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CONFLITO. Um pouco da Guerra Civil que já matou meio milhão de pessoas, inclusive crianças, na Síria

Foto da capa do livro Islã, de Paul Balta: a imagem de uma mesquita em que os seguidores da fé islâmica se reúnem

Por VICTÓRYA AZAMBUJA (texto e imagem), Especial para o Site

A guerra civil na Síria que teve inicio em janeiro de 2011, acontece até os dias atuais e é considerada um dos maiores desastres humanitários do mundo que não tem data para acabar. Conforme o jornal O Globo, em sete anos de guerra já foram mais de 511 mil mortos, entre eles crianças, jovens, mulheres, militares e até jornalistas.

Além da morte, diversos são os fatores que atingem a população que vive no conflito e não conseguem fugir. Na maioria das vezes sofrem com a falta de infraestrutura e alimentos, ficando mais de três dias sem água e comida. Além disso, são obrigados a deixarem as suas casas em busca de segurança. E na maior parte do tempo esta dura realidade não é tratada com importância.

No Brasil, a Globo News, em parceria com o fotografo e cinegrafista independente Gabriel Chaim, realiza a produção de documentários em que ele vai para os locais de guerra e acompanha o exército na retomada das cidades. Estes documentários têm como objetivo retratar a realidade do conflito, através de detalhes dos acontecimentos e algumas cenas fortes, além disso, é uma boa opção para estar por dentro da guerra e entender como funciona.

Em uma enquete realizada nas ruas de Santa Maria, com jovens acima de 15 anos, para saber se a população ainda sabe sobre a história da guerra da Síria e se acompanha a realidade dos civis que vivem no conflito através de documentários ou reportagens, dentre os mais diversos posicionamentos, obteve-se um resultado de 42 pessoas que sabem sobre a história da guerra e acompanham a realidade,  35 pessoas que não sabem da história e não acompanham. E 12 pessoas que sabem sobre a história do conflito, mas que não acompanham através de documentários ou noticias.

Entre as respostas obtidas na enquete, ressaltam-se duas. A estudante Brenda de Paula, 19 anos, fala que têm o costume de acompanhar as noticias sobre a guerra, e aprendeu a história no colégio.

– Eu sempre vejo nos sites de noticias quando falam sobre a Síria, e até já assisti uma reportagem que mostra como acontece, a história eu estudava bastante no colégio e é algo que acho muito interessante-, relata Brenda.

A aposentada Sirlei Maria de Oliveira, 70 anos, conta que sempre teve interesse sobre a história da guerra, mas não acompanha os acontecimentos.

– Já li diversos livros que contam a história, até vejo quando mostra alguma noticia na tv, mas não é com muita frequência, – afirma Oliveira.

HISTÓRIA

Para contar um pouco sobre a guerra da Síria atualmente, o professor e historiador Leonardo da Rocha Botega, fala que no Oriente Médio, hoje, existem inúmeros conflitos: na Síria, no Iraque, na Palestina, no Iêmen, na Líbia e, incluindo uma área mais ampla, na Somália, no Sudão do Sul, em Mali, na Nigéria, e até mesmo o choque corrido em 2016 entre a Armênia e o Azerbaijão.

–  Todos esses conflitos refletem os conflitos de interesses entre as grandes potências mundiais e os países da região. Um dos principais destes conflitos ocorre entre os interesses dos EUA e da Rússia. A Rússia tem sido a principal fiadora do governo Bashar Al Assad e sua única base militar no exterior localizada na Síria tem servido como ponto de defesa daquele governo. Os EUA são os principais interessados na deposição do governo Assad devido ao seu interesse nas reservas energéticas, sobretudo gás, daquela região. A política nacionalista de Assad contraria os desejos norte-americanos de exploração daquelas fontes- , relata Leonardo.

O historiador ainda conta que em torno destas duas potências outras forças regionais se alinham em blocos contrários ou favoráveis à derrubada de Assad. De um lado estão Israel, Turquia, Qatar, Arábia Saudita e o Estado Islâmico, que se originou no norte do Iraque durante os conflitos pela derrubada de Saddan Hussein, – com apoio militar norte-americano – e se expandiu pela Síria visando a deposição de Assad e a instalação de um Regime Fundamentalista.

– Este grupo tem posições semelhantes a defendida pelos EUA e não aceita nenhuma saída que não seja a deposição de Assad. De outro lado estão Irã, Líbano, através do Hezbollah, e grupos xiitas do Iraque que defendem a política pró-Assad, juntamente, com a Rússia, afirma Botega.

A guerra começa com o movimento da Primavera Árabe em 2011 e das Revoluções Coloridas financiadas pelos EUA para a deposição de governos como o da Ucrânia. O professor relata que os protestos iniciais se tornaram uma guerra aberta quando grupos de mercenários adentraram o território sírio pela Jordânia e pela Turquia.

–  Assim, organizando milícias para combater o exercito sírio, muitos destes fundaram o Exército Sírio Livre, juntamente com generais sírios pró-EUA que posteriormente formariam o governo provisório no exterior. Desde então o governo Sírio passou a receber auxilio militar e apoio logístico da Rússia e dos demais aliados, conta o historiador.

Botega também afirma que não é apenas de deposição de Assad que está em jogo. Há também a luta de outras nacionalidades como a dos Curdos, que na região de Rojava, desenvolvem uma experiência revolucionária que tem produzido uma nova forma de organização política baseada no Confederalismo Democrático.

– Esta é uma forma de autogestão comunitária multiétnica com igualdade de gênero e de classes sociais. As mulheres têm tido papel preponderante nessa Revolução através do YPJ, o exército feminino que luta pela independência do Curdistão e é parte do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). A região tem sido alvo constante de ataques por parte do governo protofascista da Turquia, que vê a independência do Curdistão (região que abrange parte do território turco, do Iraque e da Síria) como uma ameaça aos seus interesses estratégicos, menciona Botega.

Outro grupo que tem atacado constantemente e sofrido muitas derrotas nestes ataques contra as mulheres curdas é o Estado Islãmico. O historiador conta que a Revolução da Mulheres Curdas não possuía apoio de nenhuma das potências mundiais ou regionais, “porém tem conseguido articular com sucesso uma rede de solidariedade internacional que se espalha por todos os continentes, tem inclusive um Comitê de Solidariedade em Porto Alegre”.

Até o momento, o conflito sírio não indicou nenhum ponto de equilíbrio que garanta o seu fim. O professor Leonardo Botega fala que a Rússia e EUA não chegam a um consenso sobre o futuro do governo Assad, que tem se fortalecido nos últimos meses.

– Ao mesmo tempo, a Turquia segue a sua política de ataques, utilizando inclusive armas químicas contra a Revolução Curda, a Arábia Saudita segue apoiando militarmente o Estado Islâmico com auxílio de Israel e as tropas do Hezbollah, com apoio do Irã, seguem lutando em defesa de Assad -, relata o historiador.

OBSERVAÇÃO: para assistir aos documentários produzidos por Gabriel Chaim para a Globo News, só acessar Nowonline  e fazer o cadastro de degustação.

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Um Comentário

  1. Sempre culpam o petróleo. 90% das exportações da Siria, petróleo e gás, iam para a Comunidade Europeia. Exploração tinha grande participação de multinacionais, Shell, empresas da China, India, França e Inglaterra.
    História e relações internacionais, para quem não notou, são cursos diferentes.

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