1º de Maio: um dia de lutas, um dia de lutadores
Por PAULO PIMENTA (*)
“Que se liberte o fogo onde o fogo for necessário para que se ouça a voz dos que sacodem, ainda inocentes de sua força, as estruturas dessa edificação em véspera de ruína…” (Pedro Tierra).
Somos herdeiros de séculos de lutas contra a exploração econômica e a opressão política do capital. Neste 1º de Maio de 2020, em meio à pandemia de coronavírus, abrimos as janelas físicas e virtuais e nossos corações para dar testemunho das lutas das trabalhadoras e dos trabalhadores. Em defesa da democracia, das liberdades, dos direitos conquistados e, fundamentalmente, em defesa da vida, contra a barbárie neoliberal e a morte que assolam o mundo.
Os movimentos sindicais e populares se manifestam – ainda que sob a máscara que nos protege contra a pandemia – contra o assalto aos direitos dos assalariados promovido pelo governo neofascista.
Escravidão – Governo fruto do golpe e da fraude, num processo que atropelou a soberania popular, depôs uma presidenta eleita com 54 milhões de votos e encarcerou em Curitiba, por 580 dias, a maior liderança popular da história do Brasil. Um golpe para impor aos trabalhadores as reformas trabalhista e previdenciária, ao lado de um conjunto de outros profundos retrocessos.
O que assistimos neste 1º de Maio são os efeitos mais duros de uma política desumana que levou os trabalhadores brasileiros a condições semelhantes àquelas da escravidão vigente no final do século XIX, além de colocar suas vidas em jogo. É uma data que será marcada em todo o planeta, e no Brasil não será diferente, pela resistência e a defesa da vida acima do lucro.
Plutocracia– Passados três anos desde o 17 de abril de 2016, quando os esbirros da plutocracia abriram caminho para o golpe de Estado que prometia ao País “uma ponte para o futuro”, com o afastamento da presidenta legítima Dilma Rousseff, foi restaurado no Brasil o mais feroz sistema de exploração do trabalho desde que o primeiro negro foi levado a leilão no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, em 1758.
Desemprego, precarização, abolição de direitos, fim do descanso semanal remunerado, trabalho intermitente, fim do 13º salário. Essa é a face real do futuro prometido pelos patrões à classe trabalhadora brasileira.
Neste 1º de Maio de 2020, eis-nos frente à frente com aquele futuro que não é senão um passado que se recicla para restaurar relações sociais que o tempo havia sepultado. Uma espécie de passado contínuo que atormenta a história do Brasil e utiliza-se, hoje, da mais avançada tecnologia digital para submeter uma jovem classe trabalhadora pulverizada, mantida na ignorância sobre os meios e métodos contemporâneos de exploração do seu trabalho, filha da transição entre a sociedade das grandes plantas industriais e a consolidação da economia de serviços.
Máquina de extorsão – Uma jovem classe trabalhadora devolvida ao estágio mais primitivo da luta individual pela sobrevivência. Desprovida de instrumentos adequados para se defender contra a máquina impessoal de extorsão quotidiana de sua força de trabalho. Um método de exploração que, ao mesmo tempo, lhe subtrai os meios eficazes para qualquer ação coletiva e limita seu horizonte para nada além da marmita requentada de amanhã.
Abrimos essa terceira década do século XXI no Brasil sob uma ofensiva maciça do capital contra a classe trabalhadora. Aqui, diferentemente de outros países onde a classe trabalhadora alcançou níveis mais elevados de educação, mobilização e organização, o desenvolvimento tecnológico não resultou em condições dignas de trabalho, não ampliou o tempo de ócio para a esmagadora maioria da população, nem melhorou sua qualidade de vida.
Exploração como no século XIX – Antes, agravou o padrão de exploração. Hoje, as novas tecnologias aboliram a jornada de trabalho de oito horas diárias, a bandeira que mobilizou o movimento operário por 150 anos. Estamos de volta aos desafios vividos pelos operários dos Estados Unidos no século XIX.
Em 1886, em Chicago, nos conflitos de rua durante a greve pela conquista da jornada de 8 horas diárias de trabalho, foram presos pela polícia e levados a julgamento os líderes do movimento: August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb. Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel. Lá, como aqui, 132 anos depois, na condenação de Lula, o julgamento não obedeceu nem prazos, nem ritos.
Provas e testemunhas foram inventadas. Parsons, Engel, Fischer, Lingg e Spies foram condenados à morte, Fieldem e Schwab à prisão perpétua e Neeb a quinze anos. A eles devemos a conquista da jornada de 8 horas. Hoje, no Brasil, o capital que promoveu o golpe, sustentou o governo Temer e hoje mantém o governo de liquidação nacional de Jair Bolsonaro, destruiu essa conquista por meio da terceirização, precarização dos contratos de trabalho e demissões que já elevaram o número de desempregados a mais de 12 milhões de pais e mães de família.
Exploração do capital financeiro – Frente à pandemia de coronavírus, aos atos de pirataria do império e ao egoísmo do capital financeiro, a sociedade mundial passou a refletir sobre a verdadeira natureza do sistema neoliberal, fundado na desigualdade e exploração extremas, sem compromisso com as vidas humanas.
Do mesmo modo, no Brasil, a sociedade começa a se dar conta sobre a importância dos direitos trabalhistas, da seguridade social, da garantia de renda mínima, de trabalho e salário dignos, da proteção ao trabalhador, da pesquisa e da saúde públicas, em suma, de um Estado forte e a serviço da população.
Os trabalhadores do Brasil, por meio de suas organizações sindicais, populares, seus partidos e as frentes Brasil Popular, Povo sem Medo e Frente Ampla pela Democracia se unificam neste dia de luta, levantando a voz contra as políticas neoliberais, a ofensiva neofascista e autoritária, a necropolítica, e se somam às inúmeras manifestações e laços de solidariedade e em defesa da vida do povo brasileiro.
1º de Maio Unificado! Nenhum Direito a menos!
Vidas Importam! Fora, Bolsonaro!
(*) Paulo Pimenta é Jornalista e Deputado Federal, presidente estadual do PT/RS e escreve no site às quartas-feiras.
Observação do editor: a imagem que ilustra este artigo mostra seis ilustres participantes do 1º de Maio unificado virtual deste ano, em reprodução do YoyTube, publicada pelo portal Brasil de Fato (AQUI). Na imagem, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Manuela D’Ávila, Fernando Haddad e Ciro Gomes.
Esses da foto acima serão execrados em qualquer eleição que tiverem pela frente. Anotem ai o que falei aqui…
Usando a Pandemia como pretexto para tentar quebrar a economia. Nada mais baixo e nada mais comum vindo do deputado arrozeiro.