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CRÔNICA. Gilvan Ribeiro, o Pan Americano de Lima e causas para resultados tidos como ruins na canoagem

O barco do Brasil está furado?

Por GILVAN RIBEIRO (*)

Estamos em época de Jogos Pan Americanos, um momento especial, principalmente para aqueles esportes que na maior parte do tempo não recebem muita atenção da mídia. O Pan pode ser considerado a Olímpiada da América e portanto é natural que a cobertura midiática seja mais intensa durante esse evento.

Na minha carreira como atleta profissional, tive a oportunidade de participar de Guadalajara em 2011 e Toronto em 2015. Ao colecionar três medalhas nestas edições me tornei o atleta santa-mariense que mais vezes subiu no pódio em Jogos Pan. Para além da satisfação pessoal de ter alcançado tais feitos, me restam fotos, boas lembranças e um reconhecimento simbólico por parte dos que me conhecem.

Sobre o Pan de Lima, que deve acabar no próximo dia 11 de agosto, o Brasil está fazendo uma boa campanha e encerrou a sexta -eira (02) disputando com o Canadá o pódio entre países.

No geral, o esporte brasileiro sempre se mostra muito competitivo em nível continental, no meu esporte (canoagem) realizamos uma campanha histórica no Pan do Canadá, trazendo para casa um saldo de nove medalhas no total. Infelizmente este ano foi muito diferente, para não dizer trágico. Com apenas três medalhas conquistadas, a canoagem saiu do melhor para o pior resultado na sua história pan-americana.

Na prova do quarteto (k4), por exemplo, o time brasileiro chegou na 6° (penúltima) colocação, deixando de estar entre os três melhores da América, posto que vinha sendo mantido há duas décadas. O histórico é esse: 1995 – Mar de Plata – 6° colocação, 1999 Winnipeg – Bronze, 2003 Santo Domingo – Prata, 2007 Rio de Janeiro – Ouro, 2011 Guadalajara – Bronze, 2015 Toronto Prata , 2019 – Lima 6° colocação.

É muito provável que poucas pessoas tenham se dado conta desta infortuna colheita da canoagem velocidade em Lima. Nosso esporte não é popular como o Futebol e o Vôlei, então os resultados negativos causam menos impacto. Por um lado isso é bom, a cobrança que os atletas recebem se restringe a eles mesmo e à nossa Confederação. E se algo chega a olhos da mídia, afinal, no Pan nós temos mídia, é muito provável que o jornalista irá se consolar com qualquer explicação que possa vir para justificar este resultado.

Isso ocorre por dois motivos. O primeiro está ligado á questão da cobrança popular em relação a este esporte que poucos torcem e acompanham. Se não há torcida cobrando, os jornalistas também não se sentem na obrigação de cobrir e explicar detalhes do acontecido. Segundo, porque existe uma queixa (quase sempre real) de que esportes como a Canoagem recebem pouco investimento.

Se algum atleta ou gestor da modalidade responder que o débito de medalhas se deve ao baixo investimento, não há jornalista nesse Brasil que irá contester; afinal, este é um fato real, quase unânime entre os esportes não populares do país. Neste sentido a mídia faz uma espécie de mea culpa ao reproduzir o argumento de que não há investimento, pois de fato quase sempre não há.

Prova disso é a matéria publicada no site do UOL no dia 30 de julho deste ano, em que o chefe de equipe da canoagem velocidade do Brasil mostra o quão eficiente é este argumento de “não temos grana”, para justificar ou até mesmo prever fracassos.

Isso mesmo, prever, pois na matéria do UOL diz assim: Antes mesmo de começar o Pan, Alvaro Kloslowski avisava que o Brasil sabia que o desempenho não seria tão bom quanto o de Toronto. E apontava a falta de investimento como fator preponderante. Entre 2017 e 2018, a modalidade perdeu o apoio do BNDES, que chegou a injetar R$ 40 milhões na canoagem nos dois anos anteriores.

O Álvaro se precaveu, avisou, se desculpou e o jornalista aceitou perfeitamente. O que o primeiro destes finge saber e o segundo supostamente não sabe mesmo, é que nem tudo é por falta de recurso. Os dados apresentados sobre o quanto a canoagem recebeu no último ciclo olímpico são verdadeiros. É verídico também afirmar que o crescimento do recurso acarretou em melhores resultados. Só para relembrar, a nossa melhor campanha no Pan foi em 2015 e a Olímpiada do Rio foi a que mais somamos bons resultados entre participações e medalhas inéditas.

Mas como um (quase) jornalista e pessoa que conhece o sistema de gestão da canoagem brasileira de fora a dentro, afirmo com toda certeza de que não nos falta (só) investimento, mas sim, e principalmente, mais visão empreendedora para gerir os recursos. Se a Confederação fosse mais esperta, não divulgaria em primeira mão que receberam 40 milhões em dois anos. Um jornalista no mínimo mais curioso iria pelo menos se perguntar: o que vocês fizeram com tanto dinheiro em tão pouco tempo, que nada sobrou para ao mínimo manter os atletas da Seleção concentrados e treinando juntos?

As três medalhas que o Brasil conquistou em Lima foram em provas individuais, com os atletas Isaquias Queiroz (ouro), Ana Vergutz (bronze) e Vagner Souta (bronze). Isaquias fez sua preparação para o Pan num CT mantido basicamene pelo COB, a Ana se preparou sozinha na sua cidade natal (Cascavel-PR), com apoio da própria familia e o Vagner, para não fazer o mesmo, juntou dinheiro para bancar seu treinamento na Espanha.

Não falta só recurso; falta um pouco de sinceridade e boa gestão para a canoagem brasileira.

(*) GILVAN RIBEIRO, 30 anos, é atleta olímpico e apaixonado pelo jornalismo (cursa o 8º semestre, na UFN) e pela Psicologia (está no 1º semestre, na UFSM). Ele escreve no site sempre aos sábados.  

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: A imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da Internet.

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