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ARTIGO. Paulo Pimenta e os atos do último dia 15. Defesa da educação pública brasileira foi para as ruas

A República dos Rufiões

Por PAULO PIMENTA (*)

Por evidente, não se inclui em qualquer programa de desenvolvimento de uma nação, que se pretende soberana, a destruição do seu próprio sistema educacional, com cortes dos recursos que alcançam da base ao topo, e comprometem a formação e a pesquisa. A atual ofensiva do governo do capitão contra as instituições de ensino parece ter tocado na corda sensível capaz de produzir uma reação – a primeira em nível de massas – de um segmento que historicamente cumpre um papel relevante nas mobilizações populares no Brasil: a juventude estudantil.

Ao atacar a área da educação, estrangulando as universidades e institutos públicos e impondo cortes até nos recursos destinados à educação básica, o governo recebeu uma resposta contundente, organizada a partir das entidades que vertebram os movimentos sociais: as entidades estudantis, dos professores, as centrais sindicais, os movimentos sociais dos trabalhadores, os movimentos culturais, as Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo e os partidos de esquerda.

As manifestações de 15 de maio revelaram uma poderosa energia social represada capaz de fazer frente à imposição da barbárie. Articularam o inconformismo de vastos setores populares diante da ofensiva sobre o sistema educacional com a defesa da democracia e a rejeição à famigerada Reforma da Previdência, que ataca de forma geral os setores mais populares e, de modo particular, as trabalhadoras e trabalhadores da educação. Deixaram claro que não apoiam Bolsonaro nem a sua agenda antipopular, antidemocrática e antinacional. Um importante contraponto à mídia e aos setores do denominado centrão que ensaiam uma oposição ao Presidente mantendo, porém, a defesa de sua agenda ultraliberal.

A resposta massiva dos movimentos progressistas contribui para que todos os setores da sociedade, mesmo os eleitores do capitão, percebam a gravidade da forma como está sendo conduzido o país, levando ao descalabro autoritário que vai reduzi-lo à condição de neocolônia. Os cortes no orçamento da educação pública farão com que o Brasil volte ao tempo dos altos índices de analfabetismo, exclusão escolar, e baixa capacidade de pesquisa e inovação. Em resumo, vamos produzir uma geração de excluídos educacionais, propensa a ser mão de obra barata para um mercado cada vez mais dependente dos interesses do capital internacional.

Este cenário representa uma insensatez capaz de quebrar os vínculos do país com o mundo contemporâneo, com a sociedade tecnológica e do conhecimento, com todos os requisitos que servem para distinguir uma nação soberana, que aspira reconstruir um projeto de desenvolvimento nacional autônomo. Além disso, rebaixa o Brasil a uma horda primitiva de párias sem fisionomia própria ao se apresentar diante do mundo.

Em cinco meses o Palácio do Planalto se converteu no caos, tratando somente de interesses restritos da familícia e de sua base social ideológica, como a liberação do porte de armas, a remoção dos pardais e a censura de comerciais de empresas públicas.

A ofensiva contra o sistema educacional, as Universidades Públicas, os Centros de Pesquisa e os Institutos Federais nos leva à constatação de um projeto que aposta na liquidação de qualquer aspiração de desenvolvimento independente para o Brasil. Repete-se, meio século depois, o dilema de 1964: no conflito entre os grandes players da política e da economia internacionais, EUA e URSS, não havia, naquele momento, espaço para o Brasil. Hoje, o país se encontra entre as dez maiores economias do mundo, mas como há 50 anos, deve renunciar a qualquer perspectiva de projeto nacional autônomo.

Aliado a isso, o charlatanismo se converteu em prática política quotidiana. Há poucos dias o governo brasileiro rosnou ameaças de invasão contra o território venezuelano instigado por Trump, no dia seguinte, determinou um corte de 42% no orçamento das forças armadas. Ora, não faz sentido falar em enviar tropas para o combate e no dia seguinte cortar o orçamento que lhes garantiria os suprimentos. Uma atitude como esta não pode ser séria. O governo não consegue conter a desmoralização inevitável diante de uma sequência sistemática de afirmações e desmentidos constitutiva de seu método para conduzir o país.

O mesmo ocorre com o famoso documento apócrifo distribuído esta semana pelo Presidente da República, comparado por vários analistas com a carta renúncia de Jânio Quadros. Diante da repercussão negativa até entre seus apoiadores, o capitão declara candidamente: “Eu só distribuí para algumas pessoas…”  E passa a apostar em uma manifestação marcada para 26 de maio para lançar uma cortina de fumaça sobre os olhos da sociedade e especialmente para proteger um dos filhos.

Caberia perguntar aos que têm a intenção de ir para a rua no dia 26 de maio: em nome do que vão se manifestar? Vão defender o Flávio Bolsonaro das acusações de corrupção? Vão defender o Queiroz? Ou vão defender o governo do pai que, em cinco meses, colhe recorde de desemprego, queda em todas as áreas da economia, isolamento internacional, descalabro na política ambiental? O único índice que se eleva no governo Bolsonaro é o índice de violência. Essa é a pauta da manifestação de 26 de maio?

Os movimentos estudantis, os movimentos sociais dos trabalhadores da educação somados a luta geral dos trabalhadores marcaram um novo encontro nas ruas em 30 de maio. As centrais sindicais se preparam para a Greve Geral em 14 de junho.

O Brasil desperta para reagir à barbárie e o caos que se instalou no país com a República dos Rufiões.

(*) Paulo Pimenta é Deputado Federal, líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a foto das manifestações de rua em Santa Maria no último dia 15, em defesa da educação pública, é da página da Seção Sindical dos Docentes da UFSM no Facebook.

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