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ARTIGO. Giuseppe Riesgo preocupado com ‘mau uso’ do atual modelo de Distanciamento Controlado no RS

A vida não cabe em planilhas

Por GIUSEPPE RIESGO (*)

Uma máxima da Administração diz: o que não podemos medir não conseguimos gerenciar. E o que não é possível gerenciar nos impede de planejar. O planejamento e a gestão, principalmente em momentos de pandemia, são importantes elementos de análise para a decisão sobre políticas públicas dos mais diversos governos espalhados pelo Brasil. Por isso, sob esta ótica, elogiei aqui na coluna o Plano de Distanciamento Controlado formulado e implementado pelo governo do Rio Grande do Sul, em maio passado. Vínhamos cobrando um plano de saída do isolamento social por parte do governo, afinal, não parecia razoável indicar às pessoas que ficassem em casa sem sinalizar com uma volta à (nova) normalidade que a pandemia nos impôs.

Por isso, o Distanciamento Controlado proposto me parecia bastante sensato. Por um lado, classificávamos o Estado em bandeiras que se aplicavam em 20 regiões divididas especificamente para este fim; por outro, medíamos focos específicos de disseminação da pandemia enquanto controlávamos, regionalmente, a capacidade de atendimento do nosso sistema de saúde em relação ao coronavírus e as demais doenças que, sabemos, se avolumam com a chegada do inverno. Parecia um caminho interessante para retomar, precavidamente, as atividades econômicas sem colocar em xeque a vida das pessoas e o sistema de saúde como um todo.

No entanto, as 20 regiões compreendidas pela avaliação de 11 indicadores, infelizmente, escravizaram o governo na sua tomada de decisão política. Ao longo das semanas de implementação do Distanciamento Controlado alteramos os indicadores três vezes na tentativa de adequá-lo ao avanço da doença pelo nosso Estado. Fomos, semanalmente, alterando as bandeiras pelas regiões e, consequentemente, mexendo na vida da população gaúcha. Nesse meio tempo, diversas localidades foram transitando entre maiores e menores restrições. Nessa semana, por exemplo, a região de Santa Maria flertou com a bandeira vermelha por dois dias, devido a equívocos acerca da quantidade de leitos computados pelo governo do Estado. Santo Ângelo, também. Já as regiões da Serra e de Uruguaiana veem suas atividades econômicas suspensas devido às alterações da bandeira laranja para vermelha. Em síntese, a população gaúcha passou a viver semana a semana, enquanto o governo segue enfiado nos números, indicadores, planilhas, protocolos e esquecendo de cuidar do principal indicador entre todos: as pessoas.

Só que a democracia representativa serve justamente às pessoas. Elegemos representantes para que estes tomem as decisões que julgamos serem capazes naquele período de tempo lhes destinado. Não faz sentido basearmos todas nossas políticas públicas de combate à pandemia, sob um modelo metodologicamente limitado em termos sociais. O Plano de Distanciamento Controlado do governo Eduardo Leite deveria ser mais um dos elementos de informação da realidade para a tomada de decisão política, não o único. Ora, não fosse assim, para que serve a política, afinal?

Vivemos, até aqui, o momento mais delicado do coronavírus em nosso Estado. A hora é de olharmos com humanidade e sensatez na tomada de decisão. A vida das pessoas gira em torno de sua saúde física e mental, mas também econômica. Todos estes elementos do bem-estar devem ser considerados. O ser humano age sob incentivos e nossos governantes precisam fornecer o mínimo de segurança institucional para que possamos trabalhar e viver. O mau uso do atual modelo de distanciamento controlado, além de incerteza e insegurança social, está acovardando os gestores públicos na tomada de decisão. E quando isto ocorre, afastamos a política do seu povo e a simplificamos pela frieza dos números. Governar para as pessoas não pode ser apenas um slogan, governador. A vida da população não pode se definida por décimos em uma planilha de Excel.

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

Observação do editora foto que ilustra este artigo é uma reprodução da “live” do governador Eduardo Leite, na tarde de terça-feira, quando anunciou a troca de bandeira de Santa Maria, de vermelha para laranja.

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Um Comentário

  1. Questão toda é o ajuste. Não há duvida sobre a competência de quem elaborou o plano (obviamente não foi o governador que vem do jurídico). Era a solução possível, talvez ainda seja. Porém no ajuste deixou-se de aproveitar informações mais especificas para mudar o modelo. As atividades com maior risco previstas são as mesmas encontradas no mundo real? As regiões não poderiam ser subdivididas? Não poderiam ser o plano aplicado bairro a bairro numa cidade (olhando o mapa da cidade observa-se que há lugares sem casos confirmados)?
    Mais, um modelo muito complexo perde utilidade, só que, aparentemente (não há muita transparência), há fatores que precisam de ajuste. Óbito é sintoma de contaminação que aconteceu anteriormente. De fato existem municípios muito distantes em condições diferentes na mesma região. Densidade populacional conta.
    De qualquer maneira tudo o que se vê hoje vai render muitas teses de mestrado e doutorado no futuro. Algumas validas, outras nem tanto.

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