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Dois minutos… – por Orlando Fonseca

… para o Apocalipse. No imaginário mítico mundial, em algum momento haverá o que a Palavra Sagrada anuncia com aquele nome agourento. Uma catástrofe total, um abalo de dimensões continentais, uma guerra – seria o Armagedon, segundo o mesmo Livro – com a totalidade das nações, querendo ou não lutar umas com as outras; uma destruição definitiva de tudo o que chamamos Terra. É o fim do mundo – ao menos deste lugar no universo que chamamos nosso – o que tratamos como o mundo, o Planetinha Azul que nos tem abrigado por milênios. Pois se você não sabe, segundo o Relógio do Juízo Final, faltam apenas dois minutos para essa hecatombe.

Antes que o leitor me tome como alarmista, é bom esclarecer que o tal Relógio existe mesmo, e está funcionando. Trata-se do nome dado ao índice de risco global publicado no Bulletin of the Atomic Scientists, lançado em 1945 pelos criadores da primeira bomba nuclear. Seus ponteiros marcam apenas a hora H. Há dois anos o relógio foi ajustado para dois minutos e não mudou nada de lá para cá. O que levou os cientistas a confirmarem, agora, aquele ajuste. Até 1947, quando esse organismo foi criado, a humanidade não tinha forma de se destruir por completo. Depois vieram a guerra fria, a corrida armamentista, o aquecimento global (pelo sim, pelo não, a coisa esquentou de verdade no clima). E antes que você pense que se trata de um bando de malucos o pessoal que publica o tal Bulletim, lembro que quinze prêmios Nobel pertencem ao grupo, que reafirmam a capacidade criada pela humanidade, com potencial de se autodestruir.

Malucos mesmo estão na galera que, ao revés de toda evidência, acredita na Terra plana, esboçando um pensamento raso enquanto os Cavaleiros do Apocalipse se aproximam numa marcha galopante. Após as disputas de posição mundial entre Trump, Putin, os chineses e a Venezuela, em que tratados nucleares históricos são abandonados, não podemos dizer que uma catástrofe bélica não esteja no horizonte. Quando o mar avança em inúmeras regiões litorâneas, não dá para afastar as evidências de mudanças climáticas e desdenhar como apenas delírios de ecochatos. Quando a biotecnologia e a inteligência artificial ocupam lugares jamais imaginados, não podemos ficar sem refletir sobre o destino do humano nisso tudo. Um cientista chinês, He Jiankui, anunciou recentemente ter criado os primeiros bebês geneticamente modificados – seres humanos transgênicos como o milho – contra qualquer limite legal ou ético.

Diria que o nome mais adequado seria Relógio da Falta de Juízo. O grande problema é que a ciência criou um artefato explosivo e o deixou na mão da política, onde impera toda sorte de vaidades e interesses. O Boletim de Cientistas Atômicos adverte que “estamos jogando roleta russa com a humanidade” – eu acrescentaria, roleta americana, chinesa e coreana. Para a presidenta do Boletim, estamos vivendo uma “tempestade perfeita”. O diagnóstico que o grupo apresenta é uma advertência sobre as condições atuais que, foram “agravadas no ano passado pelo uso crescente da guerra de informação para minar a democracia em todo o mundo, aumentando o risco destas e outras ameaças e colocando o futuro da civilização em um perigo extraordinário”. Assim como a peste negra matou entre 11% e 17% da população de todo o planeta, e a gripe espanhola fez um estrago nas mesmas dimensões, o perigo hoje é a deliberada desinformação, a soberba dos “sem noção” e o primado da ignorância. Se é possível retardar ou não o Apocalipse é difícil dizer, mas é prudente ficar de olho no Relógio do Juízo Final.

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