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ARTIGO. Michael Almeida Di Giacomo e a questão da mídia: o emissor e seu imenso poder sobre o receptor

Informação e Poder

Por MICHAEL ALMEIDA DI GIACOMO (*)

É atribuída ao filósofo Francis Bacon a frase: “Conhecimento é, em si mesmo, um poder”. Porém, o debate sobre a origem da frase, neste escrito, tem menos importância que seu significado. Para ter conhecimento é preciso ter acesso à informação e, assim, defender nossa visão sobre o que realmente entendemos ser o melhor caminho para transformar nossa realidade.

Mas, como ter acesso à informação e, por consequência, ampliar o horizonte de conhecimentos, sob um modelo de comunicação social de viés mercantil, que respeita tão somente interesses outros que não o interesse público?

O modelo vigente de comunicação da mídia de massa é fonte de um ambiente visivelmente antidialógico, no caso, o emissor tem um poder imenso sobre o receptor. E a narrativa é sempre a mesma: a defesa da liberdade de expressão, que é um princípio substancialmente humano. Mas pergunto: liberdade de expressão para quem? A resposta é direta: para os veículos de mídia, certamente.

O livre mercado de ideias é condição primeira para a democratização da esfera pública. Neste espaço, o conhecimento deve ser livre e o direito à informação, mais do que uma concessão do Estado, ser reconhecido como um direito humano à comunicação.

Os grandes veículos de mídia, ao relatar o dia a dia dos governos e suas medidas políticas, ao prestar continência ao “deus” mercado, dispõem as informações como se fossem as únicas verdades a ser ditas. Um único conhecimento a ser relatado.

Tem sido assim desde sempre, e nos dias atuais ainda mais presente com uma enorme gama dos meios de alcançar o receptor. Os exemplos são muitos, mas rabisco uns poucos para nossa reflexão.

A reforma da previdência nos é colocada como a salvação para a geração de “novos” postos de trabalho e para o equilíbrio das contas da União. De forma massiva, as pessoas são “bombardeadas” com informações oriundas de fontes oficiais relatando a necessidade da reforma. No entanto, ao contraditório é destinado “nota de rodapé”.

A última grande investida da mídia de massa tem sido a reforma proposta por Eduardo Leite, na qual o servidor público tornou-se o grande vilão da falência do erário gaúcho. Diariamente colunistas, formadores de opinião, comunicadores, editoriais, pregam a necessidade da reforma.

Veja, eu tenho plena convicção que a evolução de um estado somente ocorre com reformas estruturantes. Não sou contra reformas. No entanto, o espaço dialógico é diminuto para os que estão na base da pirâmide. A esfera de discussão é verticalmente influenciada pelos que, ao defender interesses nada republicanos, têm a mídia como aliada a sufocar qualquer argumento alternativo.

Quanto menos acesso à informação, quanto mais novelas nas grades de programação das televisões, mais passiva fica a base da pirâmide.  Na verdade, o papel da mídia de massa, que deveria ser o de dispor informações de forma equânime, acaba sempre por escolher um lado e nunca é o do receptor.

As “verdades” veiculadas têm no seu âmago uma verdade única: a parcialidade da mídia, a qual seria mais honesta se a concessão pública que lhes é disponibilizada não fosse controlada somente por grandes grupos empresariais e por políticos.

A soberania de um povo não deve ser letra morta em uma Carta Constitucional. Deve ser exercida a partir de instrumentos democráticos nos quais o indivíduo seja protagonista e não mero receptor.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestrando em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: A foto que ilustra este artigo é a reprodução de uma pintura de Mário Mariano, pintor auto-didata, nasceu na cidade mineira de Uberaba. Da década de 1970 até os dias atuais participou de várias exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior.

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