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CRÔNICA. Orlando Fonseca, educação brasileira e as perguntas sobre o futuro que chega bem rapidamente

Educação

Por ORLANDO FONSECA (*)

O ambiente da educação é marcado pelas perguntas e a busca das respostas; tentativas e erros, acertos e progresso, ensino e aprendizagem. É oportuno que se coloque como uma necessidade inadiável para a educação, neste grave momento por que passa o nosso país, como tempo de se obter respostas.

Digo isso porque à nossa frente se abre um futuro nebuloso, haja vista a ascensão de um grupo que não acredita na ciência, que faz pouco caso da pesquisa e que considera inimigos os professores, em todos os níveis.

Diante da evidência histórica de que não existe país desenvolvido, nação soberana e livre sem investimentos maciços em educação, ciência e tecnologia, compreendemos que as perguntas são muitas, e que as respostas não são tarefas exclusivas de um dos agentes deste processo.

Como sabemos, a educação no país é de responsabilidade compartilhada entre os Municípios, os Estados e a União, nos níveis fundamental, médio e superior, respectivamente. Um dos fundamentos do Plano Nacional de Educação, oriundo dos debates em comissões em todo o território nacional, é justamente o de se entender a educação como um sistema, sem que se priorize um dos níveis no sentido dos investimentos.

No texto final do PNE, aprovado no Congresso Nacional, para vigência nesta década que se aproxima de seu final, uma das metas é justamente incluir 30% dos jovens entre 18 e 24 anos no ensino universitário. Estamos longe da meta, e como medidas necessárias deixaram de ser implementadas, o quadro tende a se tornar trágico.

Embora a oferta de vagas no ensino básico esteja universalizada no país, voltam a preocupar os índices de analfabetismo, sem contar que, nas últimas décadas não se conseguiu resolver o problema do analfabetismo funcional, ou seja, a dificuldade dos que, mesmo tendo recebido alfabetização, não conseguem ler, muito menos, interpretar um texto simples que seja. E ainda estamos longe de permitir que a maioria dos jovens ingresse em uma faculdade e vislumbre uma carreira profissional mais qualificada.

Ao lado da necessidade de equipar melhor e de manter o ambiente físico de escolas e universidades públicas, os governos devem valorizar o trabalhador da educação pagando o que é justo e suficiente para garantir as suas condições de vida digna.

De outra sorte, os educadores não podem abrir mão da sua sagrada missão de ensinar nossas crianças e jovens. Dar o melhor, para receber o melhor, como pregava o emérito educador Paulo Freire – e os índices estão aí, a cobrar dos mestres a sua parcela de responsabilidade neste processo.

Em meio ao caos que impera na gestão educacional, mormente, no Estado, é difícil falar em qualidade dos trabalhadores da educação, com seus salários parcelados e defasados.

Há os que aplaudem as iniciativas governamentais no sentido de precarizar o sistema público, para prestigiar o ensino privado, sem aprofundar a análise do que isso significa em termos de perpetuar a miséria, as assimetrias sociais e o atraso do desenvolvimento como virtude nacional, uma vez que não existe a possibilidade de universalizar o acesso à educação com o ensino pago.

De outra sorte, as famílias, os responsáveis pelas crianças também não podem considerar que a Escola é o ambiente exclusivo do aprendizado de seus filhos. É importante, mas não suprime a necessidade de acompanhamento diuturno dos pais no processo de conhecer e apreender o mundo, afirmando no filho que o que ele aprende na escola é para a vida, e não apenas para ser aprovado em um concurso público.

Quando o governo sequer cogita destinar 10% do PIB para a educação, torna-se urgente a obrigação de pais, alunos e professores de investir mais do que 90% (para arredondar a conta), a fim de que alcancemos a nota máxima.

Quando o mundo todo se prepara para o uso massivo da inteligência artificial, por aqui vivemos uma era de artifícios pouco inteligentes para contornar as obrigações constitucionais para com a educação. Nesse quadro, só aumentam as perguntas sobre o futuro que se aproxima rapidamente.

(*) ORLANDO FONSECA é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

OBSERVAÇÃOA imagem que ilustra esta crônica, sem autoria determinada no original, pode ser encontrada em reportagem originalmente publicada no site “Compromisso Campinas pela Educação” (AQUI)

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