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Ditadura branda – por Luiz Alberto Cassol

Esse será um texto indignado. Certamente um pequeno desabafo. Escrevo por dois momentos diferentes que acompanhei nesta semana.

O primeiro foi o fato do cineasta Silvio Tendler, residente no Rio de Janeiro, capital, ter sido intimado a depor ontem (quarta), 19 de dezembro, na 5ª DP, localizada na Rua Gomes Freire, próximo ao antigo DOPS (Rio de Janeiro).

Em função disso, nós, cineclubistas das diretorias do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC) e da Federação Internacional de Cineclubes (FICC) redigimos um manifesto conjunto que foi divulgado em várias listas na web que discutem o audiovisual.  Assim como nós, inúmeras outras entidades do cinema brasileiro e internacional também se manifestaram em apoio ao Silvio com diferentes cartas e textos.

Reproduzo parte do manifesto cineclubista para que se entenda melhor a situação: A intimação se refere a um possível “constrangimento ilegal qualificado” por conta de seu vídeo de apoio ao ato público realizado na porta do Clube Militar 31 de Março onde estava sendo realizada cerimônia em “homenagem” ao aniversário do golpe civil-militar de 1964 e ao regime autoritário.

Esse fato – para dizer o mínimo – é arbitrário!  Trata-se de um cineasta manifestando sua arte. Sua liberdade de expressão.

O segundo momento que vivenciei foi postado pelo destino. Após sair nesta quinta-feira de uma reunião, entro em um táxi para o novo destino. Estava lendo um relatório e o áudio do rádio estava num volume baixo.

Prossegui absorto em minha leitura de um relatório de final de ano do meu trabalho. No entanto, pude ouvir uma ouvinte dizer mais ou menos o que segue. Ela afirmava que a solução para o Brasil era uma ditadura branda. Uma ditadura, digamos assim, nem lá, nem cá.

Novo absurdo. Como esta senhora pode falar isso. O que vivemos no país a partir de 31 de março de 1964 até meados dos anos 1980 foi um dos mais nefastos períodos que um país viveu ou sobreviveu ou morreu!

Não consigo acreditar até agora no que ouvi. Uma voz terna e segura de uma senhora que diz que deseja uma ditadura e que a mesma pode ser branda.

Não existe meia ditadura. Existe ditadura. E essa não queremos nunca mais para o nosso Brasil. Não queremos nem a palavra. Desci do táxi e aquela afirmação ficou retumbando.

Lembro-me de minha infância nos anos setenta e da adolescência nos anos oitenta. Lembro-me de como as coisas aconteciam, veladas, caladas e o medo sempre presente nos rondando.  Pessoas presas, torturadas, mortas.

Ditadura que nada. É preciso refletir minimamente antes de pronunciar uma frase que evoque qualquer tipo de ditadura. Pesadelo cruel e real que vivemos em nosso país. Não!

Agora somos libertos, republicanos, democráticos. Assim vivemos podendo discordar política e ideologicamente.  Podemos nos expressar. Ir e vir!

Viva a liberdade de expressão.

Obs.: Reproduzo abaixo texto/manifesto do CNC e da FICC

O Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC) e a Federação Internacional de Cineclubes (FICC) expressam total apoio ao cineasta/documentarista Silvio Tendler, intimado a depor nesta quarta-feira, dia 19, na 5ª DP, Rua Gomes Freire, perto do antigo DOPS (Rio de Janeiro). 

A intimação se refere a um possível “constrangimento ilegal qualificado” por conta de seu vídeo de apoio ao ato público realizado na porta do Clube Militar  31 de Março onde estava sendo realizada cerimônia em “homenagem” ao aniversário do golpe civil-militar de 1964 e ao regime autoritário.

O CNC e a FICC repudiam qualquer forma de repressão à liberdade de expressão e denuncia o constrangimento e a injustiça que Sílvio Tendler está sendo submetido.

Direção da Federação Internacional de Cineclubes
Direção do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros

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Um Comentário

  1. Amigo Beto Cassol!
    Parabéns pelo texto que escrevestes e digo só quem viveu numa ditadra sabe o sofrimento que a mesma tras.Quantos jovens perderam suas vidas? Quantas mães ainda choram pelos filhos que perderam? Quantos filhos não tiveram o direito de crescer junto com os pais? Quantas pessoas hoje ainda sofrem o trauma das torturas? Felizmente terminou o inferno dos anos de chumbo e temos liberdade e democracia até para essa senhora falar essas bobagens.

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