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É CINEMA. “Era uma vez… em Hollywood”, o nono longa metragem de Tarantino, como viu Bianca Zasso

Brincar na estrada aberta

Por BIANCA ZASSO (*)

O poema Canto da Estrada Aberta, um dos mais famosos de Walt Whitman, combina com os anos 60. Seu louvor à liberdade e a busca por novos caminhos define os rumos que a arte seguiria naquela década, que nos deu obras que parecem ganharem ainda mais sentido com o passar dos anos. Era uma vez…em Hollywood, nono longa-metragem do diretor Quentin Tarantino poderia ser um poema de amor ao cinema e a possibilidade que ele dá mudar destinos, mesmo que seja de mentirinha.

Muito já foi discutido sobre o filme, antes mesmo dele estrear nas telas brasileiras. Depois dos fracos Django Livre e Os Oito Odiados, havia especulações sobre Tarantino ter perdido a mão como cineasta, e o anúncio de que seu novo projeto envolvia Charles Manson e o assassinato da atriz Sharon Tate por seus seguidores só fez aumentar os temores. O que um dos mais cinéfilos diretores americanos iria aprontar dessa vez? Eis que ele nos presenteia com o seu filme mais maduro até então.

Era Uma Vez…em Hollywood tem como trama central a amizade do ator Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), conhecido por protagonizar uma série de faroeste na TV, e seu dublê Cliff Booth (Brad Pitt), que faz muito mais que substituí-lo em cenas perigosas. Circulando a busca de uma carreira cinematográfica de Dalton, está a jovem estrela Sharon Tate (Margot Robbie) dando os primeiros passos nas telonas, cheia de sonhos e circulando pelas mais badaladas festas de Los Angeles.

Quem conhece o estilo de Tarantino já senta na poltrona esperando muita violência, seleção musical primorosa, diálogos insólitos e muitas, muitas referências. Tem tudo isso, mas com um detalhe que precisa ser acrescentado antes mesmo do filme começar.

É interessante pensar que, dependendo do conhecimento da história do espectador, teremos filmes diferentes. Os desavisados que não sabem quem foi Sharon Tate (sim, eles existem!) e a forma brutal como ela foi assassinada pelos seguidores de Charles Manson, sairão do cinema com uma sensação de incompletude e até a cena mais violenta do longa pode parecer vazia.

A recomendação de estar a par dos acontecimentos reais que inspiram Era Uma Vez…em Hollywood é essencial para percebermos o amadurecimento de Tarantino como diretor e o carinho com que ele trata suas influências. Já que não pode voltar no tempo e mudar as coisas, ele brinca de Deus em seus filmes e nos emociona com a possibilidade de tudo ter sido diferente.

Mas nem só da mão criadora de Tarantino vive o filme. Brad Pitt e Leonardo DiCaprio apresentam a química perfeita, ambos parecendo muito à vontade em seus personagens. Mas é Margot Robbie quem merece destaque. Ao contrário do que muitas críticas afirmaram, o fato de sua Sharon Tate ter poucas falas me parece uma estratégia para que sejamos conquistados ainda mais pela sua figura.

Seu olhar é sempre cheio de esperança, seu sorriso ao perceber que fez o público rir em uma cena é contagiante. Sharon estava vivendo o sonho de conquistar Hollywood. Suas aparições são curtas, porém inesquecíveis.

Vê-la com cabelos ao vento, nos muitos planos de carros percorrendo as estradas californianas que existem em Era Uma Vez…em Hollywood, é encantador e angustiante ao mesmo tempo. Sabemos o que aconteceu com ela e o coração aperta, é inevitável. E Tarantino brinca conosco sem dó, deixando o melhor para o final.

Há muitos filmes em Era Uma Vez…em Hollywood. As referências aos westerns são sutis e inteligentes como em nenhum outro filme do diretor, as citações de Sergio Corbucci e Umberto Lenzi, assim como todo o retrato da rotina de atores americanos que foram filmar na Itália, faz o coração de quem cresceu assistindo esses filmes bater mais forte.

E o Bruce Lee?, você deve estar se perguntando. Tem quem achou desrespeitoso, mas acho que é mais uma brincadeira do Tio Quentin que funciona dentro do contexto do filme. Até entendo quem não gostou, assim como espero ser entendida por ter ficado bastante incomodada com a montagem do filme, provando que Sally Menke faz muita falta na equipe de Tarantino.

Polêmicas a parte e ignorando as bobagens que o diretor fala em entrevistas, só se pode agradecer por termos Era Uma Vez…em Hollywood nas telas da cidade. O sorriso no rosto de quem ama o cinema além do hype e do “todo mundo está assistindo” é garantido e nos faz encarar a grande e incerta estrada aberta com novo fôlego.

Era uma vez…em Hollywood (Once upon a time…in Hollywood)

Ano: 2019

Direção: Quentin Tarantino

Em cartaz nos cinemas

(*) BIANCA ZASSO, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009.  Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.

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Um Comentário

  1. ‘Os oito odiados’ parece um livro ruim de Agatha Christie. Diz que o cara vai fazer mais um filme e se aposentar, vamos ver.
    Leonardo DiCaprio tem a expressividade de um pé de cactos. Ganhou Oscar, prova que não significa muita coisa. Estragou muitos filmes.
    Sharon Tate Polanski (mulher do Roman) era uma mulher muito bonita, Margot Robbie está a altura neste quesito. Filme com ela assisti só um, ‘A dança dos vampiros’, uma comédia que anos atrás era engraçada. Amostra é pequena, porém Margot parece ser melhor atriz. Talvez porque a outra não teve tempo de se desenvolver.
    Bruce Lee (que morreu porque tomou um analgésico que tinha aspirina e um tranquilizante, era alérgico e não sabia) lutou muito pouco, era mais um ‘filosofo’ da coisa. Tinha a idéia de pegar o que funcionava de cada estilo, um precursor do MMA. O filho morreu na filmagem de um filme devido ao mal funcionamento de uma arma. Bueno, brincadeira se faz com os amigos, com o resto da humanidade pode ser ofensa.
    Noutra semana alguém escreveu numa revista sobre ‘crise em Hollywood’. Poderia ser uma matéria caça click. Não era. Das 10 maiores bilheterias da semana só o filme de Tarantino tinha roteiro original (e estava em 10ª). Os outros 9 ou eram franquias ou refilmagens (Rei Leão).

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