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É CINEMA. Bianca Zasso e um filme oriental muito aclamado e premiado e só disponível por “streaming”

O começo do fim

Por BIANCA ZASSO (*)

O cinema oriental é dos mais criativos e inteligentes, seja em seu período clássico ou com a nova geração de diretores. Na China, em especial, diretores como Jia Zhang-Ke e Hou Hsiao Hsien equilibram fantasia com um retrato crítico da juventude de um país cercado de mistérios, pelo menos para nós, ocidentais.

Por conta das únicas salas de exibição de Santa Maria serem voltadas aos blockbusters, poucas são as produções chinesas que chegam nas nossas telas. Porém, uma amada e odiada (e que devia ser mais discutida) plataforma de streaming comprou para o seu catálogo um filme aclamado no Festival de Toronto e que levou o Golden Horse, o Oscar Chinês, de melhor atriz coadjuvante. Está ao alcance de um botão e é mais que recomendável apertá-lo.

Cities of Last Things, do diretor malaio Wi Ding Ho, não é uma simples diversão. Primeiro, por sua forma. A jornada errante de Zhang, interpretado pelo ótimo Jack Kao, é contada na ordem inversa dos acontecimentos. Quem lembrar do pesadíssimo Irreversível, de Gaspar Noé, vai chegar mais preparado.

O espectador é colocado dentro do resgate do protagonista, que acaba de se suicidar e surge, forte e nervoso, caminhando por Taipei. Logo percebemos que ele quer vingança, apesar de não entendermos muito bem o porquê, já que sua fúria é apontada para várias pessoas ao longo da história.

Nessa viagem no tempo, as peças do quebra-cabeça surgem sempre de forma sutil, prendendo nossa atenção não apenas para entender o mundo de Zhang, mas para captar com mais plenitude as emoções que o cercam.

Em resumo, o roteiro não é nenhuma inovação. Personagens como Zhang, assombrados por fantasmas da juventude, são um clichê não apenas no cinema. Mas Wi Ding Ho investe na direção de atores e transforma situações típicas de um melodrama em algo mais profundo.

Nesse mergulho ao contrário, estamos em direção à inocência, aos primeiros anos de Zhang, antes da vida tornar-se complicada ao ponto de colocá-lo em guerra com a mulher, o amante dela e toda uma turma que ajudou a colocar mais pedras em seu caminho.

Com praticamente todas as cenas ambientas à noite, Cities of Last Things usa alguns artifícios comuns nos filmes policiais, mas o elemento que conquista quem assiste é mesmo o humano.

O futuro distópico dos primeiros minutos causa um pouco de estranheza, e uma cena um tanto engraçada da prisão de Zhang por um “drone policial”, mas nada que atrapalhe a imersão nas muitas fases do personagem.

Os espectadores familiarizados com o ritmo mais lento dos realizadores orientais podem ser surpreendidos, já que há muita ação no longa, especialmente nas cenas que retratam a juventude de Zhang. Mas não chegamos ao ponto de emular o cinema brucutu americano com suas explosões e tiros sem limites.

Aqui, cada arma dispara na hora certa e quem a segura é que merece o nosso foco. No fim, saímos um tanto confusos. Não porque tivemos que estar atentos para montar cada bloco que constituí a história, mas porque estamos diante do começo da vida, aquele instante em que tudo parece destinado a dar certo. Pena que seja só um instante.

Cities of Last Things

Ano: 2019

Direção: Wi Ding Ho

Disponível com exclusividade na plataforma Netflix

(*) BIANCA ZASSO, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009.  Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.

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