CPI das empreiteiras. Creia: se não sai a do vento cortante, muito menos essa outra
A operação Navalha, da Polícia Federal, causou um verdadeiro terremoto no meio político. Foram nada menos, segundo a última contagem, nove partidos atingidos em cheio pelas investigações envolvendo a participação da Gautama, empreiteira baiana, em atos de propina. E outros ilustres estão a caminho, embora por enquanto apenas chamuscados.
Não é outra a razão, a quantidade brutal de nobres integrantes de agremiações diversas, passando por PT, PSDB, PDT, DEM, PP e outros menos votados, que faz com que empaque a coleta de assinaturas para a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso Nacional. Enfim, a tal CPI do vento cortante tem chances nulas de prosperar.
Se sabe, desde tempos imemoriais, como diriam antigos jornalistas, que as empreiteiras são grandes aliadas de candidatos a cargos eletivos. A ponto de, até hoje, ninguém pretender estabelecer o financiamento público das campanhas eleitorais. Até agora, é bom dizer. Pelo menos isso parece se encontrar a caminho de ser resolvido, com a anunciada votação da reforma política.
Daí a fazer uma investigação, ninguém pensou. Exceto, reconheça-se, o senador gaúcho Pedro Simon, que propõe, desde 1995, uma CPI das Empreiteiras, nem que seja no âmbito do Senado. Palavras ao vento. Ninguém o ouve.
E não é pra menos. Levantamento da Folha de São Paulo, citado em reportagem do site especializado Congresso em Foco, aponta que 54% dos congressistas têm alguma empreiteira (ou congênere) entre seus patrocinadores. Isto é, mais de um, entre dois congressistas, teve sua campanha parcial ou totalmente bancada por empresas cujas ações ninguém ousaria averiguar.
Quer outro número? O jornal O Estado de São Paulo fez trabalho semelhante em relação à comissão de Orçamento (aquela que define as emendas do interesse, por exemplo, das construtoras). E constatou que dois em cada três (66,6%) dos 42 integrantes tiveram, entre seus financiadores, quem? Quem? Elas mesmos, as construtoras e empreiteiras.
Diante de um quadro desses, alguém imagina ser possível, no Brasil de hoje, uma investigação séria acerca da atuação desse peculiar ramo econômico? Prefiro acreditar no trabalho da Polícia Federal (há operações em andamento de cujo resultado só conheceremos dentro de alguns meses). E na aprovação do financiamento público de campanhas eleitorais. Se der isso, já me dou por satisfeito. Do Congresso, metade dele comprometido com as empresas, nada espero.
SUGESTÕES DE LEITURA – leia aqui a reportagem Empreiteiras financiaram 54% do Congresso, assinada por Carol Ferrari, publicada pelo Congresso em Foco – com base em notícia da Folha de São Paulo.
Vale a pena conferir também a reportagem Empreiteira financia bancada do Orçamento, assinada por Wilson Tosta e publicada pelo jornal O Estado de São Paulo.
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