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Sim à magia – por Orlando Fonseca

Com o tempo, as ocupações, o excesso de responsabilidades, a necessidade quase diária de ser pragmático nas decisões domésticas e nas grandes questões conjunturais, fui me tornando cético. Perdi o sentido de muitas crenças alimentadas ao longo da vida, desde a infância.

Tenho me esforçado, contudo, em manter esta zona de ingenuidade pueril, regando cada dia um canteiro de fantasias, na esperança de que as convicções não acabem por tornar árido o meu imaginário. Afinal, a arte e a literatura, em especial, são devedoras de um terreno fértil para o exercício da criatividade.

Entre a certeza do conhecimento, o excesso de confiança na ciência e o descrédito na capacidade humana, de resto não sei bem direito, mais, o que é acreditar. No entanto, há este reduto de ingenuidade, no fundo da minha alma – ou seja lá o nome que tem – esta porção íntima de onde me vêm certos predicados que reconheço como minha identidade.

Chamo-o provisoriamente de canteiro, ou um jardim (jardim de infância). Lá, ainda resiste uma tendência de pureza, de onde brotam certas inflorescências que podem muito bem responder pelo que, comumente, chamamos de fé.

Nesta época do ano, malgrado a atmosfera tóxica em que se tornaram as relações pessoais, é difícil não falar sobre o tema natalino. Não falta, nestas horas, quem queira comparar as expectativas por uma nova (?) temporada na política com a espera do Natal e suas magias.

Outro dia, trocando ideias com um cientista, dizia-lhe que, entre acreditar no Big Bang e no Papai Noel, escolhia este último. Óbvio que eu confessava isso na segurança de não ser cientista, de não ter sob minha atividade cotidiana a obrigação de empregar fórmulas matemáticas para chegar a um resultado prático e preciso.

De meu lado, falo com a irresponsabilidade de propor ao mundo – ao menos à porção que me possa ouvir – uma saída pelo ficcional, pelo humor, pela poesia. O meu amigo dizia que, na ciência, não há lugar para o “acreditar”. Mas, repito, como não sei distinguir entre crer e ter irrestrita confiança (embora seja um cientista que propôs a teoria da relatividade), fico com a ilusão.

Até mesmo para o mais empedernido incréu, o mais convicto cientista, a festa natalina é um motivo para distensão e alegria. Então por que não abrir mão, por estes dias, da racionalidade lógica, das teorias, dos tratados científicos e participar da magia por inteiro?

Já decidi: vestir por dentro o espírito do Natal é assumir toda a fantasia de sua celebração ritual. Do contrário, para mim, é como ir a um espetáculo de mágica e ficar o tempo todo tentando adivinhar como é que o mágico fez o truque.

Subvertendo o aspecto lúdico do espetáculo com a especulação lógica, afastamo-nos da possibilidade de alegria que o momento oferece. Que é um truque, não esqueço, mas ao sentar para assistir, estou diante de um prestidigitador, um ilusionista, e aceito ser iludido pela mágica, pela beleza do inusitado, pelas surpresas do paradoxo e do ambíguo. Por um momento, suspendo a descrença, assim como é necessário que se o faça diante de um romance, filme ou roda de jogo.

Por isso, no dia primeiro de dezembro, montei a minha árvore na sala, comprei o primeiro panetone do ano – só o degusto em dezembro – escolhi uma play list com canções natalinas, e já tenho a minha lista de presentes preparadas para o dia da confraternização.

Com que leveza caminho pela cidade enfeitada, as lojas decoradas (esqueço o apelo comercial da efeméride; de resto, o que não é comercial?). Estou preparando o meu jardim interior para a chegada do Bom Velhinho, que vem no sorriso e no abraço dos meus filhos, no convívio com as pessoas que amo, e na disposição das pessoas em se doarem felizes.

Logo em seguida chegará o ano novo e suas surpresas, pois tudo passa, e só permanece o que podemos guardar em nosso jardim de ingenuidades infantis. Feliz Natal!

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta nota é uma foto de João Alves, da Assessoria de Imprensa da Prefeitura, num dos eventos do “Viva o Natal 2018”

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