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CRÔNICA. Orlando Fonseca e o clima da época. Se nem que sempre é hora de falar sobre ele – e até além

Climão          

Por ORLANDO FONSECA (*)

Houve um tempo em que se falava de um tal de veranico de maio. Sim, porque a estas alturas do ano, já vai alto o outono. Então, como um último suspiro da natureza antes do rigoroso inverno, ao sul do país, as temperaturas subiam para dar um alento aos saudosos do veraneio.

O sol se fazia generoso, já nem se pensava mais nas águas de março que levaram o verão. O clima tem uma semana para dar um jeito nisso, tá ok? Fim de semana que vem já começa a temporada das festividades juninas, quando será oportuno um friozinho, para se fazerem fogueiras, comer pinhão e tomar quentão – o que exige temperaturas adequadas.

Alguém há de me inquirir: e isso lá é hora de falar do clima? Não há clima para falar do clima. E eu responderei, no entanto, que foi falando do tempo, no elevador, no táxi, sem maiores compromissos, que deixamos o clima livre, leve e solto. Leve, nem tanto, que as coisas andam pesadas e feias nesta área, a observar o que nos chegam com frentes frias vindas da Antártida, e em lascas cada vez maiores das calotas polares.

Não podemos esquecer que foi um iceberg gigante que afundou o Titanic, e aquele seria apenas uma pedrinha de gelo perto dos que viajam frescos pelo Atlântico. Ou seja, tudo o que banalizamos em nossas falas despretensiosas sobre o clima é apenas a ponta de um iceberg.

Na Europa, ganharam força as jornadas conhecidas como Fridays for Future (Sextas pelo Futuro). A última da semana passada mobilizou milhares de jovens em alerta pela mudança climática. Eles chamam de greve global, com a intenção de cobrar das autoridades ações mais efetivas diante do que os boletins meteorológicos estão a mostrar todo dia.

Em Portugal, foram 51 localidades, em Hamburgo o protesto reuniu 17.500 manifestantes.  Em Berlim, podia-se ler nos cartazes: “O clima agora, os deveres mais tarde”, “Não façam a Terra explodir, os bons planetas são difíceis de encontrar”.

A primeira manifestação global aconteceu em 15 de março, motivada pela persistência de uma garotinha. A adolescente sueca Greta Thumberg faltava às aulas uma vez por semana, em Estocolmo, para protestar solitariamente, em frente ao Parlamento, pedindo leis que protejam o meio ambiente. Em agosto do ano passado, ela, que cursava o nono ano, decidiu não frequentar a escola, impressionada pelas ondas de calor e incêndios na Suécia.

Sentada ao lado de fora do Parlamento, todos os dias, levava em frente a sua “greve da escola pelo clima” como anunciava em cartaz. Isso chamou a atenção da população, da imprensa, e provocou o início de protestos organizados em outros países, como a Holanda, a Alemanha, a Finlândia e a Dinamarca.

Na Austrália, quando a gurizada começou a tomar as ruas, o Primeiro Ministro veio a público soltar uma pérola, no mesmo tom da que ouvimos dias atrás por aqui:  “mais de aprendizagem nas escolas e menos ativismo”.

Mas os jovens preferem escutar o que diz a pequena Greta, como no seu discurso na COP24 (Conferência do clima da ONU) da Polônia: “Vocês nos ignoraram no passado e nos ignorarão de novo. Não estamos mais no tempo das desculpas, não temos mais tempo. Viemos aqui para lhes dizer que, gostem ou não, a mudança está chegando. O poder real pertence ao povo.”

Não sei se teremos veranico, o clima ficou temperamental, e exige atitudes firmes para entrar nos eixos. Por aqui, são os chamados “idiotas úteis” que estão entendendo a gravidade da situação.

Antes que o país despenque por um tenebroso inverno, é preciso fazer o outono se comportar como tal e dar frutos e sementes de uma democracia plena, por um país justo e igualitário para todos, diante da exuberância deste paraíso natural, entre o Oiapoque o Chuí.

(*) ORLANDO FONSECA é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

OBSERVAÇÃO: a imagem que ilustra esta matéria é uma reprodução da internet.

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3 Comentários

  1. ‘Gravidade da situação’, pois bem, a tática orquestrada (vide últimas manifestações do Pimenta no site) da vez é tentar fazer prevalecer a visão de que a situação está muito pior do que a realidade mostra. Para que os ainda não saíram da década de 70 é agitprop, para os demais é mimimi.

  2. ‘Idiota útil’, algumas vezes ‘inocente útil’, é uma expressão que teria sido utilizada por Lenin para designar marxistas ocidentais que apoiariam cegamente qualquer ideologia desde que lhes poupasse de qualquer trabalho. Obviamente depois de instalada o regime totalitário a utilidade deixaria de existir. Questão é que não existe prova de que Lenin teria dito isto. Também não existe prova cabal de que não teria dito (ou seja, seria autoria de outra pessoa).

  3. Lembra poema de Antônio Augusto Ferreira que acabou virando música cantada por Jorge André Brittes.
    Clima é coisa de climatologistas, pessoal da metereologia. Questão é simples, curiosos tentam combater o aquecimento global e acabam dando argumentos para os céticos simplesmente por falta de conhecimento.
    Foi o Titanic que bateu num iceberg, não era coisa incomum por lá e ninguém sabe o tamanho, não é possível afirmar que seria ‘gigante’. Colisão ocorreu a noite.
    Não é uma pérola por motivo simples: a própria ‘manifestante’ já sabe que será ignorada, logo o protesto é inútil, melhor voltar para a aula. Lembra a lenda da Cruzada das Crianças.

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