Cultura

ARTIGO. “Zanatta: Um Tropeiro de Esperanças e Solidões”, por Luiz Carlos Nascimento da Rosa

Por Luiz Carlos Nascimento da Rosa,
Professor do Departamento de Metodologia do Ensino da UFSM

Para as pessoas com muita sensibilidade e, uma singular paixão pelo mundo da Estética, neste contexto os amantes da Poesia, diz-se que o tempo bom é aquele que vem lavrado com os ditames da alma. O tempo bom, não necessariamente, é aquele descrito pela moça do tempo, nos diferentes espaços televisivos. O Poeta, em seu ato criativo, transforma o “ordinário”, da vida cotidiana, em extraordinário quando garimpa palavras e ideias para construir o seu poema.

A poesia e o tempo se fundem no mundo psíquico do poeta para fazer emanar a pluralidade dos fazeres e saberes que germinam em sua alma. Para o processo de trabalho do poeta não há tempo bom ou ruim, mas sua obra é o espaço de tempo de sublimar todas as formas de sentimentos universais que configuram ontologicamente o ser do humano. Nos bancos escolares, nós aprendemos que o tempo é uma simples variável, em uma equação matemática e Einstein demonstrou que ele, o tempo, é relativo.

Uma coisa é certa, mas não partilhada por todos, que não se deve perder tempo com picuinhas, bisbilhotar a vida dos outros e, resumidamente, a vida infelizmente é curta para se perder tempo com aquilo que não merece o empenho de nosso precioso tempo. Deveríamos, isto sim, estar constantemente refletindo sobre a nossa vida e sua relação com os outros e o tempo empenhado nessa hercúlea tarefa. Em qualquer fase da vida deve-se ficar maravilhado e contente se nos dermos conta de que estamos sendo capazes de usufruirmos a universalidade das possibilidades que a vida, o conhecimento e nossas relações com os outros propicia.

Neste contexto, de plurais e saudáveis relações humanas, podemos afirmar que a vida e a cultura de Santa Maria ficaram, ontologicamente, menos. Perdemos o Poeta, o Escritor, o Compositor e o generoso ser humano chamado Humberto Gabbi Zanatta. Produziu cultura e, na travessia de sua vida, esbanjou solidariedade, amor por sua atividade e pelos outros. Zanatta foi um grande amigo e companheiro de militância cultural e política. Sem sombra de dúvidas, em nossa vida cotidiana, andamos muito carentes de seres humanos bondosos, generosos e que façam do amor universal a sua marca e razão da existência.

Na mitologia grega, Prometeu foi uma das maiores figuras que subverteu a ordem e o poder para defender sua obra-prima: o humano. Sensibilidade e genialidade artística foram, revolucionariamente, sua grande marca. Muito se propaga e fala sobre amor e bondade, mas são poucos aqueles que fazem do amor a marca de suas existências. Além de suas maravilhosas construções estéticas, Zanatta e sua convivência, nos brindou com sua forma amorosa de ver e viver a vida. Bondade, agir colaborativo e amor forjaram seu modus vivendi em sua exemplar e maravilhosa travessia na vida. Foi um tropeiro de esperanças, solidões e lembranças.

Em sua lindíssima música, “LÉGUAS DE SOLIDÃO”, nos presenteou com esse inigualável verso: “Do roda roda do tempo vão sumindo/A junta mansa e a carreta velhos trastes/Porém a fibra do remoto carreteiro não há tempo ou pedregulho que desgaste”. Em sua música fez um verdadeiro garimpo afetivo de lembranças, nunca se esquecendo do ser humano que veio construindo, na passagem do tempo, a marca de sua singularidade na construção da História. Suas experiências no campo da música e dos poemas nos demonstraram, sem esquecer as adversidades dos excluídos, que é necessário e possível fazer verdadeiros cânticos de amor. Nos mais difíceis temas em debate, quem com o Zanatta conviveu jamais vai se esquecer de sua singeleza e elegância. Sem falar de suas brincadeiras e seu sorriso pleno. No meu entender, foi um verdadeiro artista e discípulo de Eros e Prometeu.

Todo artista é único e só, mas tem que ser dos bons para, em estado de reflexão, extrair de sua solidão um profícuo material para fazer sua diferença no campo da arte. Neste âmbito, meu amigo Zanatta, foi essencial e paradigmático. Em sua, também maravilhosa, TROPA DE OSSO versou: “Como era lindo a gurizada se entretendo com os ossitos que eram bois, ovelhas, potros./Noutras andanças toco as reses dos meus sonhos por um estreito corredor feito esperança./Algumas vezes sou tropeiro, outras sou tropa, mas sempre guardo os bois de osso na lembrança”. Não se intimidou em afirmar que, por vezes era tropeiro e, em muitas outras, por questões de ganância e poder, o Zanatta e nós, também somos tropa. Não tenho tanta certezas, aliás, tenho poucas, que Santa Maria é “A Cidade Cultura”, mas sobre uma jamais vou me enganar: Humberto Gabbi Zanatta foi um dos maiores expoentes da esfera cultural de nossa Santa Maria da Boca do Monte.

Como estou traçando algumas linhas sobre meu querido amigo Poeta que foi tropear em outras plagas, gostaria de lembrar aqui de um gigante poeta chamado D. H. LAWRENCE quando profetiza: “As flores atingem a sua ‘floridade’ – e é um milagre. Os homens não atingem a sua humanidade – e é uma pena”. O Poeta Humbertto Gabbi Zanatta soube, perfeitamente, captar e nos mostrar a ‘floridade’ da flor e, com sua arte, generosidade e amor foi ímpar como um grande ser humano.

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