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CIDADE. Pichações e graffitis nos muros e paredes: por detrás de cada rabisco, uma história a ser contada

Da revista ARCO, com reportagem de BIBIANA PINHEIRO e Ilustração de DEIRDRE HOLANDA

Pichações e graffitis chamam atenção para as paredes e muros da cidade; por detrás de cada rabisco, há uma história a ser contada. Para o Estado, as pichações são pinturas sem concessão – diferentemente dos graffitis, que têm respaldo da lei e da sociedade. Já na perspectiva dos pichadores/grafiteiros, questões estéticas e de reconhecimento norteiam suas práticas, que permeiam também o campo da arte, expressão, vandalismo e bem privado. Nesse sentido, a dissertação Etnografia de uma cidade redesenhada pela pichação/graffiti se propôs a entender como são vistas as práticas de pichação/graffiti no debate público e, principalmente, sob o olhar de quem as faz.

De 2014 a 2017, o então mestrando em Ciências Sociais Rodrigo Nathan Dantas desenvolveu um trabalho etnográfico com 24 pichadores/grafiteiros em Santa Maria. A pichação esteve na vida do pesquisador desde a adolescência – nos primeiros contatos com a música, principalmente o rock, nos desejos e anseios da juventude e na forma como é percebida a cidade. Já no papel de pesquisador, Rodrigo conta que buscou construir um trabalho polifônico, que foge das interpretações romantizadas, e procura apresentar uma perspectiva “mais barulhenta”, na qual “a pichação/graffiti aparece como ponto de encontros discordantes, onde as identidades e as posições são flexíveis e transitórias”.

Partindo do questionamento da diferença entre pichação e graffiti, o pesquisador levou em conta a própria forma como os entrevistados se identificam – em geral, os grafiteiros são ou já foram pichadores em algum momento, portanto os termos escolhido para referi-los na pesquisa foram “pichação/graffiti” e “pichadores/grafiteiros”. Nas palavras do pesquisador, não se trata simplesmente de pichação – aquilo que é visto como ilegal, sujo, feio ou crime – versus graffiti – aquilo que é visto como legal, limpo, bonito ou arte.

Para traçar aquilo que é comum ao grupo, o pesquisador acompanhou os pichadores/grafiteiros em encontros pela cidade, fez parte do Intelectuais do pixo, interagiu em grupos e páginas do Facebook e dividiu apartamento com um dos pichadores/grafiteiros durante seis meses. As histórias narradas por eles, as observações do pesquisador nos encontros e eventos na cidade e as fotografias de pichações/graffitis construíram o diário de campo da pesquisa. Alguns trechos desse diário que compõem a pesquisa foram selecionados e podem ser conferidos a seguir.

O dono de uma loja de street art

Em oficinas ministradas na sua loja, o dono chama atenção para a inquietude que é a pichação. Nas oficinas, ele sempre procurou frisar que ele vem do “movimento da pichação” e reconhecer que ela está na “origem do graffiti”, afirmando, no entanto, que hoje se identifica mais com este do que com aquela. Percebi que suas falas são de alertas do legal/ilegal: “A pichação dá muita adrenalina. Quando a pessoa tem entre 14 e 18 anos, ela quer e precisa fazer parte de um grupo. Ver a assinatura espalhada pela cidade dá uma sensação muito boa, tem muitos riscos, no início isso é bom, mas depois isso vai passando e o cara vai entrando em outras”.

Nos trilhos

Na volta de um mutirão de graffiti, um dos pichadores/grafiteiros me convidou para ir embora pelos trilhos em direção à Vila Leste. O pichador que fez o convite narrou sua história: “Bah, sou fissurado por trens e trilhos, não apenas para pintar, mas porque acho que eles têm tudo a ver com a cidade. Esses trilhos são as veias de Santa Maria, foi a partir deles que a coisa começou. Quero ver se volto a fazer uns trampos em trens. Quando você pinta no trem, quem vai curtir o trem vai ser a galera que tá ligada nessas questões da linha, a grafitagem de trens e seus riscos. E aí, o trem vai daqui até o Paraná, por exemplo, e o pessoal que pinta no Paraná vai ver. E daí entra em contato. Perguntei se todo pichador/grafiteiro da cidade gosta de pintar trens. Respondeu: “Acho que não, isso é mais para quem é ‘das antigas’, as novas gerações preferem muros e subir em prédios”.

Tretas feministas

Como estratégia de introduzir momentos de dissenso nas reuniões e nas aparições públicas do grupo Intelectuais do pixo, o qual participei como forma de discutir sobre pichações/graffitis na cidade, questionei suas próprias pré-noções argumentativas. Com isso, permitiu que viessem à tona informações e questões do campo da pichação/graffiti que talvez não viessem se eu me restringisse a observar ou a ser plenamente conivente com tudo o que o grupo diz e pensa. Relato de uma das pichadoras/grafiteiras, após introduzir questões provocadoras no grupo: “Tem pichador que não suporta a ideia de ter mina pichando no rolê, ainda mais se as mina forem feministas. Tem uma crew de uns guri de bosta que só saem pra atropelar o trampo das minas. Tem muito machismo no meio da pichação. Tem mano que bate na mina. O feminismo é necessário”. “O pior é que tem mina machista também”, disse outra.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) Com locução de Marcelo De Franceschi, o original também traz uma versão em audio.

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Um Comentário

  1. Kuakuakuakuakua! Está provado ‘cientificamente’, pichação é arte! Mais um exemplo de dinheiro público bem gasto, os pacientes do HUSM agradecem! Kuakuakuakuakua! A cidade não está suja, está enfeitada com ‘arte’! Kuakuakuakua! E no câmpus, tem muito picho?
    ‘A pichação/graffiti aparece como ponto de encontros discordantes, onde as identidades e as posições são flexíveis e transitórias’, ou seja, um bonde picha em cima do picho do outro para marcar território. Kuakuakuakuakua!

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