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CRÔNICA. Orlando Fonseca e esses tempos de ‘home office’, ensino a distância, ‘fake news’… O que ficará?

(A)normalidade

Por ORLANDO FONSECA (*)

Em meio às discussões da investigação do STF sobre as ameaças e fake news disparadas pelo “gabinete do ódio”, o país vai se deparando com o pico da Covid-19 e com a constituição de possíveis cenários para a pós-quarentena, que está mai0s para noventena (a estas alturas da curva de contágio).

Não há dúvida de que mudanças na rotina de todo mundo virão com o chamado novo normal. As cidades serão atingidas pelo impacto de uma nova ordem, no trânsito, no atendimento ao público e na regulação da vida em sociedade.

Os cidadãos, ao deixarem suas cidadelas não mais como grupos de risco, serão submetidos a novas escalas, a novas regras de etiqueta e de cuidados com a saúde, sua e de todos. Para especialistas, não vamos mais retornar à normalidade, ao menos àquela que existia antes da pandemia. Isso quanto aos europeus, pelo que li. Mas e nós, brasileiros?

É certo que, tanto para a disseminação de notícias falsas quanto para o combate ao coronavírus ainda não existem vacinas, nem remédios. No primeiro caso, tanto o Congresso, com uma CPI que parece que vai, mas não vai, quanto o STF, estão se debatendo no enfrentamento às discussões que o tema gera.

Enquanto uns defendem a livre expressão, outros contra-argumentam que ataques à democracia não têm legitimidade em lugar algum. A mesma Constituição Federal, a cidadã, que garante a livre manifestação, impede que se atente à ordem do Estado, com a convivência dos Três Poderes.

Portanto, erguer faixas que incitam o fechamento do Congresso, ou palavras de ordem que pedem a prisão dos Ministros da Suprema Corte não têm amparo na vida republicana. E qual será a vida republicana pós-quarentena?

O Brasil já se encontra no epicentro da disseminação do vírus, assim como um tal de “gabinete do ódio” está no centro de uma investigação que deve chegar ao núcleo próximo do presidente e atinge deputados, empresários e blogueiros aliados do atual governo.

Os sintomas de uma reação febril do chefe e aliados já se veem nas páginas dos jornais (alvos de ataques), como a Celso de Mello e presidentes da Câmara e do Senado. E isso tudo quando as atenções do poder público, em todas as esferas, deveriam estar concentradas em evitar o caos na saúde, pela altíssima demanda, nos preparativos para o retorno às atividades e para a retomada da economia.

Causas da maior grandeza, pois não se tem a medida adequada para pensar como voltar a crescer positivamente, quando se fala em PIB, com tendência a uma queda histórica em todas economias nacionais ao redor do planeta – isso porque a Terra é Plana, até o coronavírus sabe.

As redes sociais não têm servido apenas para a disseminação de inverdades. Como não se via antes, programações de excelente conteúdo estão sendo veiculadas pelas plataformas digitais. Reuniões de grupos comunitários e de coletivos, reuniões de trabalho ou de planejamento político tornaram-se a nova rotina.

O home office está, cada vez mais, se consolidando como alternativa viável de trabalho, e a educação, que já passava por um avanço no chamado ensino a distância, teve o seu procedimento testado em massa, e pode trazer novidades para esse novo período.

Entretanto, assim como, neste momento de distanciamento e isolamento social, constitui-se em ferramenta de comunicação eficaz, a vida digital traz preocupações com a efemeridade de seu conteúdo. Uma “live” pode trazer uma grande performance de um artista, mas se perde, o que pode intensificar o sentido da cultura descartável.

Da mesma forma, nas etapas iniciais da educação, o afastamento social traz o risco da ausência física do exercício de reconhecimento da autoridade, das regras e etiquetas de convívio em comunidade.

No entanto, com mais gente em casa em suas obrigações rotineiras, as ruas terão menos tráfego, o sistema viário terá menos impacto, haverá menos poluição – o meio ambiente agradecerá. Deveríamos estar nos preparando para isso, mas as notícias vindas do centro do país nos dão conta de que ainda teremos de enfrentar o (a)normal no Brasil.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

Observação do editor: A foto (da plataforma gratuita Freepik) é uma reprodução da internet.

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3 Comentários

  1. ‘Lives’ dependendo da plataforma não se perdem. No Youtube ficam gravadas. Alás, final de semana teve lançamento de foguete e atracação na estação espacial. Alás, em 1989 o dono da empresa aeroespacial era estudante no Canadá. Migrou para os EUA, fez graduação em física e economia. Montou diversas empresas, juntou fortuna e com 100 milhões de dólares em 2002 montou a empresa que vemos hoje. Em 89 Santa Maria tinha um deputado federal em primeiro mandato. Da politica foi para o STF, saiu e hoje é banqueiro. Habilidades? Falar e produzir textos. É muito bom no que faz, mas a diferença no caminho para o sucesso diz muito.
    Nas etapas iniciais a presença dos pais já dá o ‘exercício de reconhecimento da autoridade’, pelo menos nas famílias estruturadas, não conheço alguém que coloque filhos no mundo para ser gado dos outros.
    Regras e etiqueta de convívio em sociedade não existem uma só. Exemplo básico, na cidade grande passamos uns pelos outros como desconhecidos, nas pequenas todos se cumprimentam, inclusive os estranhos. Não se pode utilizar o ensino formal como ferramenta de engenharia social.
    Noticias do centro do pais? Melhor ignorar e não perder tempo. Por lá nem as moscas mudam.

  2. Americanos tem nos meios jurídicos o que chamam de ‘fishing expedition’. Fazer buscas sem muita fundamentação com a finalidade de encontrar algo incriminador. Dois partidos pedem a busca e apreensão do celular do presidente. Partidos políticos intervindo em inquéritos policiais?
    Conclusão é simples. Congresso devido a pandemia funciona precariamente. Derrubar outro presidente pela via legislativa é complicado. Qual a solução? Via judiciária!
    Celso de Mello no final do ano vira história. Mundo que representa já não existe mais e o mundo que gostaria de ver obviamente não existira. Entretanto preocupa-se com este presidente nomeando o seu sucessor. É disto que se trata.

  3. Kuakuakuakua! Gabinete do ódio, gabinete do ódio, gabinete do ódio. Lembrei do Didi Mocó Sonrisol Colesterol Novalgino Mufumbbo: ‘vou te popotizar!’.
    Não existe ‘novo normal’, isto é mais uma criação da novilíngua. BBC tem dois Horizon (um programa) sobre o Covid. No final do século XIX ocorreu manifestações de um coronavirus. As coisas evoluíram, o vírus mudou e hoje, junto com outro, causa só o resfriado comum. Alás, existem estudos sobre estes dois ‘primos’ do Covid, não é impossível que as pessoas que tenham sido infectadas com os mesmos tenham algum tipo de imunidade contra o novo vírus. Explicaria o motivo de algumas criaturas serem imunes. Alás, noutro documentário mostraram o norte da Itália. Medico relatou o surgimento do primeiro caso, o surgimento do segundo e logo em seguida estava com 60 pacientes no hospital. Ou seja, a história não é bem a que estão contando.
    Em 2014 Molusco declarou que o julgamento do Mensalão teria sido 80% politico. Em 2016 declarou ‘Nós temos um Supremo totalmente acovardado, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado […]’. Óbvio que existem coisas piores ditas pela militância. Pergunta: acham que alguém iria (ainda mais com a rede) esquecer? Pergunta: não é ‘ataque a democracia’? Lembrei de um filme: eu sei o que vcs fizeram no governo passado.

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