Contra a Pandemia e a Tirania
Por PAULO PIMENTA (*)
A tática neofascista em curso no Brasil do século XXI, não difere substancialmente da matriz fascista posta em prática durante sua ascensão na primeira metade do século XX, pelos casos clássicos, por assim dizer, na Itália de 1922, com Benito Mussolini e na Alemanha de 1933 com Adolf Hitler.
Aqui se repete a tática da provocação reiterada e contínua para sentir o pulso da sociedade e forçar os limites das instituições liberais. As instituições brasileiras estão amortecidas. Paralisadas diante da ofensiva promovida pela escória do sistema político, que se credenciou a partir do golpe de 2016, comandada por Eduardo Cunha, abrindo caminho para que a representação da milícia fraudasse o pleito de 2018 e assumisse o governo a partir de 1o de janeiro de 2019.
Trata-se de um movimento pendular que afirma pelo gesto o objetivo de estabelecer uma ditadura e o nega pelo discurso no dia seguinte. Tanto as instituições do Estado, como o que resta da sociedade organizada, têm se revelado incapazes de reagir à tática das provocações.
A esta altura, é prudente concluir que não podemos, nem devemos nos guiar pelos desmentidos. Eles fazem parte do método. Afinal, hoje, a primeira tarefa dos brasileiros, ao acordar pela manhã, se converteu em desnudar as mentiras do presidente da república sobre as iniciativas que lidera ou estimula, ocorridas no dia anterior. A experiência prática demonstra: para o neofascista não há códigos nem regras. Porque ele só acredita na força. E a concebe como fonte, exclusiva e eficaz de exercício do poder.
Um ano e quatro meses depois, o capitão vai navegando com algum êxito diante de adversários que, a cada nova violação da Constituição peticionam a instauração de um inquérito, emitem uma nota de repúdio, mobilizam um abaixo-assinado, impetram uma ação na Suprema Corte ou em alguma instância da ONU. Todas estas iniciativas são importantes, dão visibilidade para os absurdos cometidos e comungam para barrá-los, bem como para responsabilizar seu protagonista, rompendo com uma ideia de hegemonia do pensamento autoritário na sociedade brasileira. Mas precisamos avançar em ações mais efetivas em defesa da democracia em nosso País.
Parcela dos setores sociais e políticos que, hoje, se opõem a esta tragédia que se desencadeou sobre o Brasil a partir do golpe de 2016, os liberais sobretudo, em grande medida cúmplices do golpe, têm se ocupado em fazer a interpretação dos discursos do ex-capitão, para concluir reafirmando uma convicção tão antiga que parece inarredável sobre “o normal funcionamento das instituições”. O que expõe objetivamente sua concepção utilitária da própria democracia liberal como modelo institucional de sociedade: democracia sim, desde que não se toque no modelo de acumulação de capital. Em suma, seu desapreço pela democracia.
Os setores populares não podem embarcar nessa ilusão, mas fazer a leitura objetiva: devem ater-se à presença do Presidente da República no ato em frente ao Forte Apache, no último domingo. O que foram fazer os manifestantes senão chamar a cavalaria? E ao discurso do ex-capitão naquele momento: “Não queremos negociar nada!”, “Chega da velha política…” Afirma em voz alta pela manhã e à noite negocia em voz baixa com os setores mais reacionários do Congresso a implementação das MPs com que busca, junto com Guedes, extorquir ainda mais os trabalhadores.
Nesse 21 de abril, quando celebramos Tiradentes, marco histórico das lutas pela Liberdade, o povo brasileiro deve seguir lutando simultaneamente contra a pandemia e contra a tirania, sem poder contar com uma elite que segue mais de dois séculos depois impermeável às aspirações populares por uma nação justa, democrática, soberana, contemporânea do mundo. Por isso, se torna urgente a chamada em defesa da vida do povo brasileiro – Fora Bolsonaro, seu governo e suas políticas!
(*) Paulo Pimenta é Jornalista e Deputado Federal, presidente estadual do PT/RS e escreve no site às quartas-feiras.
Observação do editor: a foto que ilustra este artigo, da manifestação de Bolsonaro, durante a manifestação antidemocracia em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, é uma reprodução da internet.
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