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O ônibus eleitoral – por Pylla Kroth

Certa vez, em pleno ano de eleições presidenciais, minha banda tinha agendado um show pelo noroeste do estado. Estava acertado que a banda pernoitaria na cidade onde faria o show e no dia seguinte, depois do café da manhã, voltaríamos a tempo de poder exercer nosso papel de cidadãos, indo votar.

E na política éramos bem divididos, embora comparsas de banda. Na ida foram diversos discursos políticos onde cada um defendia os seus. A maioria era de direita e a minoria de esquerda. O motorista do ônibus que sempre nos transportava, bem na dele, sem se manifestar em momento algum sobre que lado apoiava.

O mais eufórico nos discursos era o cantor que havia participado ativamente na luta pelas “diretas já” e lutou fervorosamente pelo fim da ditadura militar. Era o mais velho do grupo e no entender dele aqueles garotos eram uns “pobres moços”, como dizia Lupi, “há se soubessem o que eu sei”.

O show estava programado pra cedito da noite, pois se não me engano havia um toque de recolher, antes do dia de votação. Tudo foi um sucesso e a banda resolveu se estender noite a dentro na pacata cidade e assim, enquanto uns foram dormir um pouco mais cedo, outros chegaram no clarear do dia no hotel. Tomamos café e lá pelas 11 da manhã estávamos na estrada de volta pra casa, pois o trajeto de volta era longo, no mínimo 4 horas.

Naquele tempo não havia essas Vans rápidas, era um ônibus velhinho com motor 11-13, Mercedes Bens, que atingia a velocidade máxima, na banguela, de 80 km\h.

Mas a discussão sobre em quem votar, e agora na volta para casa ficou mais acirrada, ambos os lados passaram a discutir e levar a sério todas as deixas, partindo quase pra vias de fato, não fosse a turma do deixa disso. Por duas vezes o motorista parou o ônibus pedindo calma a toda tripulação. Na terceira parada já próximo uns 10km de uma cidade, ele desceu com toda calma, tirou a água do joelho central e quando botou a cara na porta, deu de encontro a dois do grupo que acabaram ofendendo um ao outro e partiram pro soco. Tirou o corpo fora, e toda rapaziada desceu para apartar a briga. Pelo jeito a banda estava com os dias contados. Depois da briga dificilmente aqueles dois iriam se bicar novamente, cada um para um lado. Esquerda, direita.

Foi ai que o motorista sumiu e apareceu somente uns dez minutos depois de darmos falta dele. Perguntou se poderíamos seguir viajem sem brigas e com a cara “enferruscada” esbravejou: “agora quem está no comando aqui sou eu, ninguém mais abre a boca, do contrário deixarei todos na beira da estrada”. Foi aquele silêncio. Sentou no seu banco de comando e começou tocar o arranque do Baú. “ Fróimm-fróim-fróim” e nada, nada do ônibus pegar! Todos ficaram tensos. “Uai? Que houve?” e ele se vira pra nós e se cala, desce do ônibus, fuça no motor, deita embaixo, tenta várias vezes e nada de sinal. Já eram 13h30 e nós todos na estrada, encrencados.

Naquele tempo não havia celulares e o jeito era esperar por alguém que por ali passasse para poder ir pedir socorro a cidade mais próxima. Em meia hora apareceu um agricultor trabalhador que resolveu levar o motorista até a cidade buscar um mecânico ou alguém que pudesse nos ajudar. Feito isso voltaram rápido, o conserto foi realizado, o ônibus pegou, e fomos embora novamente!

Ia tudo bem, até que no trevo de acesso da próxima cidade o motorista parou em um posto de combustível , pois queria lavar as mãos. Lá estava o senhor que nos ajudou, sentado como quem estivesse nos esperando. Descemos, a parada era pra ser rápida. Mas ao entrar no ônibus, novamente a encrenca não ligou!

Resumindo a ópera, dado o horário de encerramento das votações e das urnas, o jeito foi toda banda ir na caminhada cidade a dentro justificar o seu voto. Todos de caras emburradas foram e voltaram “a pezito” no mais, enquanto o motorista tratava de consertar novamente o ônibus. Feito isso rumamos de volta pra Santa Maria e desta vêz ninguém mais se atreveu falar em política no restante do caminho.

Passados anos, dias atrás me deparo com o velho motorista no centro da cidade com um “santinho” na mão, fazendo campanha política. Me interpelou e me pediu que eu votasse em seu partido, pois estava cansado e até hoje não tinha conseguido se aposentar. O jeito era no voto democrático. Aproveitou e me confidenciou que sua ideologia já lhe acompanha desde o tempo em que ele tramara junto com o mecânico naquela viajem: “naquele dia fiz as contas de quantos votos valeria a pena perder pra alcançar meu objetivo, e não me arrependo! Pena que hoje não tenho um ônibus inteiro cheio de gente pra impedir de ir votar, mas se tivesse, não pensaria duas vezes”. Guerreiro …velho guerreiro e suas artimanhas e táticas!

Por falar em táticas, neste domingo é dia de votação mais uma vez. Qual seria a tática? Ele me contou. Eu vou nessa, espero que funcione. Pois quero um país melhor, com direitos de cidadão adquiridos e assegurados pela democracia! Avante, meus bons!!! Até a vitória da maioria!!! Eu sou do povo, quem me conhece sabe das minhas boas intenções com nossa cultura e com nossa gente. Viva a Democracia!!!

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