defendem a ação prioritária do Estado na proteção ao trabalhador assalariado, e por outro, os que defendem que o estado deve proteger o capital e os investimentos na produção. O mais é conversa fiada, propaganda enganosa e toda sorte de falácias retóricas de parte a parte.

Quando um candidato, ou um agente político, aparece tentando dizer que não se trata de definir um lado, saiba que ele já está falando em um, defendendo um. Nos últimos anos, no Brasil, o debate político virou uma tal conversa de botequim, com um nível baixíssimo de argumentação. Nesse quadro, prevalece a baixaria, a gritaria, a defesa apaixonada e irracional.

No mundo inteiro, naquela porção civilizada e com nível escolar elevado – ou ao menos com uma tradição de leitura razoável – não se deixa de falar, nos termos políticos, em direita (conservador, pela manutenção do status quo) e esquerda (progressista, pelas transformações sociais). Não é porque caiu o Muro de Berlim, em 1989, que o socialismo deixou de existir, ou porque o capital financeiro entrou em colapso – salvo pelos governos ao redor do mundo – após a crise de 2008, que o capitalismo deixou de esboçar o seu ar triunfante.

Todos os embates para firmar hegemonias nas sociedades, ao redor do planeta, mesmo as mais atrasadas, se dão em torno destes dois temas: o Estado atuar, prioritariamente, em favor do social ou do capital. E colocar-se ao lado de um destes dois grupos é definir um campo conservador ou progressista.

Nos episódios que marcaram, até aqui, as eleições majoritárias no Brasil, percebemos nitidamente os campos. Tanto o que porta o relho – e os que o aplaudem – quanto os que levam o relhaço – e os que o deploram – posicionam-se nos lugares políticos definidos.

Tanto o que empunha uma faca, quanto o que é esfaqueado estão em campos distintos desta disputa dor hegemonia. E isso é condenável. De parte a parte, o que se vê é uma exacerbação que não faz bem à democracia.

Não é estimulando a violência que vamos resgatar a grandeza da Nação. Uma casa dividida, segundo as Sagradas Letras, trabalha contra si. E não se abre o caminho para a pacificação a ponta de faca. É preciso que tanto candidatos quanto eleitores se concentrem em projetos viáveis, em propostas exequíveis, deixando claro para qual campo estão trabalhando, a fim de o povo – muitas vezes estarrecido com o que vê – decidir pelo que considera o melhor para todos.

É o poder que emana do povo, apelidado de democracia pelos gregos e aperfeiçoado ao longo da civilização. Embora, seguidamente, por aqui, pareça não haver nem aperfeiçoamento, nem civilização.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a foto que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.

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