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Festim dos mortos – por Pylla Kroth

Dia de São João, dia de Nossa senhora de Fátima, dia de … enfim… tem até o dia de todos os santos. Dia 2 de novembro, escolhido também como Dia dos Finados. Dia este que sempre me intrigou um pouco, em criança me perguntava por que homenageá-los, se estão já mortos, se isto seria coisa da igreja, dos religiosos, dos antigos.

Se tivesse prestado atenção em aulas de história ou em leituras mais profundas entenderia, talvez, que sempre houve na história da humanidade o culto aos ancestrais e àqueles que já partiram deste mundo terreno para outros planos, etéreos, desconhecidos, que em muitas culturas aqueles que cruzavam a fronteira para o além-vida eram considerados até mesmo espécie de deuses, que as homenagens a eles prestadas não se tratavam, nestas crenças, de apenas homenagens, mas culto a divindades ou semi-divindades com poderes de interferir de alguma forma no plano material e na fortuna dos que aqui remanesciam.

No meu tempo de criança não era tampouco popular por aqui o dia de Halloween, comemorado a 31 de outubro, tradicional dos países do hemisfério norte e que atualmente se espraiou por todo globo em forma de festividade, oriundo primordialmente de um importante sabbath da cultura celta, incorporado e cristianizado posteriormente como o feriado de “a véspera do dia de todos os santos” (all Hallows eve), este sim um feriado cristão com intuito de suplantar a crença antiga.

Hoje em dia a criançada espera ansiosamente pelo ultimo dia de outubro, quando sai por aí fantasiada de monstrinhos carregando caldeirões com formato de abóboras “macabras” solicitando “gostosuras ou travessuras”, muitos ignorando completamente a origem da brincadeira, assim como alguns adultos também, que aproveitam a data para divertidas festas a fantasia onde “soltam seus bichinhos”, às vezes mescladas também às tradições mexicanas do Dia de Los Muertos. Ah, a globalização… Até o folclore deixou de ser local, restrito, endêmico, expandiu-se e principalmente comercializou-se.

Mas eu falava do Dia de Finados, tal como o conhecemos melhor, aquele dia em que visitamos os túmulos dos entes que já partiram desta para a melhor, limpamos, acendemos velas, colocamos flores, rezamos, etc, enfim, fazemos o “festim dos mortos”. A crença cristã instituiu este dia lá pelo século IV, e segundo ela este seria um dia propício para encomendar missas para os mortos para que suas almas fossem recebidas no reino de deus, segundo os religiosos depois de mortas as pessoas entram em estado de graça, mesmo os que não se transformam em santos.

Mas o certo é que todos vão para o lado dos separados.  E mais certo do que isso, penso eu, a única certeza que temos na vida é que um dia vamos todos morrer. E como passa rápido essa vidinha aqui na terra! E depois de mortos, se é que serve de consolo, sabemos que teremos alguém lembrando de nós nem que seja um dia por ano!

Esse tal de dia dos finados que desde garoto me intriga tanto quanto uma pergunta muito pertinente e que a resposta não sabemos com certeza: haveria vida após a morte? É uma questão de fé individual. Mas cada dia me convenço mais de que sim, por mais que até hoje ninguém tenha voltado pra nos contar, coisa que só saberemos quando a nossa hora de partir chegar.

Falando nisso… Para quebrar a morbidez do assunto e encerrá-lo, lembro de uma pequena piada que conta que certa vez dois amigos inseparáveis fizeram um trato: “quem morrer antes terá a obrigação de voltar aqui, que seja na calada da noite e confirmar a vida após a morte!” Aconteceu depois de um tempo que um deles veio a falecer. O que ficou vivo ficou ansioso na expectativa para receber a notícia vindo do além.

E numa noite o amigo acordou no meio da madrugada com barulhos vindo dos fundos de sua casa. Pensou rapidamente, levantou e foi até lá e falou olhando pra escuridão: “Quem esta aí? É você meu velho amigo?”, ao que houve sua resposta afirmativamente: “Sim, sou eu!”. E o outro curioso trata logo de perguntar: “Mas bah! E então existe mesmo vida depois da morte?!” O amigo falecido responde: “Sim, existe! Tenho duas notícias, inclusive, para te contar de lá, uma é boa, a outra nem tanto!”.

Espantado e curioso, o vivente  pediu que o amigo falecido contasse primeiro a boa, e depois a nem tanto. Este então largou: “A boa é que tem futebol lá em cima, rola uma bolinha legal todos os dias! E a nem tanto é que tu estás escalado para o clássico do próximo domingo!”

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