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Respeite o dragão – por Bianca Zasso

biancaApresentar uma cinematografia ou mesmo um diretor para alguém é um prazer imenso. Há uma sensação de conforto quando passamos adiante os filmes que fizeram parte da nossa vida. Entre as minhas proezas de mestre cinéfila (mesmo que meu mestrado ainda não tenha começado) está ter apresentado para um bom número de amigos o encantador cinema oriental.

Produções do Irã, Japão e China saíram da minha coleção direto para a lista de favoritos de várias pessoas e isso me enche de orgulho. No entanto, muitos desconhecem como está que vos escreve descobriu a Sétima Arte produzida do outro lado do globo. A resposta certa é prateleiras misteriosas. Vou explicar.

Nos meus primeiros anos de interesse pelo cinema, poucas eram as opções, já que minha morada era no interior e minha mesada não garantia muitas idas até a “cidade grande” para sessões de tela grande. Minha saída foi me valer da curiosidade latente e das poucas opções das locadoras locais. Resumo da ópera: eu assistia de tudo. Nesse “tudo” estava a chave que abriu minha porta rumo aos atores e diretores que falavam uma língua complicada e praticamente desconhecida por mim.

Meus caros leitores, esta chave chama-se Bruce Lee. Entre as opções que me restavam, os filmes de artes marciais conquistaram espaço na minha preferência. Era divertido passar tardes na companhia de um rapaz que dava socos e golpes com precisão e ainda conseguia contar uma história. Nada complexa, mas uma história.

O gênero levado para Hollywood por Lee e imortalizado por atores como Sonny Chiba e diretores como Lo Wei até hoje, com toda a evolução da humanidade, sofre os seus preconceitos. Poucos levam em consideração que, se não houvessem as produções de baixo orçamento em Hong Kong, hoje ela não se acotovelariam nas filas do cinema para ver coisas como Os Mercenários. Graças aos golpes executados com pouca grana e muita vontade, as histórias da Yakuza, a máfia chinesa, e o kung-fu ganharam admiradores em todos os cantos do planeta.

Entre as milhares de produções, incluindo as feitas pela produtora Shaw Brothers, uma das mais famosas do período de ouro das artes marciais, gostaria de destacar uma da qual guardo boas lembranças e acho ser um bom começo para quem quer se arriscar nesse mundo. O voo do dragão, lançado em 1972, marca a estreia de Bruce Lee como diretor e roteirista.

A trama não é nada complexa. Lee interpreta um jovem que sai de Hong Kong para ajudar um tio que mora em Roma e está sofrendo com ameaças da máfia. Sua função é ensinar a família e também os funcionários do restaurante de seu tio técnicas de kung-fu para que possam enfrentar seus inimigos.

Daí em diante, o que temos é uma série de ótimas sequências de lutas onde Bruce Lee demonstra suas habilidades. Não espere grandes atuações ou momentos dramáticos intensos; filmes de artes marciais não são para isso. Não se deixe levar pelos comentários de este tipo de produção não vai te ensinar nada. Diversão faz bem ao cérebro; pergunte ao seu médico e verá.

O auge de O voo do dragão não tem mafiosos, nem cadeiras voando ou perseguições pelas bandas da Fontana Di Trevi. O ponto alto é o encontro, em pleno Coliseu, de Lee com um campeão de karatê contratado pela máfia para destruí-lo. O nome do personagem é Colt, numa clara referência aos faroestes americanos.

Mas o que importa mesmo é o ator que dá vida a esse vilão. Mesmo que você nunca tenha passado por uma sessão de filmes na TV aberta nas noites de domingo ou conheça a história do atleta que virou ator e ícone de coragem com certeza você conhece Chuck Norris. Ele era apenas um aspirante a astro quando participou do filme, que exigiu muito mais de seu físico do que de seu talento para o drama.

Sei que muitos vão ler este texto e, mesmo assim, continuar olhando torto para os filmes de artes marciais. Também pudera, esta colunista não está no centro do país nem preenche os requisitos para ser uma influenciadora de mentes da nossa cidade. Porém, sou sincera e não tenho medo de dizer que eu só cheguei aos filmes de arte e aos grandes cineastas por meio de produções nada caras e requintadas.

Cada golpe mexeu com a minha vontade de aprender mais. Se não fosse Bruce Lee, quem sabe eu ainda estaria parada, esperando o cavalo encilhado passar carregando uma obra de arte. Não menospreze quem lhe abre portas, já diria a minha mãe. Assista a O voo do dragão. Aproveite. Vibre. Dê risada. O poeta Ferreira Gullar define bem isso: “A arte existe porque a vida não basta”. E precisa de uns bons golpes para seguir em frente.

O voo do dragão (Meng long guo Jiang)

Ano: 1972

Direção: Bruce Lee

Disponível em DVD

 

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