Meritocracia para quem?
Por MICHAEL ALMEIDA DI GIACOMO (*)
Na última semana detive minha atenção ao debate sobre a provável indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada Brasileira nos Estados Unidos da América. Há muitos pontos que podem ser analisados. No momento, fico com a origem da indicação, comum a qualquer um que almeja ocupar o posto de embaixador.
Todos sabemos que para desempenhar as funções de embaixador é preciso ser indicado pelo presidente da República e, passo adiante, ser aprovado pelo Senado Federal. Não há novidade. A regra é que você faça parte da carreira diplomática brasileira. A exceção é que tenha relevantes serviços prestados à Nação e seja um brasileiro de reconhecido mérito.
A meritocracia, na obra do jornalista de gestão britânico Stuart Crainer, tem seu nascedouro na ação de Napoleão Bonaparte ao decretar que a origem de nascimento não mais contaria para ocupar cargos públicos. Não importa o sangue “azul” do postulante, mas toda a sua competência aliada a uma jornada que justifique a sua indicação/nomeação.
Ainda na letra de Crainer, o Imperador dos Franceses foi o primeiro líder a criar uma meritocracia ao defender que a “competência era mais importante que a linhagem”. Assim, muitas sociedades evoluíram na aplicação do referido conceito a justificar políticas públicas na ideia de que o “homem faz por si mesmo, apenas com seu próprio empenho”.
É inegável que – mesmo entre brancos privilegiados – ocupar o cargo de Ministro de Primeira-Classe (Embaixador) exige muita dedicação no encontro do mérito que chega para poucos. E demora.
Nessa caminhada, um exemplo na concretização do sonho de viver em meio ao mundo diplomático pode ser visto na história de Benedicto Fonseca Filho. Seu pai era agente de portaria no Itamaraty. Ele chegou ao cargo de embaixador em 2011. Fez concurso em 1985. Na época tinha 22 anos.
Devido ao fato de seu pai ter prestado serviço em vários países, Benedicto teve a oportunidade de estudar em ótimas escolas internacionais, conhecer culturas e novos idiomas. É o primeiro negro brasileiro a ocupar o cargo de embaixador. Houve oportunidade e, sem dúvida, mérito.
O componente a ser destacado em toda essa discussão – talvez o único – reside no “sincericídio” do presidente da República em afirmar que não vê problema em beneficiar seu filho ao indicá-lo para ocupar a embaixada brasileira na América do Norte. Diferente do pai de Benedicto, que o preparou para um dia vir a ser embaixador.
É a primeira vez que vejo um presidente da República assumir publicamente que fará uso do seu poder para beneficiar uma pessoa que tem seu sangue a correr nas veias. Há a oportunidade. E o mérito na indicação? No Brasil, como resta comprovado, surge muito mais como narrativa de proteção. Assim a joia da coroa será repartida somente entre os amigos do rei.
O episódio demonstra claramente que o conceito de meritocracia é usado pelo cidadão de “bem” somente a fim de validar seu argumento de que a não ascensão social dos mais pobres se dá por falta de mérito, ou seja, de esforço próprio. Simples assim.
(*) Michael Almeida di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestrando em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.
OBSERVAÇÃO DO EDITOR: A imagem que ilustra este artigo é uma reprodução de internet. Ela foi retirada deste endereço: https://www.canaoeste.com.br/artigos/meritocracia-tambem-entra-em-jogo/ (que não revela o autor da arte)
B17 e 02. Deve ter algum motivo com uma lógica que não é bem a minha. Também não interessa, quem comprou a briga que se vire. Não interessa o embaixador em Washington tanto quanto o embaixador ne França ou na Alemanha. Interessa é o SUS, os milhões de desempregados, a educação, etc. Fica arquivado em ‘falsas polemicas’.
Do início. Corpo diplomática brasileiro é composto de três ou quatro tribos. Muito civilizadas, nem sempre amistosas. Quando alguém diz que ‘é uma das melhores do mundo’ cabe perguntar ‘melhor para quem’ e ‘quais os critérios de avaliação’. Quando falam em ‘grandes serviços prestados’ é bom perguntar 5 exemplos.
Serviços prestados à nação e reconhecido mérito, ambos tremenda cascata. Itamar Franco foi mandado para Portugal por Efeagá para não incomodar. De Portugal foi para Washington, OEA, mesmo sem dominar o idioma. Voltou, virou governador de Minas e tentou voltar a presidência, não conseguiu. Assis Chateaubriand, aquele que condecorou Churchill com a Ordem do Jagunço, foi embaixador do Brasil no Reino Unido, saiu do Senado para isto.
Meritocracia? Ideli Salvatti após derrota eleitoral não ganhou boquinha na OEA? Jussara Cony (PCdoB) não ganhou a superintendência do Grupo Hospitalar Conceição? Lista não termina,