Iluminismos – por Orlando Fonseca
Iluminismo, movimento cultural do processo civilizatório, por volta dos séculos XVII e XVIII, chamou-se “iluminismo” exatamente por se contrapor ao obscurantismo da “idade das trevas”. Esta figura na história como algo carregado de significações relativas ao medievo, não isenta de crendices, fanatismos e fundamentalismos.
Trazer a luz para o terreno das decisões humanas, demasiadamente humanas – como se referiria Nietsche -, consistia simplesmente em apelar para a razão, algo que faltou nos séculos anteriores, em que falou mais alto o poder exercido em nome da fé. Os intérpretes da vontade divina censuraram, prenderam ou mandaram para a fogueira hereges, artistas, filósofos e cientistas, seguindo a vontade do Todo Poderoso.
E aí é que mora o perigo: quando alguém se diz portador de ordens vindas das Altas Potestades é quando começa a idade das trevas. Para isso, só mesmo a coragem iluminista. Estamos às portas de uma nova era de obscurantismos, não apenas em terras tupiniquins.
Foram alguns passos importantes até chegar ao desenvolvimento intelectual com base no racionalismo. A invenção da imprensa, no século XV, a qual tornou popular o livro e a leitura individual – antes o livro era caro e só mesmo os membros do clero e da aristocracia tinham acesso. O movimento humanista, que propõe a substituição do pensamento teocêntrico pelo uso da razão humana quanto aos temas (e destino) vinculados ao ser humano, esse habitante mortal, falível, volúvel do planeta Terra.
A reforma protestante, que abriu um cisma religioso, rompendo com o poder centralizado pela autoridade do Vaticano. O renascimento italiano, que trouxe para as artes as concepções estéticas greco-romanas, anteriores ao cristianismo. Um dos pensadores fundamentais dessa revolução foi Descartes, o pai do racionalismo, o qual recomendava como método a dúvida racional – e aí o valor revolucionário, pois era contrária a concepção secular da fé absoluta. Ou seja, para se chegar à verdade das coisas – e mesmo de Deus, pois ele era crente – é preciso suspender a crença e construir, a partir da dúvida, uma síntese do observado.
Desde o ano retrasado, chegamos à conclusão que vivemos uma era de posições tiradas de convicções e não de observação acurada dos fenômenos cotidianos. Convencionou-se chamar isso de “pós-verdade”, em que, ao contrário do método cartesiano, não produzem argumentos, teses, críticas a partir de fatos observados, mas de opiniões firmadas sem base alguma.
Nas eleições deste ano no Brasil – como já havia acontecido nos EUA, com a eleição de Trump – a difusão de “fake news” foi decisiva para o seu resultado. E a maioria da população, que em uma democracia forma o fundamento para a formação do poder central, esteve preocupada com “quem ia ganhar”, e não com os resultados que essa decisão trará para os quatro próximos anos no país.
É o reflexo desse obscurantismo em que estamos metidos. Contra isso, já nos ensina a História, é preciso muitos anos. No passado iluminista, pela falta de equipamentos, foram séculos. Agora, com o auxílio da tecnologia – desfavorável no momento, mas creio que os jovens acharão um meio de usá-la a favor da humanidade – podemos falar em décadas.
Vivemos um período de intolerância – que na Idade Média chamava-se heresia -, potencializado pelas redes sociais. A convivência com a diversidade sempre foi um problema na ordem das famílias, das fronteiras, das línguas, das crenças, dos gêneros ou da propriedade territorial.
A civilização – o humanismo – foi superando muitos desses pressupostos naturais, que a ignorância estrutural dos nossos dias põe por terra, sem pejo. É hora de se chamar para a luz os que ainda conseguem manter aquela chama que mobilizou os iluministas no século XVIII: a razão.
“Nas eleições deste ano no Brasil – como já havia acontecido nos EUA, com a eleição de Trump – a difusão de “fake news” foi decisiva”.
Parei de ler depois dessa frase. Uma pena… o professor escreve maravilhosamente bem, mas perde tempo com esse tipo de afirmação.
Não em vão esse post não tem comentário.