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12º SMVC. O sensível “Yonlu”, de Hique Montanari, é atração hoje no SMVC. E quem fala aqui é o diretor

Tem mostra competitiva (veja a programação lá embaixo deste texto) e bem mais, na 12ª edição do Santa Maria Vídeo e Cinema. Mas tem, também, um filme pra lá de especial para ser visto no festival e, claro, fora da competição. Trata-se do pra lá de sensível “Yonlu”, de Hique Montanari  (na foto ao lado, de Divulgação) que, veja só, começou sua vida artística e profissional aqui mesmo na boca do monte.

Ele conta sobre o filme e bem mais para a repórter Liciane Brum, da assessoria de imprensa do SMVC. Que conta tudo a seguir. Acompanhe:

‘Um filme que mostra que vale a pena viver’, diz Hique Montanari sobre Yonlu. Confira a entrevista:

Yonlu, filme que relembra a história do garoto de 16 anos que teve seu suicídio assistido pela internet em 2006, será exibido nesta sexta-feira na Cesma. O diretor do longa, Hique Montanari, conversou conosco sobre a produção. Confira a entrevista abaixo

-Como surgiu a ideia de transformar em filme a história do Yonlu? Como foi o processo de pesquisa e construção do roteiro?

Hique Montanari – O suicídio do Yonlu aconteceu em 2006 em Porto Alegre. Foi uma história amplamente divulgada e narrada em detalhes. À época, me mantive em contato com o ocorrido de forma automática, porque aquilo envolveu muita gente conhecida, contatos de trabalho que conheciam os familiares. Era tudo muito novo, causou muita perplexidade e comoção. Mas naquele momento não tinha me ocorrido que isso tudo podia render um filme. Em 2007, foi lançado o CD dele, com 23 faixas, e em seguida, é lançado um CD internacional, lançado por um selo de Nova York, no qual o proprietário é o ex-vocalista da Talking Heads, David Byrne. Quando eu soube disso, de um CD internacional, lançado antes em Nova York e na Europa, e depois no Brasil, aquilo me instigou a revisar essa história.

Ele não era só um artista, era um artista internacional. Resgatei quem ele era, o que fez, o quanto produziu e acessei muitas informações como a quantidade de músicas que tinha feito, além de uma variedade de manifestações artísticas nas quais se envolvia. Ele era um poeta, tradutor, poliglota – falava cinco idiomas -, fluente em inglês. Era quadrinista, recebeu prêmios de concursos fotográficos. Era um artista completo. E para além de tudo isso, era um adolescente que teve seu suicídio assistido por um fórum internacional de suicidas. Pensei: agora tenho elementos dignos de uma narrativa. Comecei a trabalhar em 2009, e desse ano até 2016, fiz 12 tratamentos de roteiro.

Como tratar um tema tão delicado?

Hique –  Foi um processo muito longo. Em relação ao conteúdo, por óbvio tivemos a autorização da família para a produção do filme. Sem a autorização em contrato não seria possível produzir. A família do Yonlu acompanhou todos os tratamentos de roteiro, sabiam de tudo o que estávamos produzindo. Todo o conteúdo de roteiro teve a assessoria direta de profissionais da saúde mental, e assim que finalizado, o filme foi exibido para um grupo de profissionais da saúde. É preciso que assuntos como o suicídio sejam tirados do limbo do tabu, que venham à tona de forma séria, comprometida, não trate como um super-herói e ao mesmo tempo não vitimize. A mensagem que fica é a de que vale muito à pena viver. Por mais que o filme seja uma história triste, ele fala da vida. Ele fala que vale a pena viver, sermos mais empáticos, receptivos, que temos de aprender a ouvir e enxergar o outro, que não é feio você ter depressão, e que é preciso se colocar no lugar do outro. Você precisa buscar ajuda, conversar, compartilhar essas angústias e ansiedades.

– O filme tem uma estética e uma narrativa marcantes. Como foi a construção do processo da produção e direção de arte no filme?

Hique – Entramos em um processo de construção coletiva, embora tivesse o meu norte da criação. Com as pessoas sugerindo e incrementando, chegamos a resultados surpreendentes, desde o uso dos cenários – a locação do filme também serviu como estúdio, há cenas em que você vê refletores em quadro. Incluímos animação, live action, linguagem de documentário, elementos verossímeis da vida real para a ficção, flertamos também na linguagem de musical, videoclipe, cenários e texturas fotográficas. O mais impressionante é que foi tudo muito orgânico, encaixado e colado de uma maneira que fluiu. Na cenografia que construímos também usamos muito da trilha sonora, não apenas as músicas de Yonlu – que são 13 faixas do seu álbum internacional. As trilhas do Yonlu são as narrativas do filme. As informações das letras que ele cantava não estão na legenda apenas pela tradução, e sim porque ele cantava muito a sua vida nas músicas e isso está muito presente. Estamos trabalhando dentro de um estilo cinematográfico que não é muito usual de se ver nas produções nacionais. Foge muito do que se espera de um filme brasileiro. Ele grita muito nesse aspecto da veia artística.

Yonlu está tendo uma trajetória destacada em festivais e esteve em cartaz por várias semanas em todo o Brasil. Como tu vês essa acolhida?

Hique – O filme foi muito bem recebido pela crítica, tanto a de cinema quanto comentários de profissionais da área da saúde mental. Saímos da mostra de São Paulo, e a primeira crítica foi do Pablo Villaça, que postou um vídeo no YouTube, dizendo que é uma produção brasileira que é “a anti 13 Reasons Why” (série que também abordou o tema do suicídio). E que o filme trata do tema da depressão e suicídio com empatia, responsabilidade e seriedade. Aquilo pra nós foi uma receptividade e um retorno muito bom, pois foi uma crítica de uma pessoa especializada na área e que também sofre de depressão. Participamos de festivais no Rio e em São Paulo, onde recebemos o prêmio Abracine, com o melhor filme brasileiro de diretor estreante. Isso alavancou o filme e começamos a colher frutos. Nosso primeiro festival regional foi o Festival Internacional de Cinema da Fronteira de Bagé, onde ganhamos melhor filme de longa-metragem. Conseguimos produzir graças ao financiamento do Fundo Setorial do Audiovisual, pela Sedactel. É um trabalho que tomou uma dimensão em que hoje praticamente anda sozinho. As pessoas do Brasil inteiro estão pedindo para ver o filme na sua cidade. O trabalho da distribuidora acaba sendo seguir quem pede (risos).

Vieram outros retornos, de pessoas que saíam impactadas no cinema, mas um impacto em um sentido muito bom. Ele está sendo muito bem recebido, pelo fato de trazermos um assunto tratado como um tabu, e a forma esclarecedora, que traz com respeito e sensibilidade o assunto. E abre margem para muitas conversas. Em suma, Yonlu é um filme para ser visto em família, foi fantástico conseguir trazer isso de uma forma que se torne prazerosa.

Quais locais receberam o lançamento de Yonlu? E onde as pessoas podem assisti-lo?

Hique – O filme ficou três meses em cartaz no Brasil. Foram 12 semanas consecutivas, de 30 de agosto a 21 de novembro, com aproximadamente 8 mil espectadores. Lançamos em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Vitória, Salvador, Manaus, Palmas, Recife, Fortaleza, Teresina, Belém, e em outras cidades do interior. Voltaremos em cartaz em Porto Alegre, de 4 a 14 de dezembro, no Cine Santander. O filme também está disponível desde 1º de novembro no catálogo do NOW, da Net e Claro TV. Em breve, estará disponível em outras plataformas.

Tu tens uma relação afetiva com Santa Maria. Como vê esse momento de apresentar e debater o filme no Festival SMVC?

Hique – Eu nasci em Alegrete e, aos 16 anos, fui estudar em Santa Maria. Comecei fazendo química industrial, que nada tinha a ver com cinema. Em paralelo a isso, comecei a fazer teatro nas noites em Santa Maria, com o Grupo Presença. Essa experiência trouxe à tona meu lado para a área das humanas. Sentia que era o que eu queria, mas não exatamente era teatro. Queria bastidores. Direção era algo que me agradava. E o mais perto da direção de vídeo era o curso de Publicidade e Propaganda, que comecei a fazer. Consegui meu primeiro emprego na Art e Meio, onde me tornei diretor de comerciais de TV e rádio. Santa Maria está no meu início de formação, na minha realização audiovisual. Saí em 1992, onde vim a Porto Alegre e terminei meu curso na Famecos. O meu início no audiovisual foi em Santa Maria. Voltar com o Yonlu é especial. Santa Maria para mim é a minha segunda casa. Tenho uma paixão muito grande pela cidade. Amo Santa Maria. Para mim é um privilégio, ainda mais por ser na Cesma, onde ia locar DVDs e onde comprei meus primeiros livros de humanas. É voltar às origens.

Confira a programação de hoje:

(A programação será em novo local: CESMA)

14h – Mostra de curtas com temática infantil

16h – Exibição do longa-metragem Yonlu, de Hique Montanari, seguido de bate-papo com o diretor

19h – Mostras competitivas de curtas-metragens

22h – Zeppelin Bar – Cineclubar: cinema + bar

* Com exceção do Cineclubar, todos os eventos são gratuitos

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