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ARTIGO. Giuseppe Riesgo e a critica ao governador Leite, pelo distanciamento controlado: ‘não funcionou’

A Arrogância Fatal do Governador Eduardo Leite

Por GIUSEPPE RIESGO (*)

Em 1988, o Prêmio Nobel de Economia Friedrich Hayek publicava seu último e mais maduro livro. “A Arrogância Fatal: Os Erros do Socialismo” surgia em meio à queda do Muro de Berlim e à derrocada da União Soviética que, pós-Perestroika, libertava aquele povo da miséria e da escravidão socialista. O livro foi uma espécie de prólogo ao fim do socialismo europeu e expunha todo o equívoco e a arrogância dos modelos de planejamento central dos governos autoritários da época. Hayek, assim, consolidava suas últimas investigações sociais através do estudo do conhecimento das pessoas; àquilo que o autor chamou de ordem espontânea da sociedade.

Segundo Hayek, cada um de nós possui alguma parcela de conhecimento disposto em nosso meio. Essa parcela nunca é plena, ou seja, nós não detemos todo o conhecimento disponível na sociedade e, tampouco, podemos mensurá-lo. Além disso, do pouco conhecimento que dispomos, nada nos garante que ao utilizá-lo estaremos livres de incorrer em falhas e erros que levem nossas vidas para caminhos e destinos não planejados. Em síntese, o conhecimento da humanidade está disperso em cada um de nós, é falível e não mensurável. Assim, nós não sabemos tudo, não sabemos o quanto sabemos e não temos certeza se esse conhecimento é suficiente. Portanto, temos razoável chance de errar em nossas escolhas e demais ações, afinal, a incerteza e o erro são dados concretos da realidade e a forma mais eficiente de contornar tamanha ignorância se daria pela interação dos agentes no livre mercado. Para Hayek é dessa interação que o conhecimento humano evolui e as ordens espontâneas se desenvolvem melhor.

Foi com essa construção teórica que Hayek alertou sobre a arrogância fatal dos governantes ao considerarem dispor de conhecimento suficiente para planejar uma sociedade. Para o autor, o socialismo possuía um erro de concepção fatal. Derivado de uma má compreensão epistemológica do homem. Por isso as ideias socialistas eram impraticáveis, pois recairiam em um problema inerente de falta de conhecimento dos agentes do Estado. Afinal, o Estado é composto de pessoas sendo, portanto, falível. Só que um erro de Estado não é o mesmo que um erro individual. Quando nós erramos, poucos em nossa volta pagam a conta. Quando o Estado erra, a população como um todo sofre as consequências. Eis o principal problema do planejamento central e da engenharia social típicas de governos socialistas.

Hayek me veio em mente enquanto observava, ao longo desses meses, o modelo de distanciamento controlado do governador Eduardo Leite sendo implementado na sociedade gaúcha. Ao dividir o Rio Grande do Sul em 20 regiões, por 11 indicadores de monitoramento social e determinar ações de mobilidade socioeconômicas, o governo foi ignorando o alerta que Hayek nos legou. Ou seja, que não é possível saber as vontades, os desejos, as motivações e qual o grau de conhecimento ou resposta aos estímulos oriundos de um modelo que determina, semana a semana, o rumo dos mais de 11 milhões de gaúchos.

O resultado? Ao longo dos meses fomos observando o descrédito da população com o governo e suas regras; que não reconheciam as diversas nuances do povo gaúcho em termos individuais. Empresas, famílias, trabalhadores, cada um de nós, fomos nos incomodando especificamente com esse modelo (semanal) de controle estatal das nossas vidas. Uns simplesmente entediaram-se, outros começaram a desconfiar da eficácia das medidas adotadas, alguns pararam de temer o coronavírus e outros (talvez a maioria) simplesmente precisaram voltar a trabalhar; afinal, quando a fome bate, a economia se impõe.

Essa constatação não faz do governador Eduardo Leite um socialista. Não é esta a minha acusação ao governo atual. No entanto, é inegável que a engenharia social do modelo de distanciamento controlado não funcionou. “Nós não sabemos o suficiente sobre aquilo que imaginamos poder planejar”, alertava Hayek em seu Arrogância Fatal. Com isso, e só!, já deveríamos saber que não podemos controlar a sociedade como num teatro de marionetes. Não há modelo matemático algum que dê conta da imensidão de nossa ignorância. Ninguém pode controlar o ímpeto e o livre arbítrio das pessoas. Ninguém consegue controlar esse mundo, governador.

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

Observação do editor: a foto (de reproduçao) que ilustra este artigo é do sistema de bandeiras do “distanciamento”, dividido, hoje, em regiões no laranja e no vermelho.

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3 Comentários

  1. Não funcionou? Qual o critério? Sob que aspecto?
    A única coisa de Novo em Beppe é a idade. Hayek era economista, tem algo em comum com Marx, ambos estão mortos. Se o liberalismo clássico fosse utilizado na pandemia haveria muito mais mortes.
    Leite, Cladistone, Marchezan, todos vieram do jurídico. Pegaram um problema que há 100 anos não ocorria, logo não existia muita gente estudando ou preocupada.
    Problemas no modelo existem, mas o principal foi a falta de um PDCA. Transparência também deixou a desejar.
    Há uma questão de fundo, a diferença entre modernismo (ideologia, também aplicada nos EUA, vide a Tennessee Valley Authority ) e prática cientifica (que não tem nada a ver com alguns vendedores de banha de cobra que andam por ai, em todos os campos).
    Estudiosos americanos das ciências militares estabeleceram o prazo médio de ‘validade’ de uma guerra. Número mágico é quatro anos. Depois disto as mortes e o custo (principalmente) abalam a política no front doméstico. Depois disto qualquer exército ‘libertador’ vira um exército de ocupação. Nenhum espanto no que se ve no RS. Fator humano é bem conhecido. Talvez não na economia e no direito. Deveriam ter consultado o pessoal da gestão e da sociologia/antropologia. Gente capacitada, óbvio.

  2. Em uma semana já é o segundo que liga Eduardo Leite ao Socialismo/Comunismo. Digo que nós Comunistas não o aceitamos!

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