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ARTIGO. Débora Dias e o caso do beijo havido no júri popular: “é abuso, é exploração; é tudo, menos amor”

Jornal estampa mulher beijando seu algoz: isso não é amor

Por DÉBORA DIAS (*)

A notícia de uma vítima de violencia doméstica, com foto em jornal de grande circulação beijando seu algoz, o agressor, seu ex-namorado, o qual desferiu contra ela oito disparos de arma de fogo, acertando cinco, causou grande repercussão. O júri ocorreu dia 28/01/20, em Venâncio Aires, RS. Todos comentando, amaldiçoando a mulher, alguns dizendo que o mundo realmente está perdido e, pior, banalizando a violência contra as mulheres.

A mim, que também sou humana, em um primeiro momento fiquei indignada e pensei: não é possível isso! Entretanto, em seguida o sentimento de indignação passou para o sentimento de pena. E lembrei de vários casos quando estava à frente da DEAM, em que as vítimas voltavam a se relacionar com os agressores, ou seja, isso acontece, por inúmeros motivos (mas não porque mulher gosta de apanhar), como o medo. Mas, quando o assunto vira discussão, no mínimo estadual, não dá para não falar. Foi triste mesmo ver a fotografia.

No Brasil, segundo o Atlas da Violência, dados de 2019, morrem 13 mulheres vítimas de feminicídio por dia, isso não é brincadeira, é cruel, é de chorar mesmo. E, nesse caso veiculado pela mídia, o que mais me incomodou foram os comentários pejorativos, de ridicularização, beirando a um tom jocoso, desmerecendo e desqualificando a luta pela vida das mulheres. Eu, como delegada de polícia, também fiquei indignada com a notícia, mas muito mais pelo desvalor dado à conduta do agressor e supervalorização dada à conduta da vítima (o desastroso beijo), acho que foi esse o ponto nevrálgico da notícia.

Mas, bem, nessa segunda avaliação, como profissional, tenho pra dizer que as vítimas de violência doméstica, muito antes da violência física, sofrem com a violência psicológica e essa é devastadora. Acaba com a autoestima, isola a mulher de amigos, família, etc…, sem contar com o chamado ciclo da violência: período de tensão (brigas), período de explosão (agressão física) e o período da lua de mel (quando o agressor diz que se arrepende, chora, promete nunca mais ser violento, etc) e depois começa tudo de novo.

Isso se chama relacionamento abusivo e as mulheres que vivem esse tipo de relacionamento, além de autoestima baixa, sentem-se, na maioria, impotentes e acreditam que o “amor” vai superar, mas esquecem que isso não é “amor”, é abuso, é exploração, é tudo, menos amor.

Eu gostei muito do que li do Carpinejar sobre o assunto, quando disse: “não tente regenerar o algoz. Não busque convertê-lo. Não acredite na mudança mágica de personalidade.” É bem isso. Não existe mágica; ninguém se converte ou muda de personalidade da noite para o dia; nem lágrimas têm esse poder.

Assim, devemos deixar bem claro que essa mulher, assim como tantas outras, precisa de ajuda. E, mais ainda, devemos sentar na frente de nossas filhas, de nossas meninas e dizer: amor não mata, amor cuida, protege e se algum dia alguém machucar você física ou psicologicamente, eu estou aqui, a pessoa que mais devemos amar no mundo, somos nós mesmas.

Aí, puxa o banco, e senta na frente dos filhos, dos meninos e diz exatamente a mesma coisa: o amor não machuca, não fere, eu sempre vou estar aqui do teu lado. As pessoas a gente ama, amigos a gente faz, mas a gente nunca TEM ninguém; nós podemos ter bolsas, celular, carro, sapato, mas não pessoas!! Quem sabe que não é coisa porque aprendeu a ser amado e valorizado não se deixa objetificar; assim como quem recebeu amor, vai dar amor e vai querer amor, não propriedade.

(*) Débora Dias é a Delegada da Delegacia de Proteção ao Idoso e Combate à Intolerância (DPICoi), após ter ocupado a Diretoria de Relações Institucionais, junto à Chefia de Polícia do RS. Antes, durante 18 anos, foi titular da DP da Mulher em Santa Maria. É formada em Direito pela Universidade de Passo Fundo, especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Ciências Criminais e Segurança Pública e Direitos Humanos e mestranda e doutoranda pela Antônoma de Lisboa (UAL), em Portugal.

Observação do editorNa imagem que ilustra este texto, reproduzida do YouTube, a foto do beijo que deu motivo ao artigo.

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2 Comentários

  1. RS tem algo como 6 milhões de mulheres. O hiperfoco nas minorias (que têm problemas que devem ser enfrentados) é só uma cortina de fumaça que a esquerda utilizou nas últimas décadas para desviar atenção de outros problemas. Exemplo mais evidente: o SUS. Atinge muito mais gente e sofre de problemas de financiamento e gestão. Mas isto não se menciona. A censura vem a cavalo, ‘querem acabar com o SUS’, fim do debate.
    O caso. Mulher é bem apessoada. Trabalha (afastada para se recuperar). Levou 5 tiros de .22 (calibre pequeno), nem tirou os projeteis do corpo. Afirma que teria provocado o agressor por conta de conversas do mesmo no celular. Bueno, mulher falando ‘eu conserto ele depois’, com resultados diversos, está longe de ser coisa inaudita no planeta Terra.
    Conclusão: ser humano é muito mais complexo do que supõe qualquer ideologia. O resto é mimimi.

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