A sétima e a nona
Por BIANCA ZASSO (*)
Quem acompanha, mesmo esporadicamente, esta humilde colunista, sabe que aqui o papo é cinema, mas que, de tempos em tempos, outros assuntos acabam entrando nestas linhas. Afinal, a matéria-prima principal dos filmes, por mais fantásticos que sejam, é a vida. A minha, a sua, a de todos nós.
Hoje, por conta de um encontro importante e bacana que acontece na UFSM, falaremos de histórias em quadrinhos. E, caso você ainda carregue o preconceito de que isso é coisa de criança, minha prece é para que você chegue ao último parágrafo livre dele.
Dados os recados, vamos ao que interessa. Desde ontem, o auditório do Colégio Politécnico recebe artistas, escritores, pesquisadores e amantes da Nona Arte (sim, HQ é arte!) para discutir a edição, distribuição e pesquisa acadêmica dos quadrinhos.
Organizada por uma turma incrível, que inclui o professor e escritor Enéias Tavares, o editor Lielson Zeni e a editora e professora Maria Clara Carneiro, o UNIQ – Universidade em Quadrinhos, teve sua primeira edição no mês de maio, na UFRGS, e agora desembarca na nossa universidade para mostrar um cenário que cresce a cada dia, apesar das pedras no caminho.
Se produzir quadrinhos num país como o nosso, com cada vez menos incentivos à educação e ao pensamento crítico, imagine transformá-los em objeto de pesquisa nos bancos escolares. Ainda há alguma resistência do ambiente acadêmico quanto ao estudo de nomes como Jack Kirby, Hugo Pratt e mesmo sobre o nosso velho conhecido Maurício de Sousa.
Mais que uma forma de dar início a vida de leitor, os quadrinhos são uma forma de arte que permite falar de questões como raça, gênero, política e, porque não, cinema. Se nossas salas de exibição estão tomadas por produções de super-heróis, é porque um dia alguém olhou para um gibi e percebeu ali um roteiro. E uma forma de encher os bolsos dos estúdios, é óbvio.
Iniciativas como a UNIQ são necessárias nos nossos tempos não apenas por darem voz aos criadores da nona arte nacional, mas também por criar um ambiente de questionamento que abre nossos olhares para outras formas artísticas, além de deixar claro para quem ainda não abriu a janela da descoberta que histórias em quadrinhos podem nos acompanhar ao longo de toda vida, e não ser apenas uma distração de infância.
Por isso, se eu fosse você, abriria o baú das lembranças, com seus Tex, Cebolinhas e Recruta Zero, e iria descobrir novos artistas e ideias lá na UFSM. Olhe para sua estante e perceba que o seu “porte de armas” já foi liberado há tempos. Livros, filmes e histórias em quadrinhos são nossa munição. Que venha a revolução!
(*) BIANCA ZASSO, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009. Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.
Óbvio que HQ’ são arte, basta observar os trabalhos de Guido Crepax, Milo Manara, Alan Moore, Neil Gaiman, Frank Miller, etc. Quem não quiser ir tão longe basta passar na Terra X Comics (que tem pagina no Face) e falar com o Abel que manja da coisa.