A Revisão
Por BIANCA ZASSO (*)
Frases como “não gosto de filme repetido”, “esse eu já assisti e gostei, mas quero algo novo” ou mesmo a clássica “não entendi nada” eram comuns nos corredores das locadoras e hoje percorrem grupos de aplicativos de troca de mensagens e redes sociais.
Talvez por isso seja a hora de defender o ato de rever um filme. E não apenas com os olhos. Não querendo ser impositiva, longe disso. Mas a proposta da experiência de se entregar novamente a uma história já conhecida pode ser prazerosa e, antes de tudo, reveladora.
Na hora de escrever uma crítica, em especial durante festivais com muitas sessões diárias e pouco tempo de intervalo para absorção e mesmo discussão dos filmes, acabamos entregando aos leitores apenas um breve mergulho, baseado naquilo que ficou mais evidente e nos marcou mais durante a sessão. São textos imperfeitos, mas nunca desnecessários.
Um exemplo: com a recente partida do ator sueco Max Von Sydow, a alma cinéfila pediu por uma revisão de O Sétimo Selo, talvez a mais conhecida parceria dele com o diretor Ingmar Bergman. Não tenho ideia de quantas vezes já assisti à história do cavaleiro que volta das Cruzadas duvidando da própria fé e jogando xadrez com a morte. Mas essa última revisão voltou a minha atenção para Sydow mais do que qualquer construção cênica do mestre Bergman.
Me peguei surpresa com algumas reações do ator. Parecia que estava diante delas pela primeira vez. Para evitar loucuras de reescritas (bem comuns para esta que vos escreve) resisti à tentação de procurar alguns textos que já havia escrito sobre O Sétimo Selo.
Provavelmente, a coleção iria aumentar. Isso porque, mesmo que diante de mim estivesse a edição em DVD comprada há alguns anos e já um tanto desgastada pelo tempo, era um novo filme que se apresentava. O mesmo, mas outro. Uma nova camada que, talvez não com a mesma intensidade da primeira vez, ficou na minha cabeça por algumas horas.
Sabemos que nem tudo são flores e bombons e que algumas revisões podem ter como resultado a decepção e até mesmo o questionamento sobre nossa sanidade durante a primeira sessão de determinada obra. Mas mesmo nesses momentos em que murchamos na poltrona, a vida cinéfila agradece.
Uma das delícias da arte é acompanhar nosso amadurecimento. Não somos mais os mesmos, porque nossas percepções sobre um filme seriam?? Então, fica a dica para esse final de semana: abandone as frases que abriram este texto e se aventure nas revisões. Sua lista de novos filmes pode até não crescer, mas seus papos sobre os amores (ou ex-amores) cinematográficos vão ficar cada vez melhores.
(*) Bianca Zasso, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009. Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.
Não tinha tomado conhecimento do falecimento. Era do tempo que existiam atores shakespereanos, agora só encontramos botoxianos.
A causa dos filmes antigos não é difícil. Em tempos de seca é necessário lembrar o que é bom para não perder a referencia, não dizer que qualquer coisa é boa só para não parecer ranzinza. Noutro dia assisti entrevista com o ator Anthony Mackie. Segundo ele os filmes de super-heróis acabaram com a era dos grandes astros do cinema (antigamente a referencia do filme era o ator/atriz). Chutou o balde dizendo que só se faziam produções para quem tem 16 anos e para o mercado chinês. E criticou as refilmagens e os ‘derivatives’. Citou ‘Stranger Things’ (não assisti, não chamou atenção). Disse que era cópia de ‘Goonies’.
Para fazer chover e acabar com a seca, na minha perra opinião ‘O Sétimo Selo’ é um baita filme. Preto e branco. Ritmo lento. Bem feito, funciona. Alás, o pano de fundo é a Peste Negra, apropriado em tempos de Covid. Alás, Netflix tem uma mini-série interessante nesta área, ‘Pandemic’. Eu gostei.