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CRÔNICA. Orlando Fonseca, ‘queimadas’ na floresta amazônica, ações do governo e prejuízos para o Brasil

Queimando o filme              

Por ORLANDO FONSECA (*)

“Queimadas existem em todo mundo” – foi a frase do presidente brasileiro, diante da estupefação mundial pelo desastre amazônico. O que o presidente não sabe, ou faz questão de não saber, é que não existe outra Amazônia no planeta.

Dentre todos os aspectos negativos que o caso está produzindo, o que será tão difícil de recuperar quanto a Natureza será a credibilidade do nosso país. Junto com as árvores, o solo, a flora em geral e espécies animais ameaçadas de extinção, o que o Primeiro Mandatário boquirroto está conseguindo é queimar o filme do Brasil, estampado nas primeiras páginas dos grandes jornais e portais de notícias mundo afora.

Não é possível justificar um erro com um equívoco. Se, durante os períodos das duas grandes Revoluções Industriais, entre os séculos XVIII e XIX, a Europa desbastou suas florestas, e os países se desenvolveram, não é por isso que o Brasil, para se afirmar no mundo econômico da atualidade, tenha de dizimar o acervo natural da Amazônia.

Nosso país já perdeu a oportunidade de se posicionar entre os mais ricos e desenvolvidos. No entanto, a sua pujança é possível por uma série de outros fatores que não apenas o agronegócio sem limites, ou a mágica da riqueza mineral do subsolo amazônico. Além do mais, trata-se de um patrimônio natural não exclusivo dos brasileiros.

Já há alguns anos que o título de “Pulmão do Mundo” perdeu significado, diante de novas pesquisas a respeito do clima mundial. No entanto, a importância da Amazônia, conhecida mundialmente como a maior entre as chamadas “rainforest”, ou florestas úmidas, que se encontram na zona de convergência intertropical. Esses são os mais velhos ecossistemas da Terra, cobrindo 6% do Planeta, contribuindo com uma parte significativa de espécies vegetais e animais.

A floresta amazônica é abundante em vários recursos, sendo parte importante no equilíbrio da estabilidade ambiental do planeta. Seus vegetais são responsáveis por liberar aproximadamente sete trilhões de toneladas de água para a atmosfera, no processo de “evapotranspiração”. Todo ano, o Rio Amazonas despeja 20% de água doce no Oceano Atlântico.

E esta é a sua maior riqueza, a qual não pode ser monetizada ao sabor de um projeto que não dá sustentabilidade para a Nação, ou para o planeta. A variedade de espécies; a imensa farmácia natural que subsiste em suas plantas, a água doce, responsável pelo controle hídrico e climático, o estoque de carbono; capacidade de transferir calor e vapor para outras regiões etc.

Muito mais importante é a biodiversidade da flora e da fauna do que a riqueza do subsolo e os mitos em torno de sua exploração. As reservas de nióbio, por exemplo, são abundantes em Minas Gerais. E, mesmo o Brasil tendo a maior reserva do mundo, é um mito que ele sozinho possa indicar a sua redenção financeira.  O nióbio é substituível, e vanádio e titânio cumprem basicamente a mesma função, sendo encontrados em vários países como África do Sul, Rússia China, Canadá, Austrália. Esses países preferem explorar suas próprias reservas a depender de um mineral que é praticamente exclusivo de uma nação só.

Tudo o que a diplomacia de ocasião e as diatribes de um governo sem projeto consistente tem conseguido é queimar o nosso filme. As nações desenvolvidas, para além dos seus grandes negócios, estão preocupadas com a ecologia e o futuro do planeta. Portanto, a credibilidade é uma moeda de troca importante, na atualidade.

O Brasil pode se ver, à propósito da reunião do G7, em dificuldade de fazer transações comerciais. Como o país não detém tecnologia para agregar valor e cobrar royalties, vai fazendo as apostas equivocadas, o que nos leva para a mesma posição do começo do século 16, quando navegadores portugueses descobriram a primeira de nossas commodities: uma madeira chamada pau-brasil (daí sermos brasileiros). E deu no que deu.

(*) ORLANDO FONSECA é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

OBSERVAÇÃOA foto que ilustra esta crônica é reprodução do site do jornal Metro. O endereço é este: https://www.metrojornal.com.br/foco/2019/08/23/queimadas-amazonia-perguntas-respostas.html

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