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ARTIGO. Michael Almeida Di Giacomo, celular, suas câmeras e a geração que não vê nem vive seu tempo

O nosso mundo por meio de uma câmera

Por MICHAEL ALMEIDA DI GIACOMO (*)

O celular há muito já não é somente um aparelho para falarmos com as pessoas, aliás, cada vez menos o usamos para fazer ligações. O áudio do WhatsApp é o grande facilitador das comunicações interpessoais. O interessante é que parece ser parte do nosso corpo, ao ponto de fazer as vezes de nossa retina.

Há um bom tempo tenho percebido que as pessoas, não importa a faixa etária, ao irem a um show artístico, uma apresentação cultural, seja ao ar livre, seja em ambiente fechado, assistem a toda apresentação por meio de suas “câmeras”.

Alguns não conseguem sequer dar um tempo para beber uma cervejinha ou uma água, o que importa é não deixar de gravar nenhum detalhe. Escutei outro dia no rádio que, após chegar em casa, algumas pessoas realmente assistem à gravação. Outras somente postam em suas redes sociais.

Isso me veio à mente no final de semana, pois um youtuber fez uma referência na sua conta no twitter. Ele foi sarcástico, mas assertive, ao “parabenizar” a todos que foram ao Rock in Rio, pagaram ingressos caros, para fazer a “transmissão” das apresentações pelo stories do Instagram. E fez uma observação: “qualidade ruim e áudio estourado”. Não poderia ser diferente.

Eu não me refiro à pessoa que espera a sua música preferida, queira fazer um registro do show ou mesmo vê uma situação que seja digna de perder a visão direta para ter sua retina sob uma tela de celular. Penso que estes realmente vão para curtir e não para “transmitir” a apresentação para os que ficaram em casa.

Nesta jornada de “um ‘celular’ na mão e uma ideia na cabeça”, há ambientes, muitos, em que o celular resta por atrapalhar aos demais. É cada vez mais comum, por exemplo, em apresentações menores, ou ambientes mais fechados, a organização do evento ter que solicitar para que as pessoas desliguem o aparelho.

Recordo de peça de teatro que fui assistir e tinha Glória Menezes como atriz principal. Antes de iniciar a apresentação, a gravação de um áudio pedia para que as pessoas não usassem o aparelho. O motivo: a luz emitida tirava a concentração da atriz, e, em algum momento, poderia até fazer com que ela esquecesse uma ou outra fala. E não era uma peça infantil.

Neste caminhar da humanidade, acredito que seremos lembrados como uma geração que filma o hoje para assistir no futuro. Uma geração que não se prende a degustar o que está a seu alcance, filma para “sentir” o sabor no dia seguinte. Uma geração que está full time interagindo com seus iguais e, em alguns casos, não poucos, tão distante.

O que realmente ficará registrado, a meu ver, é que somos uma geração que literalmente não vê seu tempo passar, não vive seu tempo, deixa para o amanhã. É o que me parece.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestrando em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: A imagem que ilustra este artigo  é uma reprodução de internet.

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Um Comentário

  1. Este é o lugar comum. Porém, dependendo do contexto e do lugar onde se está, não se enxerga nada se não usar o celular. Melhor, se vê a nuca da pessoa que está na frente ou o celular que ela ergueu.
    De qualquer maneira, as pessoas muitas vezes não precisam e/ou não querem ‘ser salvas’.

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